“Não imagino o meu filho morto, não. Não vi o corpo dele. Mas imagino que ele não está bem, sofrendo em algum lugar, na mão de gente estranha. Eu quero meu filho de volta de presente de Dia das Mães. Está faltando um pedacinho de mim.”
No dia 27 de dezembro do ano passado, Lucas Matheus, de 8 anos, Alexandre da Silva, de 10, e Fernando Henrique, de 11, saíram para brincar no campo de futebol ao lado do condomínio onde vivia, no Castelar, favela de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Nunca mais voltaram.
Tatiana da Conceição Ribeiro, que está passando seu primeiro Dia das Mães sem Fernando Henrique ao seu lado, explicou à coluna, na manhã deste domingo (9), que a resposta da polícia é sempre a mesma: estão investigando, mas não há nenhuma pista do paradeiro dos três.
“Meus outros dois filhos, um de cinco anos e outro que vai fazer dois anos, estão aqui comigo hoje. O de cinco pergunta onde está o irmão para brincar com ele”, afirma Tatiana. “Está triste.”
As famílias dizem não receber informações da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense, responsável pela apuração do desaparecimento.
Além do silêncio sobre o caso, os movimentos negros e entidades de defesa dos direitos humanos, entre elas Criola, Conectas Direitos Humanos, Instituto Defesa da População Negra, Iniciativa Direito a Memória e Justiça Racial e Justiça Global, cobram do governador Cláudio Castro (PSC), do presidente do Tribunal de Justiça do Rio e do Ministério Público a razão de a investigação policial ter desprezado imagens das crianças que, depois, foram encontradas pelo MP-RJ.
E questionam qual seria a resposta do poder público caso os três meninos negros não morassem em Belford Roxo, mas em bairros nobres do Rio. E fossem brancos.
Após a Chacina do Jacarezinho, quando 28 pessoas, entre elas um agente de segurança, foram mortas devido a uma operação da Polícia Civil, nesta quinta (6), há o temor entre organizações que acompanham o caso que os meninos de Belford Roxo sejam ainda mais esquecidos. Ou seja, que cumpra-se o padrão de que uma nova tragédia soterre a antiga sem que seja dada uma resposta às famílias e à sociedade.
“Eu e as outras duas mães queremos nossos filhos de volta. E também o pai de criação dele, meu marido. Nossa vida parou depois do desaparecimento. Ele trabalha em obra e perde serviço porque está preocupado, tentando descobrir o que houve”, afirma Tatiana.
“Espero que, pelo menos, no Dia dos Pais, ele ganhe esse presente.”