Qualquer um de nós sabe – ou um dia saberá – que não importam os caminhos, mas o caminhar. Dito de melhor forma, um caminho não significa nada se a gente não passar por ele. O poeta espanhol António Machado (1875-1939) sintetizou isso em versos brilhantes: “Caminante, no hay camino. Se hace camino al andar.”
Quando eu era adolescente, há anos-dinossauros, uma professora de português – cujo nome a memória apagou, mas não o conselho – disse: “Para escrever, você deve criar seu próprio caminho. Não adianta copiar o dos outros.”
Na época, compreendi mais ou menos o recado. Naquele então, eu achava que os caminhos eram públicos e qualquer pessoa podia transitar por eles. O que é verdade para as estradas, picadas, ruas, calçadas e até becos.
Mas o caminho ao qual a professora se referia não se assenta sobre grama, terra batida, cimento, areia, asfalto. Para construí-lo é preciso material de dentro: tempo vivido, histórias nossas e dos outros, livros lidos, filmes vistos, folhas de rascunhos sem fim.
Repensando, nem existe caminho no singular. O que trilhamos é plural. Pois vamos para frente, recuamos, retornamos, pegamos atalhos. Às vezes, dá em algo que gostamos. Outras, dá em nada e nos obriga a recalculamos uma nova direção.
No fundo, nunca paramos o desejo de pedalar. Cada qual atrás do seu parto, ponto, porto. Para alguns o caminho é o trabalho, para outros é a vida pessoal. Há quem sue as palmas dos pés para obter o autoconhecimento, há quem corra para aonde a grana está.
A descoberta é que não adianta tentar copiar o caminho do homem mais rico. Nem funciona tentar repetir o caminho da mulher mais sábia. Procure na biografia deles e você encontrará que, em algum momento de vida, eles inventaram caminhos próprios.
Daí você conclui que terá que caminhar seu caminho. Mas não esqueça de levar muita vontade e água. Provisões de alimento e entusiasmo. Régua e compasso ajudam, mapas e roteiros também. Mas o que não pode mesmo faltar é o seu medo e a sua coragem.
Fonte: Yahoo