A presença do SCORE (Solidarity Council on Racial Equity) da Fundação Kellogg em Salvador não foi apenas uma visita institucional — foi um marco simbólico e estratégico para o Brasil. Em um país onde a desigualdade racial é tão profunda quanto naturalizada, receber uma delegação internacional de lideranças negras e aliadas, reunidas em torno da equidade racial, é sinal de que há um movimento global atento, propositivo e comprometido com as reparações históricas e a construção de novos futuros.
Durante 4 dias, caminhamos entre territórios sagrados como o Rosário dos Pretos e a Casa Branca do Engenho Velho, espaços que resistem há séculos às tentativas de apagamento. Dialogamos com lideranças de comunidades quilombolas, terreiros, universidades e organizações sociais. Cada momento foi um espelho do que o Brasil é e do que ainda pode se tornar. O que estava em pauta não era apenas a denúncia da desigualdade, mas a celebração da potência que emerge da resistência e do ativismo que o Brasil tem confrontado ou ignorado ao longo do tempo.
Sob a liderança do professor Hélio Santos — um dos maiores intelectuais e ativistas do nosso tempo —, essa agenda articulou espiritualidade, economia, memória e política pública. Como assistente dele nessa missão, pude ver de perto o quanto somos capazes de construir pontes onde antes havia muros. E isso não é metáfora: é o trabalho diário de quem insiste em transformar dor em política, ausência em presença, exclusão em potência coletiva.
A vinda do SCORE reacende perguntas fundamentais: que Brasil queremos? Que papéis devem assumir empresas, governos e sociedade civil diante da persistência do racismo estrutural? E, mais importante, como podemos fazer do combate à desigualdade racial uma prioridade transversal, concreta e não apenas simbólica que nos traga de fato dignidade econômica?
Não se trata de importar soluções prontas, mas de ampliar o diálogo internacional, reconhecer as iniciativas locais e fortalecer um projeto comum de humanidade. A presença do SCORE em Salvador é um chamado: para pensarmos políticas afirmativas mais ousadas, investimentos com responsabilidade racial, e ações de reparação que saiam do campo do discurso e impactem vidas.
A equidade racial não é uma utopia e a população negra vem sinalizando isso globalmente. Ativistas das diversas vertentes vem ao longo dos tempos, sinalizando que equidade racial é um projeto político social e econômico possível. E quando o futuro bate à porta, como fez com a visita dos ativistas do SCORE, temos o dever histórico de abrir caminhos.
Luciane Reis é publicitária, Lidere acelerada do Fundo Baobá, pesquisadora da área econômica e racial, com atuação na formulação de políticas de desenvolvimento econômico com foco na equidade racial. Foi assistente do professor Hélio Santos nesta visita do SCORE Kellogg ao Brasil.