Servílio de Oliveira, primeiro pugilista brasileiro a conquistar uma medalha olímpica no boxe, ganhou uma ação cível contra a Fundação Palmares. O ex-atleta, bronze nos Jogos da Cidade do México, em 1968, havia sido excluído, ao lado de outros esportistas, da lista de homenageados da entidade, criada para combater o racismo e valorizar o feito de pessoas negras do país. Mas, em sentença assinada nesta sexta-feira, garantiu a volta de seu nome à lista, assim como uma indenização de R$ 10 mil por danos morais.
No fim do ano passado, a Fundação Cultural Palmares retirou o nome de 27 personalidades de uma lista de homenageados. O fato ocorreu após o órgão ligado ao governo federal ter definido em novembro que passaria a ter apenas tributos póstumos e não mais em vida. Assim, os atletas Ádria Santos, Janeth dos Santos, Joaquim Cruz, Terezinha Guilhermina e Vanderlei Cordeiro de Lima, além de Servílio, deixaram de figurar na lista da entidade.
A portaria havia estabelecido em 11 de novembro que as mudanças começariam a valer em 1º de dezembro e teriam caráter retroativo, ou seja, com a exclusão dos nomes homenageados em vida. Sérgio Camargo, atual presidente da fundação, foi o responsável por informar as alterações na lista, que ganhou o nome de João do Pulo, ex-recordista mundial do salto triplo e dono de duas medalhas de bronze em Olimpíadas. O paulista morreu em 1999, aos 45 anos, após uma crise hepática.
– O atual presidente da Fundação Palmares resolveu destituir vários nomes, porque, segundo ele, é importante apenas prestigiar e homenagear nomes de pessoas após a morte. E por achar que as homenagens, se possível, devem ser feitas em vida, resolvemos mover uma ação contra a movemos a ação e o poder judiciário deu causa ganha pra nós. Portanto, o meu nome terá que voltar parte da lista, só pra que vocês tenham ideia, veja os nomes que foram retirados da lista. Zezé Motta, Gilberto Gil, Elza Soares, Benedita da Silva, Sandra de Sá, Milton Nascimento e tantos outros.
– Esse cidadão, Sérgio Camargo, que é um negro tal como eu sou, lamentavelmente é um negacionista. Um capitão do mato que resolveu sacar o nome de quem batalhou, de quem suou a camisa por esse país. O Poder Judiciário, no meu entendimento, atuou de maneira correta: o presidente da entidade pode muito, mas não pode tudo. E eu espero que os demais ofendidos também solicitem o retorno do seu nome da entidade Estou muito feliz – afirmou Servílio
Após a exclusão de seu nome na lista, Servílio, então, entrou com um processo cível na 3ª Vara Federal de Santo André. A sentença foi proferida na tarde desta sexta-feira – ainda cabe recurso. O juiz José Denílson Branco determinou o retorno do nome do ex-pugilista à lista de homenageados em até 15 dias, bem como o pagamento da indenização.
– A sumária exclusão do autor da lista de personalidades da cultura negra, sem o devido processo legal administrativo, caracterizou julgamento moral e sumário dos motivos que levaram o autor ao “hall da fama” da cultura negra, conforme expressa mensagem pública do presidente da instituição ré nas redes sociais…, o que comprova o nexo casual da repercussão negativa da imagem e honra do autor com o erro de conduta da Administração – afirma o juiz, ressaltando o feito de Servílio – o Brasil só voltaria a ganhar outra medalha no boxe nos Jogos de Londres, em 2012.
Veja quem são os atletas retirados da lista de homenagens da Fundação Palmares:
Ádria Santos
A mineira Ádria Santos é considerada a maior medalhista feminina do esporte paralímpico do Brasil. Aos 46 anos, a velocista competiu em sua carreira na classe T11, para atletas com cegueira total, e ganhou nada menos que 13 medalhas em Jogos Paralímpicos, sendo quatro de ouro, oito de prata e uma de bronze.
Segundo registro do Wikipedia, além das medalhas em Paralimpíadas, Ádria soma ainda 73 medalhas em provas internacionais e 542 medalhas em provas nacionais na sua classe, incluindo o tricampeonato pela IAAF (Federação Internacional de Atletismo Amador)
Janeth dos Santos Arcain
A armadora do basquete foi uma das maiores atletas do Brasil e fez história dentro de quadra representando o país ao lado de nomes como Magic Paula e Hortência. Aos 51 anos, a paulista guarda troféus e medalhas de grande expressão, como a Prata nas Olimpíadas de 1996, em Atlanta, e o Bronze em Sydney 2000. Janeth ainda foi ouro no Mundial de 1994 e do Pan-Americano de Havana em 1991.
Em 2014, Janeth se tornou membra do Hall da Fama do Basquetebol Feminino e teve uma carreira notável não só no Brasil, mas como também atuou no Houston Comets, sendo tetracampeã da WNBA, liga profissional de basquete dos Estados Unidos.
Joaquim Cruz
Com destaque em provas mais longas, como os 800m e os 1500m rasos, Joaquim Cruz foi um dos grandes fundistas do Brasil. Medalhista de ouro nas Olimpíadas de Los Angeles em 1984 e prata em Seul 1988, o ex-atleta de 57 anos chegou a ser dono do recorde olímpico na prova de 800m, com o tempo 1:43:00.
A sua notável carreira rendeu uma homenagem do Comitê Olímpico Brasileiro e, em 2007, Joaquim Cruz foi escolhido para acender a pira olímpica para o início dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro. Atualmente, ele vive em San Diego, na Califórnia.
Servílio de Oliveira
Ex-pugilista de 72 anos, Servílio de Oliveira foi o primeiro brasileiro a conquistar uma medalha em Jogos Olímpicos no boxe. Em 1968, o paulista garantiu o bronze na Cidade do México e só viu outros brasileiros chegarem tão longe a partir de 2012, quando Adriana Araújo, Esquiva Falcão e Yamaguchi Florentino foram às semifinais em Londres.
Servílio seguiu atuando fora dos ringues no trabalho de ajuda a boxeadores como treinador e coordenador técnico, além de ter exercido o papel de comentarista. Se candidatou a vereador em Santo André nas últimas eleições, mas não foi eleito.
Terezinha Guilhermina
Mineira de Betim, Terezinha Guilhermina foi uma velocista brasileira, especializada em corridas de 100m rasos, 200m e 400m. Com deficiência visual, ela disputou as classes T11 e T13 do esporte e conquistou seis medalhas em Jogos Paralímpicos, sendo três de ouro, uma de prata e duas de bronze.
Além disso, foi um dos grandes destaques nos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro em 2007, quando garantiu três medalhas de ouro nas categorias 100m rasos, 200m rasos e 400m rasos.
Vanderlei Cordeiro de Lima
Medalha de Bronze nos Jogos de Atenas, em 2004, Vanderlei Cordeiro de Lima, de 51 anos, ficou notabilizado por uma cena icônica naquela edição das Olimpíadas. Enquanto liderava a maratona, o brasileiro foi empurrado para fora da pista de competição pelo ex-padre irlandês Cornellius Horan. Apesar de voltar na liderança, Vanderlei perdeu o ritmo da prova e acabou chegando na terceira posição.
O fato ainda é muito lembrado nas histórias da Olimpíadas e Vanderlei recebeu diversas homenagens, como ter acendido a pira olímpica nos Jogos do Rio em 2016.