Relatório mostra que 90% das pessoas têm alguma forma de preconceito contra mulheres

Apesar de décadas de progresso da redução das desigualdades de gênero, cerca de nove em cada dez homens e mulheres em todo o mundo têm algum tipo de preconceito contra as mulheres, de acordo com novas descobertas publicadas na quinta-feira (5) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Na ONU

Mulheres comerciantes da Tanzânia contribuíram para aumentar a taxa de crescimento do país, mas ainda enfrentam desigualdades. Foto: UNCTAD

O primeiro Índice de Normas Sociais de Gênero do PNUD analisou dados de 75 países, que coletivamente abrigam mais de 80% da população global, e encontrou novas pistas sobre as barreiras invisíveis que as mulheres enfrentam para alcançar a igualdade — forçando potencialmente um caminho a seguir para romper o chamado “teto de vidro”.

Segundo a pesquisa, quase metade dos entrevistados afirma acreditar que os homens são líderes políticos superiores, enquanto mais de 40% afirmam que eles são melhores executivos de negócios e devem ter acesso a mais empregos quando a economia está em declínio. Além disso, 28% disseram ser justificável um homem bater em sua esposa.

“Percorremos um longo caminho nas últimas décadas para garantir que as mulheres tenham o mesmo acesso às necessidades básicas da vida que os homens”, disse o chefe do Gabinete do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição, reconhecendo que “alcançamos a paridade nas matrículas na escola primária e reduzimos a mortalidade materna em 45% desde 1990”.

Mas, admitiu, “as diferenças de gênero ainda são muito óbvias em outras áreas, particularmente aquelas que desafiam as relações de poder e são mais influentes para realmente alcançar a verdadeira igualdade”.

A análise também destacou uma mudança de viés em cerca de 30 países, revelando que enquanto alguns mostram melhorias, a situação em outros parece ter piorado nos últimos anos — sinalizando que o progresso não pode ser tomado como garantido.

“A luta pela igualdade de gênero é uma história de preconceitos e discriminação”, disse Conceição.

Desigualdade de poder

A nova análise esclarece por que continuam ocorrendo enormes “desigualdades de poder” entre homens e mulheres na economia, nos sistemas políticos e nas corporações, apesar do progresso tangível na redução das desigualdades de gênero em áreas de desenvolvimento, como educação e saúde, bem como na remoção de barreiras legais para participação política e econômica.

O PNUD deu o exemplo de que, embora o índice de mulheres e homens que votam seja semelhante, apenas 24% dos assentos parlamentares em todo o mundo são ocupados por mulheres e há apenas dez chefes de governo mulheres nos 193 Estados-membros das Nações Unidas.

Além disso, as mulheres recebem menos que os homens que trabalham nos mesmos empregos e são muito menos propensas a ocupar cargos de chefia.

Segundo os dados, menos de 6% dos diretores-executivos das empresas do índice S&P 500 do mercado de ações dos Estados Unidos são mulheres. E, embora trabalhem mais horas que os homens, é mais provável que seu trabalho seja de cuidados não remunerado.

“O trabalho que foi tão eficaz para garantir o fim das lacunas na saúde ou na educação deve agora evoluir para abordar algo muito mais desafiador: um preconceito profundamente arraigado — entre homens e mulheres — contra a igualdade genuína”, disse o administrador do PNUD, Achim Steiner.

Fim de crenças discriminatórias

O PNUD lembrou que 2020 marca o 25º aniversário da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (Pequim + 25), a agenda mais visionária sobre o empoderamento das mulheres até o momento, e pediu aos líderes mundiais que acelerem as ações para cumprir as metas globais de igualdade de gênero.

A agência da ONU está pedindo aos governos e instituições que utilizem novas políticas para mudar essas crenças e práticas discriminatórias por meio da educação e aumentando a conscientização e os incentivos fiscais.

Por exemplo, os impostos podem ser usados ​​como um incentivo para compartilhar responsabilidades de cuidados infantis, ou mulheres e meninas podem ser incentivadas a entrar em setores tradicionalmente dominados por homens, como as forças armadas e a tecnologia da informação.

“As manifestações pelos direitos das mulheres que estamos vendo em todo o mundo hoje, energizadas por jovens feministas, estão sinalizando que são necessárias novas alternativas para um mundo diferente”, disse a diretora interino da equipe de gênero do PNUD, Raquel Lagunas.

“Precisamos agir agora para romper a barreira de preconceitos e discriminação, se quisermos ver o progresso na velocidade e escala necessárias para alcançar a igualdade de gênero e a visão apresentada na Declaração de Pequim há mais de duas décadas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, declarou Lagunas.

+ sobre o tema

Pioneira inúmeras vezes, Glória Maria representava potência da mulher negra

A trajetória de Glória Maria, ícone da TV brasileira que morreu...

Os erros das homenagens no Dia Internacional da Mulher

Flores, chocolates e mensagens são presentes inofensivos. Mas, oferecidos...

Não é por birra, é por justiça

Geralmente quando alguma feminista negra pauta a questão da...

Brasil é o principal destino do turismo sexual na América Latina

O Brasil é o principal destino para turismo sexual...

para lembrar

Cineasta dos EUA produz o primeiro documentário sobre mulheres grafiteiras das Américas

Filmado em vários países, entre eles México, Porto Rico,...

Tia Má: ‘Mulher preta nunca é chamada de princesa’

O sonho da jornalista, humorista e youtuber Maíra Azevedo,...

Policiais serão preparados para enfrentamento à homofobia

Para capacitar as unidades policiais para lidar com ocorrências...

Justiça nega que pais alterem nome de filha transgênero após sua morte

Para desembargadores, eventual pedido de mudança deveria ter sido...
spot_imgspot_img

Festival Justiça por Marielle e biografia infantil da vereadora vão marcar o 14 de março no Rio de Janeiro

A 5ª edição do “Festival Justiça por Marielle e Anderson” acontece nesta sexta-feira (14) na Praça da Pira Olímpica, centro do Rio de Janeiro,...

Mês da mulher traz notícias de violência e desigualdade

É março, mês da mulher, e as notícias são as piores possíveis. Ainda ontem, a Rede de Observatórios de Segurança informou que, por dia,...

Mulheres negras de março a março

Todo dia 8 de março recebemos muitas mensagens de feliz dia da Mulher. Quando explicamos que essa não é uma data lúdica e sim de luta...
-+=