O advogado e oficial negro do Exército, Mário Soares, conhecido como capitão Marinho, que lançou recentemente o livro Exército na segurança pública: uma guerra contra o povo brasileiro, me ligou agora do Rio Grande do Sul informando que está preso no 3º. Batalhão Logístico do Exército, em Bagé, no Rio Grande do Sul.
Meu ex- colega do Mestrado em Ciências Penais, na Universidade Cândido Mendes, Marinho, há menos de um mês, em jornais de Salvador e do Brasil, durante o lançamento de seu livro, fez duras críticas sobre a presença do Exército no combate à criminalidade. No lançamento de sua obra, compareceram figuras importante do movimento negro de Salvador e do Brasil.
A insistência de Marinho em discutir criticamente a presença do Exército na segurança pública e também relações raciais na tropa têm lhe custado fortes dissabores. Em primeiro lugar, foi transferido para Bagé, no extremo sul do Brasil. Anteriormente, ele servia no Rio de Janeiro. Mesmo assim, de Bagé, ele denunciou a Biblioteca do Exército por ter lançado com dinheiro público o livro Não somos racistas, do jornalista Ali Kamel, que combate as políticas de ações afirmativas em prol da comunidade negra brasileira.
Vejam algumas conclusões a respeito do Exército na Segurança Pública escritas pelo capitão:
{xtypo_quote}A desmilitarização nas atividades policiais é imprescindível para um policiamento eficiente e legal. Os armamentos adotados pelos militares têm capacidade de perpassar e destruir várias pessoas, pois os militares têm na força de seus armamentos a condição única de sua existência. Reza o Protocolo da ONU – sobre o uso de armas pelos guardiões da lei – que o emprego da arma de fogo em atividades de segurança deverá ser sempre comedido e na proporção do delito. Logo, a atividade de segurança pública desenvolvida pelo Exército é uma afronta ao Estado Democrático de Direito.{/xtypo_quote}
{xtypo_quote}Os militares são treinados para empregar a força de forma indiscriminada; alheio à situação bélica do inimigo, seu objetivo é fazer com que o inimigo aceite sua vontade pelo medo da força excessiva que o ameaça. Por isso, os militares têm a truculência como atributo inerente à profissão e a personalidade desenvolvida e cultuada nos quartéis é de agressividade, destemor à morte e de eliminação do oponente a qualquer custo. Ou seja, querer que os militares do Exército empreguem a força somente se necessário e de forma comedida, como devem ser as ações policiais em um Estado Democrático de Direito é a mesma coisa de querer criar uma onça como um gatinho de estimação, é contrariar a natureza. Os militares do Exército são treinados para não ter compaixão, para beber o sangue do inimigo como se bebe um copo de água gelada em uma tarde quente de verão.{/xtypo_quote}
{xtypo_quote}(…) o preparo do Exército para desenvolver ações de Polícia enfraquece a Defesa Nacional, pois o preparo para estas ações faz com que a Força Terrestre fique estagnada na preparação para defender a Pátria, colocando em risco a soberania brasileira; e, por fim, quem estará na frente dos canos dos fuzis e dos canhões dos militares, quando estes estiverem atuando na Segurança Pública, são os seus compatriotas. Ou seja: será uma guerra contra o povo brasileiro!{/xtypo_quote}
Fonte: Lista de Discriminação Racial