Suspeitos de trocar mensagens racistas sobre modelos no DF são identificados

Polícia Civil chegou às identidades de três adolescentes e um maior de idade.

Do G1 

Modelo em desfile de seletiva do concurso de moda Top Cufa DF, organizado pela Central Única das Favelas — Foto: TV Globo/Reprodução

Quatro suspeitos de trocar mensagens racistas sobre mulheres que participavam de um concurso de beleza em shopping em Taguatinga, no Distrito Federal, foram identificados pela Polícia Civil nesta quarta-feira (17).

Segundo as investigações, foram três adolescentes e um maior de idade que fizeram comentários discriminatórios e ofensivos em um grupo privado de Whatsapp no último sábado (13). Um deles chegou a enviar uma imagem de escravas, em alusão ao desfile das mulheres negras.

Em grupo de Whatsapp, homens ofendem mulheres que participavam de concurso de desfile em shopping do Distrito Federal — Foto: Reprodução

Os suspeitos vão responder por “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito” em função de “raça ou cor”. A pena prevista para este tipo de crime é de um a três anos de prisão, além de multa.

Os menores de idade serão encaminhados à Delegacia da Criança e do Adolescente e o adulto deve prestar depoimento ainda nesta semana. Um inquérito será aberto contra ele, segundo a delegada responsável pelo caso, Erica Macedo.

O desfile
Na ocasião, 180 modelos de 16 a 25 anos competiam na primeira seletiva do Top Cufa, um concurso de beleza dedicado a mulheres que vivem nas periferias do Brasil, com enfoque na valorização da negritude. O evento era realizado em um espaço aberto ao público dentro do centro de compras.

Jurados avaliam participantes do concurso de moda Top Cufa DF, organizado pela Central Única das Favelas — Foto: TV Globo/Reprodução

Na troca de mensagens, um dos homens, identificado como Alex, escreve que “tá tendo um desfile só de preta aqui no JK [Shopping]” e comenta: “Coisa horrosa”. Ele estava no local no momento do evento; a presença dos outros integrantes ainda é incerta.

Finalistas do concurso de moda Top Cufa DF 2017 na categoria street style — Foto: Diego Vedita/Divulgação

Em seguida, outro, identificado como Muniz, fala em tom jocoso que Alex tirou uma foto do desfile e encaminha a imagem de escravas enfileiradas, com cestas em cima da cabeça. Um deles contesta a “brincadeira” e um quarto, de apelido Dandan, responde:

“Agr o cara é obrigado a achar as preta bonita? [sic]”

Em grupo de Whatsapp, homens ofendem mulheres que participavam de concurso de desfile em shopping do Distrito Federal — Foto: Reprodução

‘Só no carão’
O organizador do concurso, Bruno Kesseler, que denunciou as ofensas, disse que o evento vai seguir o cronograma normalmente – como uma forma de resistência. “Acho que o concurso ganha mais força ainda, né? A gente mostra que as mulheres da periferia têm força.”

“A gente precisa dar cada vez mais visibilidade pras mulheres.”

Bruno Kesseler, presidente da Central Única das Favelas no DF e organizador do concurso de moda Top Cufa — Foto: TV Globo/Reprodução

É isso o que a semifinalista Yanca Assem Haidar também acredita. “São sonhos realizados. Mesmo quem não passou pra segunda fase não perdeu, porque é uma oportunidade de desfilar no palco, ter pessoas lá pra poder te avaliar.”

“Aquilo, pra mim, foi uma experiência incrível e poder passar pra segunda fase, participar dos workshops, participar das aulas está sendo muito importante.”

Yanca Assem Haidar, semifinalista no concurso de moda Top Cufa DF — Foto: TV Globo/Reprodução

A rapper e jurada do concurso Thábata Lorena reforça a importância de que as mulheres negras não se sintam intimidadas por manifestar os próprios traços. “A mulher negra já é conhecida pela sua beleza, mas ela nunca teve coragem de assumir seus traços étnicos e é isso que parece que incomoda.”

“Nossa pespectiva é só se firmar, responder só no carão, meu bem.”

Thábata Lorena, rapper e jurada do concurso de moda Top Cufa DF — Foto: TV Globo/Reprodução

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