Roberto Carlos desconhecia o racismo na Rússia?

Roberto Carlos desconhecia o racismo na Rússia?
Quando o lateral deixou o Corinthians, devia saber aquilo que o esperava

Por Ariovaldo Izac

Nunca coloquei o lateral-esquerdo Roberto Carlos na relação dos craques do futebol brasileiro, quiçá da configuração planetária. A despeito do chute forte e da força física para chegar ao fundo do campo, anos atrás, ele é incapaz de driblar, fundamento imprescindível quando se atinge a intermediária adversária. Ou melhor: tivesse um poste no campo durante o seu percurso, de certo trombaria por absoluta falta de balanço.

Esse episódio de um torcedor russo lançar banana no gramado quando o seu time – Krylia Sovetov – jogava contra o Anzhi não deveria ter causado tanto espanto, embora o preconceito racial seja recriminado em qualquer circunstância.

Quando optou por trocar o Corinthians pelo Anzhi, Roberto Carlos já havia sido informado que Rússia e Ucrânia são uns dos países mais racistas do mundo, diferentemente do Brasil que classifica o preconceito racial como crime inafiançável, de acordo com a Constituição promulgada em 1989. Em 2006, a Organização de Anistia Internacional já acusava os russos de omissão para crimes racistas, mascarando-os como atos de vandalismo.

Em 2009, pelo menos 23 pessoas foram mortas e 98 ficaram feridas em ataques racistas na Rússia. Portanto, surpreendente foi o comportamento de Roberto Carlos ao abandonar o campo após um inconseqüente ter lançado uma banana no gramado, deixando a sua equipe com um homem a menos.É que as três substituições permitidas já haviam sido feitas.

Pior ainda quando ele ameaçou se mandar de lá por causa do incidente. Se levar a cabo a intenção, será uma desconsideração com o benevolente bilionário Suleimar Kerimov, dono do Anzhi, que o presenteou com um carro Bugatti Veyron, avaliado em cerca de 2 milhões, por ocasião de seu aniversário em abril, dos 38 anos de idade. Pretexto ou não, Roberto Carlos tem um histórico polêmico desde a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, na partida contra a França.

Lembram-se do lance em que o meia Zidane cobrou falta da esquerda e o lateral brasileiro empacou na linha da área para arrumar uma das meias? Ele deixou de acompanhar o atacante Henry que, sozinho, desviou para o gol e acabou com a esperança do Brasil. Depois, após desligamento do Fenerbahçe, da Turquia, não soou bem afirmações do lateral se oferecendo para jogar de graça no Real Madrid, durante seis meses, conforme publicação do jornal espanhol ‘As’.Na recente passagem pelo Corinthians, Roberto Carlos caiu em desgraça com a torcida.

Causou suspeita a alegação de que não poderia jogar na Colômbia, contra o Tolima, pela Libertadores, por causa de uma lesão muscular. É que logo em seguida foi flagrado num rachão de boleiros corintianos. Assim, o ambiente ameaçador ficou ainda mais arruinado e o atleta exigiu seu desligamento do clube.

Os corintianos ficaram mais irados quando ele anunciou a transferência para o futebol russo, num pacote de 10 milhões de euros – mais de R$ 20 milhões – pelo período de dois anos. Pior ainda foi a justificativa inconvincente que o dinheiro não foi decisivo na hora de decidir pela volta ao exterior. Num jogo da Seleção Brasileira contra a Escócia, na Inglaterra, o atacante Neymar também foi vítima de racismo e nem por isso fez estardalhaço. O mesmo ocorreu com Marcelo, do Real Madrid, no clássico da cidade contra o Atlético.

Que bom seria se de fato Roberto Carlos fosse engajado na luta contra o racismo, se integrasse o Movimento Negro Unificado, fundado em 1978 em meio ao contexto da Ditadura Militar que estava em declínio no país! Talvez ele desconheça que esse movimento se fortaleceu após o revoltante assassinato do trabalhador negro Robson Silveira da Luz, agredido até a morte por policiais de São Paulo. Será que Roberto Carlos tem conhecimento que no Clube Tietê, da capital paulista, décadas passadas, atletas negros eram impedidos de utilizar piscina do clube devido à segregação racial entre brancos e negros?

Saiba Roberto Carlos e quem se interessar que Abdias Nascimento, morto em maio passado aos 97 anos de idade, foi um dos pioneiros na luta contra discriminação racial no Brasil no século passado. Abdias foi fundador do Teatro Experimental Negro e trabalhou ativamente para o resgate da cultura negra e seus valores desfigurados, mesmo perseguido pela Ditadura Militar, nos anos de chumbo.

O reconhecimento popular de Abdias foi registrado nas urnas, com mandatos como deputado federal e senador pelo Estado do Rio de Janeiro. Isso para não retroagir a lideranças mais antigas, como de José do Patrocínio no século XIX, com mobilização de escravos em defesa na monarquia, uma contrapartida para fortalecer o movimento de abolição da escravatura.

Fonte: Blog do ARI

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