Professor da USP tenta impedir ato de apoio a funcionário agredido no Carrefour

Fonte: Jornal Ìrohin

Vaias e discussões marcaram manifestação e expressaram desaprovação com a atitude do docente

Por Diana Clara Condá*

O evento transcorria bem na noite da quinta-feira (10/09), no espaço aquário de história da USP (Universidade de São Paulo). Falas embasadas combatiam o ato de racismo contra o funcionário da universidade que sofreu violência racial no supermercado Carrefour Januário Santana. De repente, um segurança se aproximou, falou algo no ouvido de um dos organizadores do ato e saiu.

 

Tempos depois, um professor da USP, que, segundo alunos, ministra aulas no curso de geografia, apareceu na passarela que liga os prédios de história e geografia e começou a gritar: “Estou dando aula, baixem o som!!!”. Os cerca de 300 alunos que participavam do ato desaprovaram a atitude do docente e começaram a vaiar.

 

A confusão durou alguns minutos, até o professor desistir e voltar à sala. As falas de ativistas sociais como Mara Punho Preto (Pão e Rosas), Doulas Belchior (Uneafro) e Maria José Menezes (Sintusp), além dos professores Kabengele Munanga e Dennis de Oliveira, continuaram.

 

“Esta atitude do professor representa a postura da USP com assuntos relacionada aos negros”, diz a estudante de lazer e turismo da USP, Thais Fernanda Avelar. Ela afirma que por diversas vezes presenciou manifestações e até mesmo festas no mesmo local e com som mais alto do que estava o propagado no ato a favor do Januário e nenhum professor reclamou.

 

“Balada pode, ato político, não”, protestou.

 

A estudante revela a vontade de organizar uma semana de discussão sobre a temática racial na USP, mas diz esperar adverdidades. “Se duas horas de debate sobre racismo incomodou, imagine uma semana. De qualquer forma, estamos aqui para incomodar mesmo, só assim eles nos vêem”, declarou.

 

Outro que avalia a importância do acontencimento na universidade é o estudante de história, Marcelo Vitale. Assim como Thaís Fernanda, Vitale declara que não existe discussão de racismo na USP. “Vejo que este ato teve a adesão de estudantes e funcionários da USP porque todos têm interesse no tema”. Além de fomentar o debate sobre racismo na universidade, o estudante sugere a abertura da temática para além da academia, porque ele avalia que o caráter da discussão é político.

 

Para a integrante do Movimento de Mulheres Pão e Rosas (SP), Mara Punho Preto, o caso do servidor público Januário reflete que a democracia racial no Brasil é uma farsa. “Vivemos numa democrcia, mas os chicotes continuam estalando para o nosso lado”.

 

Onijá diz acreditar que a solução para o problema do racismo no Brasil é coletiva. A ativista também reforça a importância dos movimentos sociais unirem forças para avançar nas conquistas. “Não devemos ter a ilusão de que o Estado vai resolver nossos problemas, temos que lutar para conquistar mais avanços”, incentiva.

 

Mesmo com o tumulto inicial, Maria dos Remédios Santana, esposa do funcionário da USP agredido no Carrefour, avalia positivamente a atividade. “Foi um ato de solidariedade a meu marido e a outros que passaram por situação parecida. Essas pessoas estão levantando o astral do Januário”, disse Maria dos Remédios completando que o marido está abalado emocionalmente e ainda não passou por atendimento psicológico.

 

*Jornalista (BA), aluna do Programa de Pós -Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), coordenadora de imprensa do Instituto de Mídia Étnica (IME).

 

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