“ANTES DA TRANSFORMAÇÃO DE UM HOMEM OU DE UMA MULHER BIOLÓGICOS EM GÊNEROS MASCULINO OU FEMININO, CADA CRIANÇA CONTÉM TODAS AS POSSIBILIDADES SEXUAIS ACESSÍVEIS À EXPRESSÃO HUMANA”. Gayle Rubin (1949- ), antropóloga norte-americana.
Por: Franklin Cunha – Médico
A idéia freqüentemente aceita de que os componentes de alguns extratos sociais, subordinados a poderes mais fortes aceitam e se apegam à própria subordinação, tem sido invocada pelos que tentam desacreditar as reivindicações dos subordinados. O raciocínio é o seguinte: se é possível demonstrar que o sujeito sustenta e insiste em seu estatuto de subordinado, então a responsabilidade última de sua subordinação é dele mesmo. Idéia mais primária, porém ainda vigente é a de que certas condições de caráter pessoal, estariam embutidas nos genes. Mesmo porque, hoje sabemos que os genes codificam proteinas e não comportamentos sexuais ou outros.Contra tais argumentações, pode-se dizer que a conformidade à submissão é produto da capacidade persuasiva do poder, uma das produções mais insidiosas e perversas de nossa cultura.
Estes fenômenos de subordinação se observam em várias condições sociais e situações pessoais como nos negros, pobres, marginais da economia e da lei, prostitutas e homossexuais. E se várias dessas condições se juntam, como por exemplo, ser negro, homossexual e pobre, a situação se complica e a subordinação social é completa.Uma dessas condições mais reprovadas é a homossexualidade, pois não é opção e prática compatíveis com atuações “normais e institucionalizadas”. Tão reprovadas que ainda hoje se põe em dúvida a capacidade dos homossexuais de exercerem a maternagem e a paternagem. E as dúvidas se originam na confusão vigente entre sexo e gênero.
A distinção entre eles confirma a tese de que por mais que o sexo – fêmea ou macho –pareça biologicamente imutável, o gênero é culturalmente construído. Então, se o gênero é construído pelos significados culturais impostos falocraticamente ao corpo sexuado, não se pode afirmar que a construção de um “homem” seja exclusividade somente de um corpo masculino ou que a construção de uma “mulher”, decorra somente da anatomia genital feminina..
A antiga idéia de que há uma relação mimética perfeita entre sexo e gênero, empiricamente não se confirma. O que se pode afirmar, portanto, é que a condição de gênero independe do sexo e, assim pensando, o gênero se torna um artifício flutuante, donde se conclui que diante dos recursos da ciência médica atual, homem e masculino, podem significar tanto um corpo e uma mente masculinos ou femininos e mulher e feminino, tanto um corpo e mente feminino como masculino.
Então, não há reais motivos para que homossexuais que desejam amorosamente assumir a maternagem e a paternagem se subordinem a códigos sociais vigentes, vetustos e primitivos. E até mesmo boçais, a representar vozes de uma pequena parcela de eleitores.”
Fonte: Lista Racial