Grupos minoritários quando se trata de poder (mulheres, negros, LGBT, indígenas, pobres, migrantes nordestinos nos grandes centros do Sul/Sudeste) são alvos constante de um certo tipo de humor duvidoso que privilegia o insulto, o preconceito, a humilhação.
Por Conceição Oliveira
Semana passada em entrevista à revista Rolling Stone Brasil Rafinha Bastos declarou que ‘mulheres feias’ deveriam agradecer caso fossem estupradas, afinal os estupradores estavam lhes fazendo ‘um favor’, uma ‘caridade’.
Hoje, mais uma vez, os ‘humoristas’ do CQC ocuparam as redes sociais e a mídia impressa. Desta vez com uma piada anti-semita feita por Danilo Gentili no twitter. Diante da reação nas redes e certamente da mobilização da comunidade judaica, Danilo Gentili não apenas apagou seu tweet anti-semita como pediu desculpas públicas à comunidade judaica. A ‘gracinha’ anti-semita de Danilo Gentili também gerou reação em cadeia de seus seguidores preconceituosos. É a geração CQC mostrando seu aprendizado ao insulto.
Embora não tenhamos tido o prazer de ver Danilo Gentili sequer pedir desculpas à população negra por suas piadas racistas (nem apagar seus respectivos tweets), não deixa de ser alentador o fato de ele ter de se render a uma comunidade organizada e com o poder de pressão como a judaica.
E quanto a Rafinha Bastos será que o veremos se retratar por suas piadas de mau gosto, ofensivas às mulheres e de apologia ao estupro?
A Secretaria Especial de Políticas para Mulheres publicou ontem uma nota de repúdio às piadas de apologia ao estupro do Rafinha Bastos e, hoje, a Ouvidoria desta Secretaria oficiou o Ministério Público Federal por meio do Ofício nº 926/2011, entendendo que tais declarações fazem apologia ao crime de estupro.
Nota de repúdio às piadas de mau gosto do “humorista” Rafinha Bastos
http://www.sepm.gov.br/noticias/ultimas_noticias/2011/05/nota-de-repudio-as-piadas-de-mau-gosto-do-201chumorista201d-rafinha-bastos
A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) vem a público manifestar sua indignação pela maneira como o “humorista” Rafinha Bastos, da TV Bandeirantes, faz piadas com os temas estupro, aborto, doenças e deficiência física. Segundo a edição desse mês da Revista Rolling Stone, durante seus shows de stand up, em São Paulo, ele insulta as mulheres ao contar anedotas sobre violência contra as mulheres.“Toda mulher que eu vejo na rua reclamando que foi estuprada é feia pra caralho. Tá reclamando do quê? Deveria dar graças a Deus. Isso pra você não foi um crime, e sim uma oportunidade. Homem que fez isso [estupro] não merece cadeia, merece um abraço”. Isso não é humor, é agressão gratuita, sem graça, dita como piada. É lamentável que uma pessoa – considerada pelo jornal The New York Times como a mais influente do mundo no twitter -, expresse posições tão irresponsáveis e preconceituosas. Estupro é crime hediondo e não requer, em nenhuma hipótese, abordagem jocosa e banalizada.
Vale lembrar que qualquer mulher forçada a atos sexuais, por meio de violência física ou ameaça, tem seus direitos violados. Não há diferenciação entre as vítimas e, tampouco, a gravidade e os danos deste crime diminuem de acordo com quaisquer circunstâncias da agressão. Assim, a SPM condena a banalização de tais preconceitos e, como organismo que visa, sobretudo, enfrentar a desigualdade para promover a igualdade entre os gêneros, a Secretaria repudia esse tipo de “humor” e qualquer forma de violação dos direitos das mulheres. Humor inteligente e transgressor não se faz com insultos e nem preconceitos. A sociedade não quer voltar à era da intolerância e, sim, dar um passo adiante.
Fonte: Viomundo