STJ decide não federalizar Caso Marielle Franco, que segue com MP do Rio

Enviado por / FontePor Caio Blois, do UOL

Por unanimidade —oito votos a zero—, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu não federalizar o Caso Marielle Franco e manteve as investigações com a Polícia Civil e o MPRJ (Ministério Público do Rio). O assassinato da vereadora e de seu motorista, Anderson Gomes, seguirá nas mãos da Justiça do Rio de Janeiro.

Relatora do caso, a ministra Laurita Vaz não viu “inércia ou inação” das autoridades do Rio de Janeiro no caso.

“A gravidade do crime é inquestionável, mas o episódio chama a atenção e esmorece o pedido de federalização do caso. O contexto sugere que o trabalho investigatório das autoridades locais não está sendo obstado pela atuação desses grupos, nem está limitado para quem quer que seja”, afirmou, em seu voto.

Um colegiado formado por nove ministros participou da votação. O presidente da seção, Nefi Cordeiro, não tinha direito a voto. O ministro Félix Fischer esteve ausente da sessão.

Todos os oito ministros seguiram a relatora: Jorge Mussi, Sebastião Reis, Rogério Schietti, Reynaldo Fonseca, Ribeiro Dantas, Antonio Saldanha Palheiro e Joel Ilan Paciornik, que também foram contra a federalização do caso, julgado pela Terceira Seção do STJ, que reúne os cinco ministros da Quinta Turma e os cinco ministros da Sexta Turma.

Em seu voto, o ministro Rogério Schietti afirmou que o crime, além de motivação política, também carregava um importante significado de disputas de gênero, lembrando que além de ser uma mulher que “ocupou um espaço antes restrito aos homens”, Marielle era também negra, favelada e homossexual, e, por isso, “muita gente tinha interesse em sua morte”.

“O caso Marielle Franco é evidência cabal que ainda no Brasil ainda continuamos a vivenciar o assassinato de pessoas que somadas a tantos milhares de incógnitos brasileiros nas estatísticas de homicídios e feminicídios e arriscam a defender minorias e cobrar das autoridades políticas atitudes mais ousadas e eficazes no enfrentamento das cotidianas violações a direitos da população, especialmente da periferia dos grandes centros urbanos”, opinou, para prosseguir:

“Sua morte parece não constranger quem reverbera discursos de ódio e intolerância, que acabam por desenvolver uma espécie de necropolítica, onde escolhe-se quem pode viver e quem deve morrer, retirando o mais primordial dos direitos humanos: o direito à vida. E silencia aqueles que denunciam a morte de civis por outros civis, fardados ou não”, completou.

Oito meses após o pedido da ex-procuradora geral da república Raquel Dodge para federalizar os homicídios por “inércia” das autoridades fluminenses, e Laurita Vaz manteve a data da pauta apesar da pandemia do coronavírus e de pedidos pelo adiamento do julgamento.

Segundo os investigadores, a autoria do crime é do sargento reformado da PM Ronnie Lessa e do ex-PM Élcio de Queiroz, presos desde o ano passado.

A família de Marielle Franco e outras personalidades políticas encabeçaram forte campanha na internet contrária à federalização do crime. Havia um temor de que o caso, se fosse à Justiça Federal, tenha a interferência do presidente Jair Bolsonaro e sua família, adversários políticos da vereadora.

+ sobre o tema

Milhares de mulheres se manifestam a favor do aborto em Madri

Grupo celebrou retirada de uma controvertida reforma da lei...

Hoje acordei com vontade de gritar: SOU NEGRA!!! Eu sou a prova!

Hoje acordei com vontade de gritar: SOU NEGRA!!! por Mirian...

84% dos brasileiros apoiam discutir gênero nas escolas, diz pesquisa Ibope

“É uma questão civilizatória reconhecer que pessoas vivem sexualmente...

As caras da violência

Maria Lúcia da Silva, a Lucinha, não transita pelos...

para lembrar

spot_imgspot_img

Sueli Carneiro analisa as raízes do racismo estrutural em aula aberta na FEA-USP

Na tarde da última quarta-feira (18), a Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP) foi palco de uma...

O combate ao racismo e o papel das mulheres negras

No dia 21 de março de 1960, cerca de 20 mil pessoas negras se encontraram no bairro de Sharpeville, em Joanesburgo, África do Sul,...

Ativistas do mundo participam do Lançamento do Comitê Global da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver

As mulheres negras do Brasil estão se organizando e fortalecendo alianças internacionais para a realização da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem...
-+=