RS: universitária gera revolta nas redes sociais após comentário racista

Os comentários de uma aluna do curso de Publicidade e Propaganda da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) no Twitter revoltou internautas e gerou repercussão nas redes sociais na noite desta sexta-feira. Chamada de racista, Marina Ceresa chegou a ser repreendida pelo Centro Acadêmico da universidade e teve que se explicar em outra publicação.

Tudo aconteceu quando a jovem estava a caminho da universidade quando, segundo ela, um carro com um casal negro quase a atropelou. “Acabei de quase ser atropelada por um casal de negros. Depois vocês falam que é racismo né, mas TINHA QUE SER, né?”, disse a estudante, que completou em outra mensagem: “E estavam num carro importado, certo que é roubado”.

Dois minutos após a publicação, Marina fez outro comentário, tentado se defender de eventuais acusações de racismo. “Eu não sou racista, aliás, eu não tenho preconceitos. Mas, cada vez que aprontam uma dessas comigo, nasce 1% de barreira contra PRETOS em mim”, disse.

Não demorou muito para que as publicações fossem replicadas não só no Twitter como em perfis do Facebook. Ainda na noite de ontem, o perfil do O Centro Acadêmico Arlindo Pasqualini (CAAP) da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS divulgou nota lamentando o caso. “Nós, estudantes de comunicação social da PUCRS, não nos calaremos diante do racismo praticado por colegas da nossa faculdade. Práticas como essa devem ser combatidas em toda a sociedade. Atuaremos de forma ainda mais incisiva em casos presentes em nossa universidade”, dizia a nota.

Por conta da repercussão instantânea, a universitária resolveu deletar sua conta no Twitter, mas decidiu manter ativo seu perfil no Facebook, pelo qual divulgou uma nota se desculpando pelo ocorrido. Na publicação, Marina explicou o ocorrido e reconheceu ter errado no teor do comentário. “Estou postando essa nota de esclarecimento porque eu olhei para o que eu escrevi e percebi que eu fui muito errada em colocar aquelas palavras de efeito”, disse.

Veja, na íntegra, o comentário publicado pela aluna:

“Gurizada:

Esse final de tarde rendeu um acontecimento deplorável de minha parte.

Estava atravessando a Protásio Alves, em frente a minha rua, atrasada para a minha aula das 19h30 e pedi para um carro parar para que eu pudesse atravessar. Ele parou, foi educado e, quando fui atravessar a próxima faixa, um carro parou em cima de mim e encostou no meu corpo. Eu parei, e falei “passa, sou educada” e o cara ainda me xingou, falando que eu não deveria estar atravessando porque o trânsito fluía. Ele parou 30m a frente, ou seja, ele poderia ter sido educado e ter me deixado passar. Dois minutos depois, abri meu Twitter e publiquei um post ofendendo o motorista e sua passageira (negros), postando palavras de intuito racista, palavras de ofensa e frases de efeito preconceituosas. Um amigo deu RT (compartilhamento) nessa frase e, por muito “azar” de minha parte (ou por sorte, pra eu cair na real e perceber a cagada que eu fiz) um perfil famoso do Twitter deu um outro RT que me renderam centenas de interações, xingamentos, notificações e RTs.

To (sic) postando essa nota de esclarecimento porque eu olhei para o que eu escrevi e percebi que eu fui muito errada em colocar aquelas palavras de efeito. Eu não sou racista; não tenho nenhum tipo de preconceito, seja com homossexuais (e derivados, trans, bis, etc.), índios, negros, brancos, ruivos, pardos ou qualquer outra raça. Eu tenho inúmeros amigos negros, inclusive faço brincadeiras de todas as formas com eles e elas são sempre entendidas, gargalhadas e esquecidas.

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Sábado passado eu dancei a noite inteira com um negro numa festa. Hoje à tarde eu simplesmente caguei pela boca no Twitter, joguei a merda no ventilador, falei coisas que eu não deveria falar nem por mensagem nem pessoalmente com qualquer amigo. Eu sei que é fácil falar e pedir desculpas, mas as minhas desculpas são (e muito) sinceras. Recebi ameaças, fiquei com medo, chorei a aula inteira, não prestei atenção, saí 20 minutos mais tarde da PUCRS acompanhada de uns amigos e de dois seguranças, pois foram comunicados que eu havia feito tal coisa (invenção, pois o que falaram não aconteceu).

Pedi a um amigo que deletasse meu Twitter, deletei minha página de fotos do Facebook (trabalho) e, mais tarde, talvez delete o Facebook também. Eu sou a pessoa mais orgulhosa do mundo; eu poderia estar aqui defendendo essa situação até o último minuto, mas to “dando braço a torcer” em nome do meu orgulho e to pedindo desculpas a todos os meus amigos negros pelas palavras horríveis que escrevi, pelas brincadeiras de mal gosto que foram feitas. Espero que sejam aceitas, vocês sabem que eu não sou desse tipo. Rafinha Bastos disse que o humor não tem limites, mas hoje descobri que a “zueira” maldosa e negativa tem.

Fica aqui, mais uma vez, meu sincero pedido de desculpas.”

Veja também a nota publicada, na noite de ontem, pelo (CAAP):

“Racismo não é brincadeira

Na noite de hoje, uma estudante da Famecos escreveu comentários racistas em seu Twitter. Nós, estudantes de comunicação social da PUCRS, não nos calaremos diante do racismo praticado por colegas da nossa faculdade. Práticas como essa devem ser combatidas em toda a sociedade. Atuaremos de forma ainda mais incisiva em casos presentes em nossa universidade.

A sociedade precisa avançar no debate sobre o racismo. Os negros travam uma longa batalha contra a discriminação pela cor e suas conseqüências. Podemos observar isso pela baixa inserção de negros e negras em nossa universidade. Nos altos índices de violência contra o negro também notamos o quão sofrida ainda é a sua história. Sabemos que a exclusão social, cultural e intelectual é uma triste realidade para o povo negro.

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O CAAP divulga esta nota para que casos como esse não se repitam. Devemos denunciar e nos posicionar em situações como esta. O nosso papel enquanto centro acadêmico é repudiar veemente esta atitude e não permitir que o racismo esteja presente na Famecos. Lutamos por uma Famecos sem preconceito e, por isso, deixar de expor este acontecimento seria legitimar o racismo presente em nossa faculdade.

O CAAP valoriza a cultura Afro. Acreditamos que a igualdade não tenha cor e seremos incansáveis na defesa de uma faculdade sem racismo e preconceito.

A partir desse acontecimento, vamos debater e refletir formas de combate ao racismo e a todos os outros tipos preconceitos. Na Famecos não há espaço para o preconceito.”

Fonte: Terra

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