Proposta de Geledés para empoderamento da mulher negra é retomada na ONU

Artigo produzido por Redação de Geledés

Peritas das Nações Unidas, durante a Cedaw, acatam trechos de relatório elaborado pelo instituto

Geledés – Instituto da Mulher Negra, em fala conjunta com as organizações Coalizão Negra por Direitos, Criola e Coletivo Danêji, conseguiu obter bons resultados na Convenção pela Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW), que se encerrou na última sexta-feira, 24, após quatro dias de encontro na sede das Nações Unidas, em Genebra, na Suíça. A Convenção é o mais importante instrumento internacional de direitos humanos para a igualdade de gênero e promoção dos direitos das mulheres.

Neste ano, o Brasil foi sabatinado nas Nações Unidas, em uma avaliação sobre como o país se encontra na situação dos direitos de meninas e mulheres. Um relatório é produzido, com as devidas contribuições da sociedade civil, inclusive com a participação de Geledés e as organizações mencionadas acima. Com base no documento aprovado, o comitê da ONU realiza recomendações ao Estado brasileiro, avaliando, inclusive, aspectos gerais relacionados à igualdade de gênero.

Por meio de um relatório cuidadosamente elaborado e apresentado na ONU, Carolina Almeida, representante de Geledés nesta convenção, destacou oralmente à responsável pela relatoria do Brasil, a mexicana Letícia Bonifaz Alfonso, a lógica racista e sexista de desvalorização, exploração e marginalização das mulheres negras que se perpetua no país.

“Essa lógica sustenta continuamente todo um sistema socioeconômico e político que garante vantagens sistêmicas para a branquitude e desvantagens para a população negra, especificamente as mulheres negras. Essa dinâmica, perpetuada ao longo dos séculos, está profundamente enraizada nas instituições brasileiras e é constantemente atualizada e reforçada por meio de mecanismos políticos que impedem as mulheres negras de acessar seus direitos”, afirmou Carolina.

Sobre o sistema de acesso à justiça, Carolina ainda foi mais enfática ao frisar que as barreiras para as mulheres negras são ainda maiores, resultando em uma representação desproporcionalmente baixa das mesmas nos processos judiciais e decisões legais. “Esses aspectos foram perpetuados pelo projeto de exclusão, marginalização e invisibilidade deliberada das mulheres negras na sociedade brasileira e ainda são reforçados por ele. Nesse sentido, o empoderamento econômico e político é uma das formas mais eficazes de nos inserir, mulheres negras, nos processos de tomada de decisão, ajudando a subverter o atual cenário de múltiplas desigualdades que sofremos”, disse ela.

Carolina Almeida, novamente por meio de farta documentação, endereçou à perita responsável pelo Brasil as demandas urgentes que devem ser cobradas do Estado brasileiro. São elas o comprometimento com a implementação de políticas públicas que  promovam o acesso igualitário ao crédito e financiamento para as mulheres negras; os investimentos em programas de capacitação profissional e educacional que atendam às necessidades das mulheres negras; a inclusão de mulheres negras nos espaços de decisão econômica, através de incentivos fiscais para empresas que adotem políticas de diversidade e inclusão, garantindo a presença de mulheres negras em posições de liderança e gestão; e por último, a criação de cotas e programas de mentoria específicos para mulheres negras em setores estratégicos para a facilitação de sua ascensão a posições influentes. No final da convenção, foram identificadas as principais orientações de Geledés nos relatórios das peritas da ONU, que retomaram a proposta de empoderamento econômico das mulheres negras destacada pelo instituto.

+ sobre o tema

Valor mapeia ações de Geledés em prol do empoderamento econômico de afrodescendentes

Valor Econômico publicou, nesta terça-feira 30, uma matéria exclusiva...

“O dia 25 de julho é um marco de luta para as negras”

por Kátia Mello Em sua quinta edição, é possível dizer...

para lembrar

“O Rio está farto de GLOs, ocupações e intervenções militares”, diz ex-secretário de Segurança Nacional

Luiz Eduardo Soares, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública na...

Fórum em Barbados discute as grandes temáticas do feminismo negro 

“O que o poder do feminismo negro significa hoje?”....

Negros no mundo corporativo

A Gerente de Negócios Camila Ramos fala sobre sua experiencia trabalhando em grandes empresas e como a politica de diversidade não contempla todas as...

A comissão em prol da vida

Ex-ministros de vários governos e ativistas de direitos humanos lançam em São Paulo a Comissão Arns para monitorar as violações contra os direitos humanos,...

“Há uma lógica racista do Estado brasileiro com as comunidades quilombolas” diz Danilo Serejo

Uma terrível ameaça de despejo acontece contra 800 famílias de 30 comunidades quilombolas do município de Alcântara, no Maranhão, com a determinação do governo...
-+=