Racistas são os outros

Odair Rodrigues

 

Segundo o pensamento da elite brasileira, o racismo foi inventado no momento em que foram aprovadas as primeiras políticas públicas de ação afirmativa contra a discriminação racial. As leis Afonso Arinos e 7437/85, as cotas para universidade, cuja pioneira foi a UERJ, a lei 10639/03 e atualmente o Estatuto da Igualdade Racial, provocam uma crescente reação tão violenta quanto hipócrita nos porta vozes da Casa Grande.
No Paraná, o jornal Gazeta do Povo vinculado às empresas Globo, no editorial de 20/09/09, faz um malabarismo verbal para se afirmar contra o racismo e simultaneamente contra o Estatuto da Igualdade Racial. Afirma categoricamente que “Á medida que concede direitos, por motivo exclusivamente racial, a uma camada da população, ocorre cerceamento ao direito de outras. No fundo, representa a própria “legalização” do racismo.” ou seja, nunca houve racismo no país.

O componente sócio-econômico é usado para justificar a exclusão, por mais de 100 anos republicanos, da grande parcela de negros do país. Há reconhecimento dessa realidade mas nunca explicam como ou o porquê. Nessa situação, fica sugerida a incapacidade dos negros e descendentes de ascender socialmente, e os raros que conseguiam ou eram cooptados pela ideia de “democracia racial” ou silenciados quando discordantes.

Hoje, cada vez mais afrodescendentes assumem sua identidade, e isso incomoda.

Racismo de Estado

Em sua dissertação de mestrado “Racismo na Educação: Estratégia do Estado e uma Possibilidade de Superação” defendida pela PUC-SP em 2009, o professor Maurício Pereira demonstra que o Estado republicano criou um aparato legal para oficializar o racismo.
Não há ocaso, além das opiniões, há uma forte política racista ao longo da República.

Maurício Pereira concentrou sua pesquisa fundamentalmente na educação, mas seu texto aponta para os mecanismos de exclusão econômica, cultural e intelectual dos negros brasileiros, em particular os paulistas.

Hipocrisia do PIG

O PIG saudou a eleição do negro Barack Obama à presidência dos EUA, exibiu documentários sobre a luta pelos direitos civis dos negros estadunidenses, celebrou Abrahan Lincon e Martin Luther King, cujo discurso I have a dream foi repetido à exaustão. Simultaneamente, escreviam contra o ministro Orlando Silva, fato tratado em artigo aqui no portal Vermelho.

A tentativa de silenciar o antropólogo e professor da USP, Kabengele Munanga , os manifestos contra as cotas, a criminalização dos movimentos sociais, a difamação contra os quilombolas, a encenação da”democracia racial” nas novelas da Globo, entre outras atitudes, são revestidos como liberdade de opinião, manutenção da ordem mas nunca de racismo.

Racistas são os outros.

Matéria original

+ sobre o tema

Quilombolas vencem eleição para prefeito em 17 cidades

Candidatos que se declararam quilombolas venceram as eleições para...

Saiba quem são os 55 vereadores eleitos para a Câmara Municipal de São Paulo em 2024

Os moradores de São Paulo elegeram 55 vereadores neste...

Constituição, 36 anos: defender a democracia

"A Nação quer mudar. A Nação deve mudar. A Nação...

A cidadania vai além das eleições

Cumprido ontem o dever cívico de ir às urnas...

para lembrar

Balbúrdia e fascismo: como o governo Bolsonaro sucateou a educação

Em 2016, quando eu era professor de uma escola,...

Veja quais são as 15 famílias mais ricas do Brasil

Por iG São Paulo Juntas, as fortunas somam cerca de...

Universidade Federal do Rio de Janeiro pode eleger o seu primeiro reitor negro em 103 anos de fundação

O coletivo de docentes negros da UFRJ resolveu apresentar...

Obama sobre Trump: Comandar o país não é como apresentar ‘reality show’

"Eu continuo a acreditar que o senhor Trump não...

Eleições municipais são alicerce da nossa democracia

Hoje, 155,9 milhões de eleitores estão aptos a comparecer às urnas e eleger seus prefeitos e vereadores. Cerca de 400 mil candidatos, sendo 13.997...

Eleição: Capitais nordestinas matam 70% mais jovens que Rio de Janeiro

As capitais nordestinas matam cerca de 70% mais jovens do que a cidade do Rio de Janeiro, que costuma estar nos noticiários com cenas...

Cresce número de empresas sem mulheres e negros em cargos de direção, mostra B3

A presença de mulheres e pessoas negras em cargos de direção em empresas listadas na bolsa brasileira regrediu em 2024, em comparação com o...
-+=