Projeto Asas desenvolve lideranças nas periferias

Diante da dificuldade que o Brasil tem de criar condições para a formação de um ambiente de lideranças com diversidade racial, perpetuando a desigualdade pela não inserção de negros e negras nos espaços de tomada de decisão, a Fundação Tide Setubal desenvolveu a Plataforma Alas (Apoio ao Desenvolvimento de Lideranças Negras). Uma de suas estratégias, Projeto Asas, acaba de ser lançada na zona leste de São Paulo, e será realizada no Jardim Lapena, onde a Fundação está presente há anos com o Galpão ZL, um espaço de inovação, cultura e empreendedorismo. A proposta nasce com o intuito de despertar o interesse no conhecimento e no exercício da liderança em adolescentes e jovens das periferias.

Uma característica marcante das áreas periféricas das grandes cidades é a relação das juventudes com o mundo do trabalho. Para os jovens negros brasileiros de origem periférica, a entrada precoce no trabalho é, muitas vezes, a única alternativa. Segundo dados de 2015 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 44% dos jovens começam a trabalhar ainda com 14 anos. Na maioria das vezes, a ocupação que conseguem é informal, precário e paga pouco.

Para Marcelo Ribeiro, coordenador de Prática de Desenvolvimento Local da Fundação, “a gente precisa desenvolver uma qualificação para a inserção no mercado de trabalho, de forma a fomentar nas juventudes a compreensão do seu lugar na cidadania ativa e dar a elas uma nova dimensão sobre o trabalho.”

A estratégia visa romper com esses ciclos de exclusão das famílias periféricas e alimentar novos sonhos e perspectivas de jovens negros, para que eles possam, no futuro, assumir espaços de liderança em diferentes segmentos da sociedade. Durante sete meses, 20 jovens selecionados pela Fundação e a Associação Vida Jovem receberão uma bolsa mensal de R$ 500 e passarão por atividades que contemplam jornadas formativas, vivências culturais e curso de idiomas. Essas ações os provocarão a pensar também na melhoria do bairro onde vivem.

Uma estratégia dentro de uma Plataforma

O Projeto Asas é uma estratégia dentro de uma ampla plataforma colaborativa criada pela Fundação Tide Setubal, denominada Alas, cujo desejo é formar e fortalecer lideranças negras no Brasil. Isso porque o país é um dos mais marcados pela escravidão, que esteve vigente em solo nacional entre os séculos 16 e 19. Nenhum outro lugar do mundo recebeu tantas pessoas africanas escravizadas: foram cerca de 3,9 milhões de pessoas, mais de 12 vezes o total de africanos levados à força para os EUA, por exemplo.

Este passado colonial deixou fortes marcas até hoje. Embora mais da metade (54%) da população seja negra – formada por pretos e pardos, segundo classificação do IBGE -, o racismo estrutural se apresenta das mais diversas formas em dinâmicas identitárias, de relações sociais e institucionais. Apesar do avanço recente das políticas de ação afirmativa, apenas 35,4% dos jovens negros chegam ao ensino superior.

Nesse contexto, criar um ambiente em que possam surgir lideranças negras passa não apenas por garantir condições de formação, mas também por um processo de reencantamento do sentido do trabalho para pessoas negras. A plataforma será, então, voltada à atuação em três frentes:

  • Nos territórios periféricos, por meio do Projeto Asas;
  • Desde a articulação de oportunidades para pessoas negras de origem periférica a cursos e programas de formação de lideranças no setor privado, gestão pública, carreiras jurídicas e de magistério e liderança política, com a estratégia Elos;
  • Nas articulações de reconhecimento e apoio financeiro para lideranças negras aprimorarem suas habilidades e competências nas áreas de política institucional, empreendedorismo, carreira corporativa e ações sociais, culturais e/ou artísticas, por meio do Edital Caminhos.

Para Viviane Soranso, coordenadora do Programa Raça e Gênero da Fundação, a Plataforma Alas é “a oportunidade de rompermos com esse ciclo de exclusão da população negra, que dificulta o seu acesso a cargos de responsabilidade e de melhor remuneração e, consequentemente, impede a mobilidade social e a formação de novas lideranças.”

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