Reservas raciais em boa hora

Antônio Carlos Côrtes

 

O Rio Grande do Sul programará cotas em concurso público para órgãos da administração direta e indireta. Estes definirão os percentuais de reserva para negros e índios, com fundamento em informações do IBGE. Há quem irá se manifestar contra a medida de política afirmativa desejando a permanência de cotas de 100% hoje vigentes para os não negros e índios, sob a surrada fundamentação que todos são iguais perante a Constituição. Será que isso é verdade ou é utopia? Os contrários pouco refletem sobre o que afirmam, por falta de argumentos sólidos ficam no plano emocional. A dificuldade da defesa revela o acerto da implantação. Na história recente o negro-escravo era visto como mercadoria. Bem móvel. Coisa. O argumento dos antiabolição registrava que estavam querendo retirar o principal patrimônio dos fazendeiros. País que apoiou por séculos a discriminação tem agora o dever de compensar o erro criando condições de igualdade a todos, por meio de ação positiva do Estado.

Se o Brasil, por sua Constituição cidadã de 1988 (art.3º III), diz que pretende acabar com a miséria do povo, precisa de meios para fazê-lo e estes são políticas públicas. O que todos precisam saber é que as cotas não são para sempre e sim até diminuir o fosso social da desigualdade. Quando a igualdade for realidade, naturalmente serão extintas.

No Rio Grande do Sul, em que o hino diz que povo que não tem virtudes acaba por ser escravo, pelo visto não possui em seus parlamentares vontade de excluir ou alterar a preconceituosa expressão. Até o quero-quero sabe que projeto de lei por deputado é o caminho legal. Precisam olhar a história, pois muitos negros morreram lutando por causas que não eram suas, a não ser a liberdade, que ainda assim foi negada. Os lanceiros negros, por luta de ativistas sul-rio-grandenses, aos poucos vão sendo reconhecidos como heróis da Pátria. A história registra que o negro aportou no RS em 1737 proveniente dos portos do RJ e Santos. Arrancado de suas raízes milenares, o negro introduziu no RS técnicas agrícolas e industriais. O negro foi peão de estância, onde expressou-se como exímio domador, mas foi também taifeiro, tropeiro, campeiro, carreteiro, guasqueiro, corredor de carreira e músico.

 

 

Fonte: Jornal do Comércio 

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