Já aviso aos mal-humorados de plantão: feminismo nunca foi um machismo de saias. Mesmo porque o machismo sempre quis o poder, enquanto o feminismo sempre quis a liberdade. Liberdade não apenas para as meninas, mas para os meninos também. Está na raiz do pensamento feminista a ideia de igualdade de oportunidades para os dois gêneros (leia-se, para os dois sexos).
Também sei que muitas jovens mulheres acreditam que o feminismo está ultrapassado. Pois, um significativo número de meninas estuda e trabalha. Coisa incomum na geração das avós e improvável para suas bisavós. Não que as antepassadas não trabalhassem. Elas davam um duro danado no assoalho, pia, tanque, fogão, tábua de passar roupa. Numa época sem eletrodomésticos.
Agora, pasmem! Donas de casa não recebiam um tostão por todo esse trabalho. Quando saía discussão em casa, o homem exclamava: “Eu mando! Porque sou eu quem trabalha”. Ops! Até hoje o trabalho doméstico segue desvalorizado e não remunerado. O que mudou é que ele não é mais exercido 24 horas por dia.
A maioria das mulheres deixa para lavar o roupeiro no sábado e reserva o domingo para dar um trato na casa. Em razão de segunda a sexta, das 9h às 18h, elas estarem ralando nos empregos. E, à noite, muitas estudam para melhorar nesses empregos. A maioria dos homens também rala, mas nos finais de semana eles apenas dão uma forcinha para suas mulheres. Os mais bacanas, é claro.
As feministas cunharam o nome de dupla jornada de trabalho para essa situação. É fato que existem mulheres que não se importam com isso. Algumas gostam do título de mulher maravilha – aquela que é capaz de ser, ao mesmo tempo, profissional, dona de casa, mãe, esposa. Mas creio que até elas prefeririam ter um tempinho de lazer e reflexão para si mesmas.
Quando eu era menina, sonhava em ser marinheira. Eu adorava o mar e tudo o que se relacionava a ele. Foi um sonho lindo e curto, porque rapidamente descobri que mulheres dificilmente entravam na marinha mercante. Poderíamos ser professoras, enfermeiras, secretarias, vendedoras de cosméticos. Aspirações mais livres e altas eram para os meninos. Fiquei bastante frustrada em ser de um sexo com tantas interdições.
Mais tarde, compreendi que a mensagem do feminismo se contrapunha às barreiras e às catracas impostas às mulheres. Será verdade que nos dias que correm toda menina poderá ser o que sonhar? Toda mulher pode levar mesmo a vida que quiser? Tenho minhas dúvidas. Enquanto dúvidas houver, sou feminista.
Fonte: Yahoo