Prioridade para mamografia acima dos 50 ainda gera polêmica

Por: Aline Valcarenghi – Repórter da Agência Brasil

Entidades médicas e Ministério da Saúde permanecem num impasse quanto à idade recomendada para o rastreamento do câncer de mama por meio da mamografia. Em 2013, contrariando lei que dava acesso ao exame para mulheres a partir dos 40 anos, portaria do Ministério da Saúde baixou a faixa prioritária, fixando-a entre 50 e 69 anos.

Em audiência pública na Câmara dos Deputados para debater o assunto, o representante da Sociedade Brasileira de Mastologia, José Luís Francisco, disse que a mamografia deve ser feita anualmente em todas as mulheres depois dos 40 anos. Enquanto isso, o Instituto do Nacional de Câncer recomenda o exame a cada dois anos em mulheres entre 50 e 69 anos. As mulheres com menos de 50 anos podem fazer o exame pela rede pública, mas, para isso, precisam ter histórico familiar ou sintomas.

Francisco ressaltou que o câncer de mama em mulheres mais jovens normalmente é mais agressivo. “[A portaria] é uma questão monetária, e não científica], disse o médico. Segundo ele, é fundamental diagnosticar e agir contra o câncer de mama enquanto ainda não se pode perceber o nódulo com o autoexame.

O presidente do Conselho Científico da Federação Brasileira de Entidades Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama, (Femama), Ricardo Caponero, considera o diagnóstico precoce fundamental para a sobrevida da paciente. “Não tem dúvida de que o diagnóstico precoce traz sobrevida.”

Caponero citou pesquisa feita em Goiânia, segundo a qual 27% dos casos de câncer de mama ocorrem entre os 41 e os 50 anos de idade. De acordo com a pesquisa, casos da doença aos 50 anos giram em torno de 57%. “Se fizermos mamografia só a partir dos 50 anos, estaremos cobrindo 60% da população e deixando 40% descobertos. Lembrando que os 40% são mulheres mais jovens, que ainda têm filho para criar, o que gera um impacto social muito maior”, ressaltou Caponero.

Para Patrícia Sampaio, representante do Ministério da Saúde na audiência, não há evidências de que o rastreamento do câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos reduza a queda da mortalidade. “O que levou o ministério a editar essa portaria não foi dinheiro, foi uma questão técnica de alta mortalidade por câncer de mama, que pode ser reduzida se a mamografia for feita na faixa etária correta.”, disse Patrícia. Ela acrescentou que só se pode instituir um programa de rastreamento em qualquer área se houver evidência científica clara de que ele vai trazer benefício à população.

Segundo estudo apontado por Patrícia, o diagnóstico precoce em mulheres com menos de 50 anos não altera o tempo de vida da paciente. Ela destacou que a queda da mortalidade na faixa etária prioritária para o Ministério da Saúde ainda é baixa, porque o sistema de saúde continua fazendo muitas mamografias em mulheres de outras faixas etárias.  “Temos de fazer o exame na faixa prioritária, reduzir a mortalidade, e só depois discutir a questão da faixa etária”, afirmou.

Lourdes Rodrigues foi diagnosticada com câncer de mama aos 37 anos. “Eu percebi que tinha um caroço no meu seio, e consegui fazer o teste no trabalho do meu marido, que tinha recebido um aparelho novo de mamografia e precisava de alguém para testar”. Lourdes precisou fazer esvaziamento da axila e retirar a mama.

Passados dez anos, hoje ela faz parte do grupo Recomeçar, de mulheres que passaram por essa situação. “A maioria das mulheres do grupo teve câncer de mama com menos de 50 anos – muitas, como eu, com menos de 40. É muito difícil ver uma portaria como essa diminuindo as chances de mulheres como eu sobreviverem”, lamentou Lourdes.

 

 

 

Fonte: Agência Brasil 

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