De cada 100 pessoas que entraram na classe C nos últimos 10 anos, 75 são negras e 25 brancas, segundo estudo da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e do Instituto Data Popular. Só os negros movimentaram R$ 760 bilhões em 2012. Sebastião Lourenço Silva, o Lourenço, como gosta de ser chamado, faz parte desse contingente. Em seu atelier em Olhos D’Água, Goiás, fez do ofício de ceramista sua fonte de renda familiar. Tímido, olhar doce, manuseia o barro com tanto vigor e personalidade que dá vida a figuras de cores e expressões fortes. As marcas no rosto e nas mãos revelam que ele passou por muitas dificuldades antes de assumir que seus talento e sensibilidade ímpares valem dinheiro. Precisou suar muito na lavoura.
“Não tive incentivo algum. Ouvia até aqui dentro de casa frases como: ‘vamos morar de quê, vamos comer o quê se o dinheiro não entrar?’ Hoje, tenho tanta encomenda que passo vergonha quando não dou conta”, orgulha-se. A renda, que era de cerca de dois salários mínimos, aumentou. “Em datas como Natal e ano- novo, as pessoas aproveitam o extra para enfeitar a casa”. Ainda assim, Lourenço está preocupado. Depende da produção majoritária de peças para jardinagem. Porque vendem mais rápido. Afastou-se do lado artístico, aquele que cria sem intenção de consumo imediato.