Periferia Trans: a luta LGBT na perspectiva das quebradas

Como é ser homossexual ou transgênero na quebrada? Para aflorar essa e outras questões, entre os dias 6 e 28 de março acontece no Grajaú a primeira edição do festival Periferia Trans, com uma programação que envolve os temas LGBT

Do Sp Ressosp

Como é ser homossexual ou transgênero na quebrada?

Para aflorar essa e outras questões, entre os dias 6 e 28 de março acontece no Grajaú a primeira edição do festival Periferia Trans, com uma programação que envolve os temas LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros).

“Tenho uma trajetória de 10 anos de teatro aqui no Grajaú junto da companhia de teatro que faço parte e agora quis envolver os temas de luta homossexual também em nossa trajetória”, explica Bruno César Lopes, ator da Cia Humbalada de Teatro e idealizador do projeto.

Para Bruno, que é morador da região do Grajaú, a importância desse festival se dá numa esfera política: “Entendo que nosso projeto é fruto de muita luta no campo LGBT. Precisamos fomentar também essas questões na periferia, juntar a comunidade LGBT do bairro para produzir pensamento, ação, disputa de espaço simbólico”, continua.

O tema dessa primeira edição é “Meu corpo é político” e tem como foco trazer a questão do corpo como uma possibilidade de resistência na cidade.

“A escolha da palavra “trans” não é à toa. Queremos discutir o conceito trans na cidade, uma atitude trans na vida, trans no sentido daquele que transgride com os modelos formatados”, explica Bruno.

Realizado com apoio do edital Proac-LGBT, o Periferia Trans reúne espetáculos de dança e teatro, shows, oficinas, debates e exibição de vídeo. As ações se dividem entre o Galpão Cultural Humbalada, Terminal Grajaú e Fábrica de Criatividade do Capão Redondo.

Entre os destaques da programação, está a MC Luana Hansen, moradora de Pirituba que participa do movimento hip hop há 10 anos para diminuir as desigualdades de gênero no rap. “Acho que, se vier mais mulheres tomando frente da coisa, a gente com certeza vai mudar um pouco a cara do rap”, diz ela.

O Coletive Friccional também está na programação. O grupo é conhecido pela polêmica performance “Contar os corpos e sorrir?”, em que colocam em sacos de lixos corpos em uma referência ao número de homossexuais assassinados anualmente. Para esta edição do Periferia Trans, o coletivo realizará a performance em frente ao Terminal de ônibus e trem Grajaú.

Outra convidada para a programação é a transexual Paula Beatriz de Souza. Paula, que é diretora de uma escola estadual na região do Capão Redondo, participará do debate “Por uma educação sexual”.

“Nesse emprego decidi pela primeira vez assumir que era mulher. Fui aprovada e hoje sou respeitada como transexual”, conta Paula.

A ação termina dia 28 de março em um sábado com o lançamento do show de Shanawaara. Alguns dos hits famosos da diva queer são “O Homem da minha vida”, primeiro samba com eu lírico assumidamente gay; “Nenhuma das anteriores”, rap que se assume como um manifesto queer; e a inédita “Jazz”, canção inspirada na vida da criança transexual Jazz Jennings.

“Acho a Periferia Trans um espaço privilegiado e delicioso para esse intercâmbio de modo que, nós artistas, possamos nos conhecer mais e pensar em novas produções. Tenho uma leve sensação de que a gente vai arrasar”, lacra Shanawaara.

Foto de capa: A diva queer Shanawaara se apresenta no encerramento do festival Periferia Trans (Paulo Henrique Sant Anna)

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