Por Fernanda Pompeu
Me encantam os bastidores da política e dos processos de criação. Me encanta a vida por detrás dos panos, bem como os segredos de janelas e portas fechadas. Em suma, adoro tudo o que rola longe dos holofotes e até o que não se posta no mundo escancarado das redes sociais. Outro dia, iniciei um diário e rabisquei a epígrafe: tudo o que não escrevo no Facebook.
Talvez porque aquilo que os olhos não veem, a mente inventa. A imaginação gosta de se alimentar mais de sombras do que de luzes. Pois as luzes clareiam fatos, enquanto as sombras orientam versões. Feijão com arroz é bom quando estamos à mesa, mas essa dobradinha se torna monótona quando queremos sonhar.
É para sonhar com olhos arregalados que assistimos a filmes, lemos contos e romances, ouvimos velhas e novas canções. Também é para sonhar que acompanhamos jogos na Copa do Mundo. E como ficamos felizes quando uma seleção – até então desconsiderada pela mídia esportiva – surpreende! Ou quando um desconhecido para nós, exemplo, o colombiano James Rodríguez, se revela um dos maiores goleadores.
Não há dúvida, adoramos surpresas! Melhor, amamos ser surpreendidos. Repare. Coisas surpreendentes raramente ocorrem em ambientes burocráticos, institucionais, formais. Elas vicejam mais atrás dos muros, nas periferias, nos becos, do que no centro e nas avenidas elegantes.
De repente, é preciso existir uma grande necessidade, carência mesmo, para que brote um objeto, representação, linguagem possuídos de força e emoção. Tudo certinho, tudo iluminadinho, tudo limpinho funciona bem nos hospitais. A vida em si é mais sombreada, reticente, escondidinha.
Quando eu era criança, e mesmo agora que sou uma senhora, amava parar em frente a casarões desabitados, trancados, decadentes. A Tijuca carioca, onde vivi a primeira temporada da minha vida, tinha muitos deles. Pois me punha a imaginar as histórias dos antigos moradores. Nascimentos, casamentos, separações, paixões, mortes. Todos esses grandes momentos da existência de todos nós.
O espetáculo da vida privada debaixo dos telhados, atrás das janelas, das cozinhas para dentro. Depois do carrilhão, a vitrola. Depois dos tocadores de CDs, os iPods. Pouco importa qual a tecnologia, o sussurro de hoje é igualzinho ao do remotíssimo passado. É o mesmo mistério a nos rondar.
Fonte:Yahoo