Resistência popular e abolição

FONTEDo Diario do Nordeste
Dragão era relatado como um homem sempre bem vestido, com barba e cabelo impecáveis (Foto: Imagem retirada do site O Povo)

Às vésperas de completar 130 anos da famosa greve dos jangadeiros no Ceará, ocorrida em 30 de agosto de 1881, fato que fez o movimento abolicionista do Ceará entrar para a história com ares de vanguarda, os professores do curso de Mestrado Acadêmico em História (MAHIS), juntamente com profissionais do curso de História da Universidade Estadual do Ceará (Uece), e convidados, realizam mesa redonda para debater o assunto.

Com o tema “Greve dos Jangadeiros: História, Mito e Memória”, três pesquisadores, Gleudson Passos, Hilário Ferreira e Patrícia Xavier, trazem à tona o período que destacou a figura de Francisco José do Nascimento, também conhecido como “Chico da Matilde”, como ícone da emancipação dos cativos da antiga província do Ceará, dentro do contexto brasileiro do final do século XIX, no fim do Império. O bravo empenho de bloquear o Porto de Fortaleza, impedindo o tráfico de escravos, rendeu ao jangadeiro de Aracati o cognome de “Dragão do Mar”.

Na abertura do encontro, que acontece hoje, 29, às 18h30, no auditório Paulo Petrola, na Reitoria da UECE, o grupo de dança da Comunidade Quilombola, de Alto Alegre, faz apresentação de Maculelê e, após a mesa redonda, a professora Raquel Xavier relança o livro “Dragão do Mar: a construção do herói jangadeiro”, publicado pela Coleção Outras Histórias, do Museu do Ceará, em março deste ano.

“Vamos discutir o Ceará enquanto vanguarda, analisar os jangadeiros cearenses como heróis da abolição. Uma narrativa que foi construída pelas elites abolicionistas, que tinham interesses pontuais com o comércio da Inglaterra, como, por exemplo, os irmãos Amaral, que eram comerciantes, e o jornalista João Cordeiro que, além de comerciante, era editor do jornal “O Libertador”, diz o organizador do encontro, Gleudson Passos.

Pioneirismo

Em 1884, o Ceará entrou para a história como a primeira província brasileira a abolir a escravidão, quatro anos antes do 13 de maio de 1888, data da abolição brasileira. Esse acontecimento, iniciado com o Movimento Abolicionista Cearense, de 1879, teve como ponto de partida a greve dos jangadeiros deflagrada em 1881. O movimento visava impedir o transporte de escravos nas jangadas para os navios negreiros.

“Também vamos debater a realidade após a escravidão, porque, na verdade, os escravos não tiveram nenhuma condição de adaptação à nova realidade. É fundamental que os cearenses tenham conhecimento da real história dessa greve que, na verdade, não foi a primeira, mas a segunda greve”, destaca o professor Passos.

Mais informações

Mesa-redonda – “Greve dos Jangadeiros: História, mito e memória”. Às 18h30, no Auditório Paulo Petrola, na Reitoria da Universidade Estadual do Ceará – Uece (Avenida Dedé Brasil, 1700, Itaperi). Contato: (85) 3101.9610

Foto em destaque: Reprodução/ O Povo

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