Fonte: Folha de São Paulo –
É possível que o Rio de Janeiro tenha tido um governador gay. Ou um prefeito gay. Mas nenhum deles compareceu tão efusivamente a uma das 14 edições da parada do orgulho gay como fizeram no domingo o governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes.
Interesse eleitoral? Muito provavelmente, mas isso não é suficiente para manchar o apoio institucional no combate ao preconceito. Políticos jovens, Cabral e Paes tentam pautar sua agenda por temas modernos, não temendo indispor-se com fatias conservadoras. Parece pouco, mas não é.
“Eu sou homofóbico”, escreveu o goleiro polonês Arek Onyszko em livro autobiográfico recém-lançado. Ontem, o FC Midtjylland, da primeira divisão do futebol dinamarquês, demitiu-o em razão da declaração intolerante. Onyszko não parece flor que se cheire. Jogava com uma tornozeleira eletrônica, destinada a condenados em regime aberto, por ter sido sentenciado a três meses de prisão por agredir sua mulher.
Não se trata de um exemplo incomum de homofobia. As torcidas adversárias do São Paulo a cada jogo fazem coro para Richarlyson, chamando-o de “bicha e veado”. Já aconteceu vezes e mais vezes.
Que atleta, técnico ou dirigente saiu publicamente em sua defesa? Que jornal registrou indignado a agressão? Quem achou que seria relevante condenar esse ataque, como é comum em caso de erro da arbitragem ou das brigas entre torcidas? Só algumas exceções-entre elas um blogueiro de 15 anos- que confirmam a regra.
Cada um sabe o peso existencial de sair do armário; é um exercício de liberdade individual. Mas é parada dura conter quem acha que pode esmurrar a porta em nome de uma macheza que não se sustenta em pé.