Política de JFK deu início ao fim da segregação racial nos EUA

Representante da rica e branca sociedade americana, Kennedy foi responsável pela Lei dos Direitos Civis, que pretendia dar cabo à discriminação contra negros que imperava no país

Por: Renata Tranches

No dia de seu assassinato, John F. Kennedy não estava no Texas por acaso. Ao decidir participar de um evento político ali, em 1963, ele sabia que precisava dedicar atenção especial ao estado, se quisesse conquistar a reeleição. O motivo: o projeto de lei apresentado naquele ano contra a discriminação racial que alienaria praticamente todo o Sul do país para o Partido Democrata, cuja base eleitoral estava ali. E Kennedy previu isso. Ele não assistiu à sua Lei dos Direitos Civis ser aprovada, o que ocorreu com o sucessor, Lyndon Johnson, em 2 de julho de 1964. No entanto, a iniciativa pôs fim a diversos sistemas de segregação racial nos Estados Unidos e transformou-se em um dos principais legados do presidente, ainda que a um preço muito alto para o Partido Democrata.

Representante da rica e branca sociedade americana, Kennedy amadureceu a questão dos direitos civis já no cargo de presidente, como explicou o cientista político Larry Sabato, autor de The Kennedy Half Century. “Ele não se dedicou muito aos problemas dos americanos de pele escura na maior parte da sua vida e, como presidente, apenas o fez quando as dificuldades caíram sobre sua mesa”, afirmou. Em 1963, a situação da segregação racial no país estava no limite e as demandas por mudanças batiam às portas da Casa Branca.

OUSADIA De acordo com Thomas Whalen, historiador e especialista na Presidência dos EUA, desde o republicano Abraham Lincoln (1861-1865), Kennedy foi o primeiro chefe de Estado a colocar toda a autoridade moral e legal do Salão Oval a serviço da questão dos direitos civis. “Quando você para e pensa, foi incrivelmente corajoso fazer isso nos EUA no início dos anos 1960”, disse. Até aquela época, o Partido Democrata dependida tradicionalmente de uma base política formada por estados da “velha confederação da Guerra Civil americana”, com passado escravista, como explicou o professor da Boston University. “Ao apoiar os direitos civis, Kennedy estava, de fato, colocando em risco suas próprias chances de reeleição de 1964. E ele sabia disso.”

Por esse motivo, conquistar o Texas era obrigatório para Kennedy, ante a desvantagem nas pesquisas para Barry Goldwater, pré-candidato republicano às eleições. Como o presidente previu, a aprovação da Lei dos Direitos Civis foi um golpe político para o Partido Democrata. O próprio Jonhson, ao sancionar a lei, disse que naquele momento faria com que os democratas perdessem o Sul do país. A partir de então, o mapa eleitoral americano foi alterado. A parte sul aparece dominada pelo vermelho, cor republicana, enquanto o azul se concentra apenas na costa Leste e Oeste, para onde migrou o apoio democrata.

Fonte: EM

+ sobre o tema

Lugares de Fala

Dada a avalanche da mesma argumentação pobre e rasa...

PM: “Nós ficamos sete dias de luto, vocês também irão ficar”!

A morte de um policial protagonizou uma série de...

Brasil lidera ranking de medo de tortura policial

por Rafael Barifouse Nos últimos três anos, denúncias de violência...

MP denuncia oficiais da PM por invasão a imóveis na favela Nova Brasília

Entre os denunciados está o comandante da Coordenadoria de...

para lembrar

Michele Alexander: a guerra às drogas é a nova escravidão

A neutralidade permite que se adotem práticas tão racistas...

Jogador do Cádiz é alvo de racismo no Campeonato Espanhol e repreende agressor

O zagueiro Carlos Akapo, do Cádiz, foi alvo de...
spot_imgspot_img

Não é sobre o Oscar, nem sobre uma corrida de 15km com ótimo pace

Passamos pela premiação do Oscar sem nenhuma menção direta aos incêndios de Los Angeles. Acho que, em momentos difíceis, o público valoriza o escapismo...

Miopia econômica

O avanço da onda antidiversidade e anti-inclusão (coisa que vem sendo especialmente estimulada pelos EUA) começou a surtir efeitos negativos de grande impacto no...

‘Piada’ de ministro do STJ prova como racismo está enraizado no Judiciário

Ontem, o ministro do STJ João Otávio de Noronha, em tom de "piada", proferiu uma fala preconceituosa sobre baianos durante uma sessão de julgamento. A suposta...
-+=