Senegalês pode ser o 1º negro do Parlamento alemão

HALLE, Alemanha – Quando Karamba Diaby chegou à Alemanha como estudante, vindo do Senegal, só sabia duas coisas em alemão: Bundesliga (a liga alemã de futebol profissional) e BMW (a marca de automóveis). O único problema era que isso aconteceu em outubro de 1985 e Diaby desembarcou na Alemanha oriental, onde as duas coisas eram desaprovadas pelos “camaradas”.

Mas ele se radicou no país assim mesmo, fixando-se no Estado de Saxônia-Anhalt e ganhando a cidadania alemã em 2001.

Agora Diaby, 51, tem a oportunidade de fazer história. Em fevereiro, ele conquistou um lugar na lista de candidatos a deputado pelo Partido Social-Democrata. Se, nas eleições marcadas para este ano, ele o partido conseguirem conservar as três cadeiras que conquistaram aqui há quatro anos, Diaby se tornará o primeiro deputado negro no Bundestag.

Em Halle, antigo centro da indústria química alemã oriental, Diaby é conhecido por sua personalidade extrovertida. As pessoas dizem, brincando, que ele leva cinco vezes mais tempo que o normal para chegar a qualquer lugar, porque para para bater papo com todos que encontra no caminho.

A festa de 1° de maio deste ano não foi exceção. Diaby ficou tão ocupado cumprimentando eleitores que passou horas segurando na mão um bolinho comido pela metade.

O fato de um negro nunca ter sido eleito para o Parlamento alemão é indicativo do relacionamento às vezes intranquilo que o país tem com suas minorias.

“Não foi fácil para ele no começo”, comentou o aposentado Klaus Magyar, 77, ex-diretor de hospital em Halle. “As pessoas não estavam acostumadas a lidar com uma pessoa de outra cor.”

A antiga Alemanha oriental ainda se esforça para se livrar da fama de ser sementeira do extremismo de direita.

Em 2011, um jornal ultraconservador acusou Diaby, incorretamente, de ter lançado unilateralmente um chamado por leis mais rígidas contra discursos que incitavam ao ódio, quando era chefe do Conselho Federal de Migração e Integração. Ele recebeu centenas de e-mails irados e duas ameaças de morte.

Diaby cresceu na pequena cidade de Marsassou, no Senegal. Caçula de quatro irmãos, perdeu pai e mãe aos sete anos de idade.

Quando chegou à faculdade na capital, Dacar, em 1982, os estudantes universitários defendiam que muitas instituições tivessem seus nomes trocados para os de senegaleses destacados que tinham lutado pela independência da França. “Nós éramos aqueles que sempre procuravam fazer alguma coisa em favor da emancipação”, contou Diaby.

Esse engajamento político o levou a entrar em contato com uma organização estudantil em Praga que incentivava jovens a estudar atrás da Cortina de Ferro. Diaby se registrou como candidato e, em 1986, chegou a Halle, nas proximidades de Leipzig, para estudar química.

Ele continuou engajado e, apesar de não ter certeza de que lhe seria permitido concluir seus estudos após a queda do Muro de Berlim, encontrou um tema de doutorado que reunia a química e a defesa de uma causa social.

Um investidor imobiliário queria construir imóveis na periferia da cidade. Dizia que as áreas verdes que destruiria para isso eram poluídas demais para permitir o cultivo. Mas Diaby fez suas próprias análises químicas.

Seu trabalho ajudou a desmentir as alegações da empresa imobiliária. As pessoas de Halle ainda se recordam disso, e esse trabalho levou Diaby a seguir o rumo do ativismo e da política.

Hoje ele trabalha para o Ministério do Trabalho estadual e é vereador em Halle. Analistas dizem que ele tem boas chances de conquistar uma vaga no Parlamento em Berlim, mas Diaby não quer deixar nada ao acaso.

“Os eleitores de Halle e de todo o país, especialmente os da comunidade africana, estão de olho”, explicou. “Vão perguntar: ‘Ele está aqui apenas para sair nas fotos ou tem algo a dizer de fato?’.”

Por: CHRIS COTTRELL

 

Fonte: Folha de São Paulo

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