O frentista e rapper Roni Kléber, 35, e o tatuador Edmilson Peixoto de Lima, 32, trabalham na Vila Nova Cachoeirinha, na zona norte, e decidiram fazer do seu estúdio de tatuagem um espaço de leitura, em uma região com poucos livros em bibliotecas.
A ideia de montar uma biblioteca comunitária começou ano passado, quando tentaram apoio por meio do programa VAI (Valorização de Iniciativas Culturais), da Prefeitura de São Paulo, para criar uma ação semelhante ao Ruas Abertas no bairro, com serviços como cabeleireiro, manicure e emissão de documentos.
No entanto, eles não foram selecionados, mas a desclassificação fez Edmilson focar em uma outra iniciativa. Como a paixão de ambos foi sempre a leitura e viam a falta de bibliotecas na região, decidiram contribuir ao seu modo.
“Acredito que os jovens estão sem base. O próprio sistema faz isso”, afirma Edmilson. Para ele, que cresceu no bairro, os jovens sendo leitores conquistam mais oportunidades, tanto na vida profissional quanto na família. “Se conseguimos educar pessoas, formamos famílias estruturadas”, diz.
O acervo, aos poucos, está ganhando corpo com livros de ciências, história, geografia, religiões a obras infantis, histórias em quadrinhos, entre outros.
Haverá um catálogo virtual e outro físico, com controle de leitura, mas a devolução dos livros será na base da confiança. “Ninguém vai precisar usar comprovante de residência”, ressalta com relação às pessoas que enfrentam dificuldades de apresentar esse documento por morar em favelas.
A oportunidade será para pesquisas e ajudar quem não tenha internet. “Muitos não têm as mesmas oportunidades. Fazemos a periferia enxergar a periferia”, diz.
Segundo levantamento da Rede Nossa São Paulo, o distrito de Casa Verde/Cachoeirinha tem cerca de um livro infanto-juvenil em bibliotecas para cada dois moradores e cerca de um título adulto para cada dez adultos. A média recomendada pela Unesco é que cada bairro ofereça o equivalente a dois livros por habitante.
Nos últimos dez anos, o número de obras infantis na região caiu de 15 mil para 5.000, enquanto os de adultos teve queda de 30 mil para 25 mil.
Na comparação com outros bairros, a região da subprefeitura da Mooca, são 2,18 livros por habitante, enquanto em São Mateus e Cidade Ademar os índices chegam a zero.
Não há projetos de bibliotecas para a Cachoeirinha no plano de metas da gestão Fernando Haddad (PT). Para tentar atender à demanda, a Prefeitura de São Paulo tem o projeto ônibus-biblioteca, que está suspenso nas regiões norte, sul e leste da cidade.
A Secretaria Municipal de Cultura informou que aguarda decisão judicial devido à uma ação de uma empresa participante da licitação para contratação dos ônibus, mas não há prazo para retorno do serviço.
Kelly Mantovani, 22, é correspondente da Vila Nova Cachoeirinha
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Foto em destaque: Reprodução/ Folha de S.Paulo