Rosário dos Pretos ganha exposição permanente

‘Irmandade do Rosário dos Pretos: Quatro Séculos de Devoção’. Este é o nome da exposição, com fotos e textos, fruto de convênio entre a irmandade e o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), em cartaz na Igreja do Rosário dos Pretos, localizada no largo do Pelourinho, Centro Histórico de Salvador (CHS).

“Trazer à luz a história da irmandade para as pessoas que não a conhecem é o principal objetivo da exposição. Ela mostra como nos comportamos, o que fazemos e as dificuldades que enfrentamos ao longo de três séculos”, explica Ubirajara Santa Rosa, prior da Irmandade. A mostra é uma homenagem aos 326 anos da Irmandade e aos 112 anos da Venerável Ordem Terceira do Rosário às Portas do Carmo, nome da entidade, fundada por descendentes de escravos e ex-escravos que construíram a igreja.

Composta por 52 fotos coloridas e em preto e branco de autoria de Aristides Alves, Rugendas e Carlos Julião, e textos especialmente escritos e dimensionados em painéis portáteis, a exposição tem ainda imagens do acervo da irmandade e da Fundação Pierre Verger. Os painéis encontram-se no corredor lateral à nave central da igreja.

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“A importância do Rosário dos Pretos se dá ainda a partir das transformações do conceito de patrimônio cultural”, avalia a museóloga e coordenadora da exposição, Ana Maria Figueiredo. Ela informa que essa igreja e seus agregados são testemunhos da história brasileira e baiana, que nas três últimas décadas apresenta, para além dos patrimônios edificados, o reconhecimento dos bens culturais simbólicos e intangíveis.

PAINÉIS – São seis painéis com os temas história da irmandade, devoções aos santos, atividades, festas e funerais, igreja, arquitetura, participações, compromisso e fé. O painel ‘compromisso’ expõe a vida comunitária interna, regras de funcionamento e objetivos, modalidades de admissão, sistema e deveres. O primeiro compromisso que se tem notícia é de 1685.

Já em outro painel podem ser conhecidos os santos cultuados na irmandade, como Nossa Senhora do Rosário e Santa Bárbara, os santos negros Antônio de Categeró, Benedito, Elesbão e Ifigênia, louvados pela comunidade negra brasileira desde os tempos da escravidão. A escrava Anastácia é mencionada, principalmente por ter sido reconhecida mártir do cativeiro e escravidão.

“Essas organizações são detentoras de saberes imateriais que podem ser percebidos em distintas formas da materialização de uma cultura”, afirma a museóloga e outra coordenadora da mostra, Djane Moura Cruz. A pesquisa e o texto é de Cláudio Pereira e Maria Costa e Silva, e as pesquisas de Cândido da Costa e Silva.

OBRAS – A igreja e seus bens móveis, como as imagens dos santos, pinturas do teto e azulejos foram restaurados pelo IPAC ao custo de R$ 2,6 milhões. Autarquia da Secretaria de Cultura do Estado (SECULT), o IPAC recebeu recursos do Tesouro Estadual e do programa federal Prodetur, financiamento do Banco Interamericano, via Ministério do Turismo e Secretaria do Turismo, e investimento do Banco do Nordeste.

“Além da igreja do Rosário, já entregamos restaurados a igreja e cemitério do Pilar, a igreja do Boqueirão, a Casa das Sete Mortes e o Palácio Rio Branco, totalizando mais de R$ 20 milhões investidos em monumentos importantes do Centro Histórico de Salvador”, explica o diretor geral do IPAC, Frederico Mendonça.

TURISMO – A igreja do Rosário dos Pretos atrai turistas dos mais diversos países, principalmente durante o verão. Segundo o prior Ubirajara as legendas bilíngues visam atender públicos diversos. “Desde junho deste ano (2012) mais de seis mil visitantes passaram por aqui, entre brasileiros, franceses, americanos, espanhóis e portugueses”, diz Santa Rosa. “Com esses painéis entendemos mais sobre a igreja e a Irmandade. As informações e fotos são muito importantes para os turistas que nada sabem sobre essa igreja e suas imagens”, relata Rachel Klein Ulring, turista de Santa Catarina em visita ao local.

A mostra do Rosário dos Pretos fica aberta de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, aos sábados das 9h às 12h e domingos das 10h às 12h. A entrada custa R$ 2, sendo entrada gratuita aos domingos, a partir das 8h até término da missa, ou todas as segundas-feiras das 8h às 10h e todas as terças-feiras a partir das 16h30 até o término da missa. A exposição tem apoio da Fundação Pierre Verger, Fundação Pedro Calmon, Centro de Culturas Populares e Identitárias, Secult e IPAC. A realização é da Irmandade. Informações via telefone (71) 3241-5781 ou endereço [email protected].

BOX opcional: HISTÓRIA – A igreja está localizada na meia encosta da ladeira do Largo do Pelourinho ou Praça José de Alencar. A sua frente, ao rés do chão, há o largo e do campanário se descortina o amplo horizonte da Baía de Todos os Santos e todos os campanários e torres das demais igrejas a sua volta. Tombado como Patrimônio do Brasil pelo IPHAN/MinC desde 1938, o prédio religioso é considerado de notável mérito arquitetônico e foi construído por escravos e ex-escravos a partir de 1704, nas horas vagas que dispunham, ao longo de quase 100 anos. A edificação possui imponência, corredores laterais, com pátio ao fundo, onde existe um cemitério. Como as igrejas do Boqueirão e Santo Antônio Além do Carmo, a Rosário dos Pretos possui oratório no lado direito e no plano da fachada que se abre para a rua. As terminações da torre são revestidas de azulejos e no interior existem azulejos com cenas relativas à devoção ao Rosário de Lisboa (1790). O retábulo do altar-mor é de João Simões de Souza (1870/71) e a pintura do teto é de José Pinto Lima (1870/71). Dentre a imaginária, destacam-se N.S. do Rosário (séc.17), São Benedito, Santo Antônio de Catigerona e Cristo Crucificado em marfim. Tombada como Patrimônio Nacional pelo IPHAN 1938, a igreja pertence a Irmandade dos Homens Pretos que foi uma das primeiras confrarias de negros criada no Brasil e funcionou inicialmente na antiga Sé da cidade, sendo erigida em 1685.

 

 

Fonte: Lista Racial 

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