Quase 40% dos que irão às urnas em outubro estão concentrados em sete zonas eleitorais que ficam no Subúrbio, o lado da cidade que mais precisa de serviços públicos
Por: Rafael Rodrigues
Foi no Subúrbio de Salvador que dois dos três principais candidatos a prefeito, ACM Neto (DEM) e Nelson Pelegrino (PT), realizaram suas primeiras caminhadas no primeiro fim de semana de campanha nas ruas. Mário Kertész (PMDB) não foi à região nos dias iniciais do corpo a corpo eleitoral, mas a manteve na alça de mira através de discursos dirigidos aos moradores da localidade.
E não é à toa que os três citam constantemente intervenções no Subúrbio em seus programas de governo: a área faz parte do plano traçado pelos prefeituráveis em busca das principais fatias do bolo eleitorado.
Quase 40% dos que irão às urnas em outubro estão concentrados em sete zonas eleitorais que ficam no Subúrbio, o lado da cidade que mais precisa de serviços públicos. Foi ele que deu ao atual prefeito João Henrique (PP) a diferença de votos ao terceiro colocado em 2008, necessária para garantir sua ida ao segundo turno na eleição em 2008. Naquela ocasião, desbancou o democrata ACM Neto.
Estudo
Mesmo com a campanha eleitoral ganhando as ruas há cerca de duas semana, para conquistar o voto do eleitor soteropolitano já faz tempo que os núcleos políticos dos principais candidatos estudam a fundo seu público-alvo. Além dos acordos partidários e do viés ideológico das legendas, a escolha dos candidatos a vice, a montagem dos programas de governo e o pontapé inicial da campanha atendem a estratégias com foco no eleitorado.
É o que pontua o especialista em marketing político Emmanuel Publio Dias, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), com sede em São Paulo. Para ele, é natural, por exemplo, que as chapas se formem com representantes da maior parcela étnica da população – cerca de 80% dos soteropolitanos são negros ou mestiços. “Mas, isso acaba se tornando rigorosamente irrelevante. O que vale é um conjunto de fatores, conjunto de percepções ao longo de um tempo”.
Escolha
São negros os candidatos Márcio Marinho (PRB) e Hamilton de Assis (Psol) e os candidatos a vice de Kertész, Nestor Neto (PMDB); de ACM Neto, Célia Sacramento (PV); e de Pelegrino, Olívia Santana (PCdoB). Mas, além de majoritariamente negros, afinal quem são os 1.881.003 soteropolitanos que irão às urnas no dia 7 de outubro? Quanto ganham? Até onde estudaram? Como está a rua onde moram? Tem casa própria? É em cima destes dados que será construído discursos e propostas nos próximos meses.
Em relação à idade, a faixa dominante é a que está entre 25 e 59 anos, com mais de 1,3 milhão de votantes. O restante é divido entre os que têm até 24 anos (285.641) e os com mais de 60 (259.762), numa cidade onde 52% dos eleitores são mulheres. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o eleitor com nível superior completo, representa apenas 5,5% dos votantes, ante uma contingente de 40% de analfabetos, semi-analfabetos ou que possuem fundamental incompleto. Outros 30% abandonaram o colégio antes do tempo e não concluíram o ensino médio.
Devido à baixa escolaridade dos eleitores, Publio reconhece a possibilidade de que o nível do debate de propostas na campanha seja o mais reduzido possível, por conta de estratégias para facilitar a compreensão dos problemas da cidade e das soluções apresentadas. Mas, ainda na análise do especialista, a conquista do voto da maioria da população passa pelo convencimento de uma pequena elite intelectual e financeira, os “formadores de opinião”.
Elite
“O que acontece é que eleitorado de maior renda, por ter maior acesso a comunicação, onde a politica é o assunto mais comentado, forma mais rapidamente sua opinião de voto e tende a influenciar. Quase sempre o candidato com inserção nas classes mais baixas acaba por ser ultrapassado pelo que têm maior inserção no eleitorado de maior renda”, afirmou.
O especialista cita como exceções à regra a eleição e reeleição do ex-presidente Lula.
Foi possivelmente com foco nesta estratégia que Mário Kertész realizou seu primeiro ato político em uma reunião com empresário do setor de hotelaria e turismo na sede da Associação Baiana de Agências de Viagens (Abav), em 5 de julho.
Contudo, o democrata e o petista também colocaram os olhos nessa fatia. ACM Neto já falou para o trade turístico na quinta-feira passada e Pelegrino será o próximo debatedor na agenda do grupo de empresários.
Domínio de eleitores da Classe D
A maior parcela dos eleitores da capital baiana, 48%, está dentro da Classe D, com renda familiar entre R$ 648 e R$ 1.164. O economista Hamilton Ferreira Júnior, da Ufba, explica que essa fatia do eleitorado conseguiu melhorar sua condição de renda nos últimos anos, mas depende do poder público municipal para continuar em evolução.
O economista salienta, porém, que apesar da baixa escolaridade, esta população sabe identificar quais são os problemas que mais lhes afligem. “O eleitor pode estar sem uma elaboração profunda da situação dele, mas sabe do que precisa, porque é racional. Sabe que se não tiver educação boa, o filho vai parar onde está, não vai para lugar nenhum”, avalia.
Fonte: Correio