Há uma semana que o Burkina Faso está num processo de golpe e contra-golpe. A população recusa o Presidente escolhido pelos militares e há dois músicos que dizem que o mundo mudou e África também tem de mudar
MANUELA GOUCHA SOARES
No ano passado, dois jovens cantores do Burkina Faso, um de rap e outro reggae, criaram o movimento “Le Balai Citoyen”. Nas palavras de um dos seus fundadores, K. Sams, “temos a intenção de convidar todos os cidadãos a reconsiderar o seu lugar na sociedade, porque há tempo demais” que somos postos à margem das decisões, escreve o jornal espanhol “El Pais”, recordando que estes dois músicos e a “sua legião de seguidores” estiveram ativamente empenhados no derrube do Presidente Blaise Compaoré, no poder há 27 anos.
A manifestação que este domingo enche as ruas da capital Ouagadougou foi decidida ontem à tarde, depois de se saber que o exército tinha indigitado para Presidente o” tenente-coronel Isaac Zida, número dois da guarda presidencial” de Compaoré, segundo o portal de notícias Burkina 24.
A plataforma promotora da marcha, conta com a presença de cerca de mil pessoas, segundo a AFP [citada pela agência Lusa], e reivindicou a sua “forte identidade” na gestão da transição, que, na sua opinião, não devia “ser confiscada” pelo exército de Burkina Faso.
Para a oposição política e as organizações da sociedade civil é absolutamente claro que a “vitória da insurreição popular pertence ao povo”.
Compaoré, tal como quase todos os outros governantes africanos que estão há demasiado tempo no poder, devia ter prestado mais atenção ao que mudou no mundo no dia 17 de dezembro de 2010, quando o jovem Mohamed Buazizi, órfaõ de pai e vendedor ambulante, se imolou para protestar contra a falta de oportunidades que lhe eram dadas para prover ao sustento da família.
Esse suicídio/protesto pode não ter apenas marcado o início da revolta que derrubou o ex-presidente tunisino Zine el Abidine Ben Ali, e ficou conhecida como Primavera Árabe, mas uma mudança que se estenderia a todo o continente africano.
Na “nova nova África, todos os Presidentes devem dar atenção às novas exigências da juventude, que está muito mais consciente, dinâmica, envolvida e ansiosa para ser ouvida e desempenhar um papel como garante da democracia”, disse Cheikh Fall, um dos motoristas de Sunu2012 e criador da Liga para a Democracia africanos, Africtivistes.org, ao “El Pais”. O Burkina Faso não foge à regra quando as organizações da sociedade civil defendem “o caráter democrático e civil” que deve ter o governo de transição.
A União Africana e os EUA já pediram “ao exército que promova uma transição liderada pela sociedade civil, o mesmo acontecendo com os Estados Unidos”, segunda a Lusa.
Fonte: Expresso