Polícia gaúcha afasta policiais suspeitos de racismo

Estudante diz que foi chamado de “negro sujo” e ameaçado por policiais

A Polícia Militar do Rio Grande do Sul afastou do serviço de rua três soldados e um sargento acusados de agredirem um universitário baiano na cidade gaúcha de Jaguarão, na fronteira com o Uruguai. Eles foram indiciados por abuso de autoridade, injúria e lesões corporais. O estudante aguarda a transferência para a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).

 

Foto: Arquivo pessoal

Negro, homossexual e nordestino, o estudante de História na Universidade Federal do Pampa (Unipampa) Helder Santos Souza, 25 anos, diz ter sido vítima de agressões e ofensas racistas por parte de policiais militares quando saía de uma festa no dia 6 de fevereiro. A repercussão do caso na imprensa local o fez deixar a cidade na semana passada. Helder entrou na universidade pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e tenta transferência para um campus da UFRB próximo a Feira de Santana, sua cidade natal.

O sargento e os três soldados envolvidos na ação foram indiciados por lesões corporais, abuso de autoridade e injúria. A sindicância da corregedoria da Brigada Militar, a PM gaúcha, foi encaminhada nesta terça ao Ministério Público Militar. Os policiais foram afastados temporariamente do serviço de rua.

Para o comandante da PM na região, coronel Flávio da Silva Lopes, os suspeitos são “bons policiais” e nunca haviam sofrido punições na carreira. Segundo a versão da polícia, a abordagem foi feita em um grupo de jovens entre os quais se encontravam “elementos cometedores de delitos contumazes”. Helder teria interferido na ação da polícia.

“Até aí, a polícia tinha 100% de razão. No momento em que ele é agredido ou discriminado, realmente não é função da polícia. A discriminação racial, ou qualquer tipo de intolerância, não faz parte do dia a dia da polícia”, justifica o comandante.

O advogado Onir Araújo, que auxilia o estudante, considera positivo o indiciamento dos policiais, mas adverte que a resposta rápida pode ser uma estratégia para encerrar o assunto. “Nos surpreendeu a velocidade desse procedimento. É positivo, mas dá a impressão de que um ‘cala a boca’ no movimento negro. A gente sabe que a situação é muito mais complexa”, afirma.

Transferência

Helder deve viajar nesta quinta para a Bahia. Na sexta, está prevista uma reunião com o reitor da UFRB, Paulo Gabriel Nacif, para acertar a transferência do estudante para a universidade. Em visita à capital gaúcha, a ministra da Igualdade Racial, Luiza Barros, disse ao iG que a transferência estava bem encaminhada.

“A Seppir [Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial] teve contato com o reitor Paulo Gabriel, ele acolheu com muito entusiasmo a possibilidade de trazer o estudante de volta para a Bahia. Neste momento, dependemos de um trâmite administrativo que precisa acontecer entre as duas universidades para que a transferência se concretize”, afirmou a ministra.

Fonte: Último Segundo

+ sobre o tema

Dissecando a Operação Vingança

A política de olho por olho, dente por dente...

Adaptação às mudanças climáticas para população negra 

A agenda de adaptação às mudanças climáticas ficou em...

Ação da ApexBrasil faz crescer número de empresas lideradas por mulheres nas exportações

Para promover mudança é preciso ação, compromisso e exemplo....

Começa hoje pagamento de R$ 200 da primeira parcela do Pé-de-Meia

A primeira parcela do programa Pé-de-Meia, no valor de...

para lembrar

O apoio turco às vítimas do racismo na Alemanha

Depois dos atentados racistas contra a famíla Yigit, na...

RS: briga entre neonazistas, skinheads e punks deixa ferido grave

MAURÍCIO TONETTO Direto de Porto Alegre Uma briga de...

Comissão diz que não houve ato ilícito da Justiça ao algemar advogada negra

Desembargador também inocentou a juíza que pediu a prisão...

São Paulo – 31 de agosto o 2º debate Crimes de Racismo ou Injúria?

O 2º debate ''Crimes de Racismo ou Injúria?'' vai...
spot_imgspot_img

Quanto custa a dignidade humana de vítimas em casos de racismo?

Quanto custa a dignidade de uma pessoa? E se essa pessoa for uma mulher jovem? E se for uma mulher idosa com 85 anos...

Unicamp abre grupo de trabalho para criar serviço de acolher e tratar sobre denúncias de racismo

A Unicamp abriu um grupo de trabalho que será responsável por criar um serviço para acolher e fazer tratativas institucionais sobre denúncias de racismo. A equipe...

Peraí, meu rei! Antirracismo também tem limite.

Vídeos de um comediante branco que fortalecem o desvalor humano e o achincalhamento da dignidade de pessoas historicamente discriminadas, violentadas e mortas, foram suspensos...
-+=