Era uma segunda-feira, às 10h, quando Taís Araujo surgiu pontualmente para a entrevista marcada por videochamada. Para quem costuma acordar às 5h30 para dar conta de todos os compromissos da agenda, àquela altura, a atriz de 43 anos já estava a todo vapor.
— É uma correria. Fiz análise às 7 horas da manhã, aí veio um laboratório para tirar sangue dos meus filhos (João Vicente, de 11 anos, e Maria Antonia, de 7), levei os dois para a escola, trancei o cabelo… Já fiz umas 300 coisas! — exagera ela, que costuma ir para cama antes do marido, Lázaro Ramos: — Ele é o último que dorme. Se bobear, eu boto as crianças na cama e apago na mesma hora. Acordo antes do resto da casa para ter um tempo só meu. Tem dias em que consigo, em outros não.
O fato é que Taís faz um pouco de tudo na vida. Como boa sagitariana, que adora viver novas experiências, a carioca do Méier encara pela primeira vez duas personagens ao mesmo tempo numa novela. Em “Cara e coragem”, a atriz é Anita e Clarice, que reapareceu viva e ainda vai dar muito o que falar na trama das sete. A artista, que está tirando de letra a dupla missão, conta que a inspiração veio do seu entorno. Para levar a massoterapeuta Anita para a telinha, ela se inspirou nas suas trancistas.
— Queria que ela fosse como essas garotas que vivem no corre. Ela é muito parecida com as meninas que trabalham comigo, a Maia Boitrago, que trança meu cabelo no Rio, e a Welida Souza, que trança em São Paulo. Elas são jovens, gatas e muito seguras dos seus corpos. Ao mesmo tempo, têm algo no andar quase masculino para não dar brecha para os caras mexerem com elas. As duas sabem se virar nos ambientes, se defender. Elas também têm o lado do embate, que é bonito, seguro — diz a atriz , que também fala da composição de Clarice: — Pensei em fazer uma CEO incrível. Ela parece segura, mas não é, tem fragilidades. É uma mulher muito bem resolvida sexualmente, realmente pega todo mundo. Se joga, manipula as pessoas… É daquele tipo que seduz até o copo.
O assassinato de Clarice é um dos grandes mistérios da novela das sete e, mesmo com o seu reaparecimento em coma, o suspense continua. A personagem simulou a própria morte, mas o plano não deu tão certo e ela está hospitalizada desde então. A volta da protagonista era um caminho natural na história, acredita Taís.
— Eu descobri que Clarice estava viva há menos de um mês. Para mim, ela estava morta e eu garanti isso para todo mundo (risos). Quando ela acordar do coma, terá várias cenas legais. Vai sair aprontando com todo mundo. O público estava querendo isso. As pessoas não aceitavam muito que ela tinha morrido. Acho que os telespectadores podem esperar o que uma boa novela traz: conflito, tensão e romance — afirma ela, que insistiu para que a autora da novela, Claudia Souto, contasse para ela desde o início os segredos da trama, mas não adiantou: — Tem coisas que Claudia não conta para ninguém. Eu ainda falei para ela que sabia guardar segredo. Em “Amor de mãe”, eu sempre soube que o personagem do Humberto Carrão era meu filho e não da Regina Casé. Lembro de eles fazendo assim a cena superemocionados e eu ficava rindo por dentro!
Em breve, a atriz vai viver a experiência de um triângulo amoroso dela com ela mesma, já que Clarice tinha uma relação com Ítalo (Paulo Lessa) antes de sua suposta morte, e agora o rapaz se envolve com Anita. Para isso, Taís conta com a ajuda de uma dublê, Greice Fontes.
— Quando Greice está vestida de Clarice ou de Anita, todo mundo a confunde comigo. Não chega a ser minha sósia, mas fica bem parecida. Preciso muito dela para fazer essas cenas de dupla. Muitas vezes, quando uma das personagens está de costas, é ela, não sou eu. Nós temos o mesmo trabalho de estudar a cena. A gente joga junto — conta a atriz, que brinca: — Anita tinha que empurrar um carro de uma ribanceira. Me perguntaram se eu queria fazer e eu disse que não fazia a menor questão. Eu não tenho talento para sequências de ação. Já fico nervosa, acho que não vou fazer bem. Tenho medo, sou a maior cagona. A gente tem que saber para o que a gente serve nessa vida, né?
E se, na trama, Clarice tem uma sósia, Taís também parece ter várias na vida real. Pelo menos é o que costumam dizer as pessoas que a encontram pelas ruas.
— Acho que sou a pessoa que mais se parece com os outros no Brasil. Sempre encontro alguém na rua que fala que a sobrinha, a prima ou a irmã é a minha cara. É muita gente, não é pouca! Já vi algumas fotos e algumas lembram mesmo. Mas também há casos em que a pessoa acha tanto que parece que não tenho coragem de dizer que não (risos). Então, quando não é parecida, eu concordo para todo mundo ficar feliz.
Além disso, Taís tem uma cópia dentro da própria casa. Segundo a atriz, sua filha, Maria Antônia, é muito parecida com ela fisicamente.
— É engraçadíssimo olhar. Quando eu a arrumo para o colégio, parece que sou eu de novo. Não sei se quando ela crescer vai continuar tão parecida comigo. Mas enquanto é criança está igual. Só não vai dar para ser minha sósia porque eu tenho 36 anos de diferença para ela (risos). Na personalidade, ela também parece muito, mas da forma como sou hoje. Aí já é estranho. Uma criança de 7 anos que é toda despachada. Nessa idade, eu não era assim, não!
A mãe Taís
O grande público, porém, pode ser que não saiba da semelhança entre a atriz e a filha. Na contramão de muitos artistas, Taís e Lázaro optaram por não mostrar as crianças nas redes sociais.
— Pensamos em preservá-los até o momento em que eles peçam para aparecer. Mas até então não pediram. Seguimos desse jeito, e as crianças são bem felizes assim para falar a verdade. É claro que eles sabem que somos pessoas públicas, mas eu sou só a mãe deles. Eles nem ligam para o que fazemos, sério! Às vezes, fico tentando impressioná-los usando as pessoas que eu conheço e eles gostam. Para a Maria Antônia, eu falo “Sabia, Maria, que Iza é minha amiga?”. “Maria, eu vou conhecer a Gloria Groove!” (risos).
Taís considera a escolha de ser mãe a mais corajosa que fez na vida (veja abaixo). Entre os altos e baixos que a maternidade traz, ela celebra a vida que escolheu ter.
— A vida que eu tenho hoje é a que eu sempre quis. Ter dois filhos, uma família. Eu não era louca por isso, não. Só que, quando decidi ter, a minha vontade foi muito latente, verdadeira e forte — diz ela, que completa: — Não vou dizer que a minha vida é mais tranquila que antes, mas ela é muito preenchida pelos meus filhos. Eles me mudaram muito. Tudo o que faço e desejo de fazer é muito motivado pela chegada deles. Tem dias em que fico triste com a mãe que sou, com a própria maternidade, com todo o peso que há nisso. É muita responsabilidade. Mas, se me perguntarem se eu quero ter a vida que eu tinha sem filhos, eu não quero, não.
João, o filho mais velho de Taís, já está quase entrando na pré-adolescência, mas ela diz que não pensa ainda no assunto porque “vai trabalhando de acordo com a demanda”. Em casa, quando Maria questiona por que não pode fazer tal coisa e o irmão sim, a atriz explica que é apenas por conta da idade e não do gênero. Racismo e preconceito também são temas de conversas na casa da artista, apesar de as crianças nunca terem sido vítimas de um caso como o dos filhos de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, que foram ofendidos publicamente por uma mulher em Portugal.
— Até agora eu nunca testemunhei algo como Giovanna testemunhou. Mas vivo dialogando com as crianças sobre o assunto. Hoje em dia, eu falo, mas eu demorei para entrar nesse tema, porque eu não queria tirar deles o direito de viver uma infância plena. Achava que eles não tinham que saber o que não era adequado para a idade deles. Mas a gente conversa muito para ensiná-los a se defender. Isso passa por vários caminhos. Às vezes é verbalizar que não gosta. Às vezes é sair de perto. Às vezes é falar com algum adulto que está próximo. Saber se defender é importante.
A missão de Taís
Com 27 anos de carreira, a atriz, que viveu a sua primeira e histórica protagonista em “Xica da Silva” (1996, na TV Manchete) com apenas 18 , fica feliz por poder ser exemplo para outros artistas.
— Meu trabalho é o meu propósito na vida. É muito legal ocupar esse lugar na sociedade. Vejo como uma missão. Não tenho dúvida de que estou no lugar certo, fazendo a coisa certa. Essa profissão, além de emocionar as pessoas e a mim mesma, me motiva muito a querer viver, fazer melhor, fazer mais. Meu encontro com a atuação é uma das coisas mais lindas que eu vivo — conclui ela, que relembra algumas de suas personagens marcantes: — Acho que as mais populares são Xica da Silva e Preta, de “A cor do pecado” (2004). Eu tinha muita vontade de fazer Xica com experiência. Mas eu também adoro, por exemplo, a Ellen de “Cobras e lagartos” (2006). A televisão me oferece muito heroínas, já fiz muitas. Eles acham que eu tenho cara de boazinha. Alimento o desejo de fazer mais vilãs.
Apesar da bela trajetória, Taís não é diferente de tantas outras pessoas que encaram suas questões para conquistar seu espaço. Foram muitos “nãos”, e até hoje, ela conta, tem que botar limites por onde passa. A síndrome de impostora também é uma das dificuldades que ela enfrenta.
— Eu tenho tendência a ser mais conciliadora. Mas tem coisas que eu, realmente, não negocio, como falta de respeito. O tempo inteiro as pessoas tentam atravessar a gente de alguma maneira e tenho que botar limite — entrega ela, que acrescenta: — Recebi os “nãos” como todo mundo recebe, chorando, ficando triste, mal, às vezes me abatendo. Não posso falar que “Fui lá e fiz!”. Sempre me senti péssima, duvidei de mim, assim como todo mundo. Mas fui seguindo. Eu não parei por mais triste e frustrada que eu ficasse. Mas a síndrome de impostora é a coisa mais difícil de a gente vencer, mulheres então… Num país tão machista como este, parece que a gente nunca merece o lugar que a gente ocupa. É muito estranho, mas eu tento me livrar disso. É um exercício diário de acreditar em si, de dizer que conquistei porque batalhei e estudei.
Estabilidade parece ser a palavra de ordem para Taís. Além dos 27 anos de carreira, são 23 na Rede Globo, 16 com o mesmo analista, 15 com o mesmo assessor de imprensa… E, depois de amanhã, terça-feira, 18 com Lázaro Ramos. Os dois chegaram a se separar por menos de um ano, depois de “Cobras e lagartos”, trama em que trabalharam pela primeira vez juntos. A parceria na carreira, porém, não é mais um problema para o casal.
— Agora a gente ama, né? (risos) Já foi na peça “O topo da montanha”, na série “Mister Brau”, no filme “Medida provisória”… A gente encontrou uma maneira de trabalhar junto que é muito legal, que a gente não tinha antes. Não era bom, mas hoje em dia é. Espero que continue assim! — diverte-se a atriz, que diz inventar dicas para o relacionamento durar, de tanto que as pessoas perguntam: — Gente, não tem uma fórmula, não. Não tenho nem uma dica para dar. Às vezes, até fico inventando umas… Fico pensando na relação que a gente tem. Acho que as pessoas querem ouvir alguma coisa. Eu e Lázaro temos muitos planos juntos, de carreira e de vida pessoal. Talvez isso seja alguma coisa… Aqui é uma fábrica de sonhos. Vivemos sonhando.
E com o que Taís sonha no momento? Aos risos, ela confessa:
— Quando estou trabalhando, eu só sonho com férias. Sempre!
Até dezembro, ela grava “Cara e coragem”, mas em meio à correria arranja tempo para se exercitar.
— Faço exercício quase todo dia. Também tenho uma alimentação muito saudável, o que me deixa à vontade para chutar o balde quando quero. Meto o pé na jaca sem dó nem piedade — conta ela, que fala de outros cuidados com o corpo: — Vivo na dermatologista. Eu me cuido, faço “skincare”. Tenho o maior prazer. Não tenho o menor problema em fazer procedimentos estéticos, mas, além do silicone, não fiz nenhum. De tratamento, faço Sculptra, que é um bioestimulador para colágeno da pele. Esse, se pudesse, faria todo dia.
Na cara e na coragem
Do que você tem medo?
Sou bem medrosa. Tenho pavor de altura! Teve uma cena do primeiro capítulo da novela em que fui gravar num heliponto. Numa parte, o chão era todo de metal tramado. Então, dava para ver lá embaixo. A minha perna não mexia, eu estava morrendo de medo. O take não foi ao ar por causa da cara que eu fiz! (risos)
Tem medo de barata?
Barata eu corro atrás para matar!
Você se considera corajosa?
Eu não gosto de me arriscar. Não é algo que me motiva, pelo contrário.
Quem é a pessoa mais corajosa que já conheceu?
Qualquer brasileiro. Só tem gente corajosa aqui. O Brasil não te dá opção para não ter coragem.
Qual foi o seu maior ato de coragem na vida?
A maternidade. É muito bom, mas é muito difícil. Eu escolhi ser mãe e eu não me arrependo da minha escolha. Nem todo dia você fica feliz com a mãe que você é. Mas a maternidade é tão desafiadora, e pode ser tão bonita que eu prefiro olhar sempre pelo lado do que ela me desafia para o bem.