Filmado inteiramente com iPhones 5S, Tangerine é o queridinho da última edição do festival Sundance, que rolou entre janeiro e fevereiro. O filme de Sean Baker chega ao circuito comercial americano em 10 de julho e já rendeu matérias em veículos de lá, como o New York Times e Los Angeles Magazine e até nos daqui, como O Globo.
Baker conseguiu resultados impressionantes com celulares, mas não dependeu só deles. O diretor e roteirista utilizou um adaptador anamórfico da Moondog Labs, que na época era só um protótipo, para obter uma área maior de filmagem e possibilitar a exibição em widescreen, além de corrigir distorções na edição. Sam também usou o aplicativo Filmic Pro, que refinou o controle do foco, abertura da lente e cor, e um steadicam para evitar imagens tremidas. No entanto, o interessante do longa não está somente no equipamento relativamente simples, mas na temática e principalmente em suas intérpretes.
O trabalho retrata o cotidiano de duas prostitutas transgêneras de Hollywood. Na noite de Natal, Sin-Dee (Kitana Kiki Rodriguez) sai da prisão e está de volta às ruas. Após uma conversa com a amiga Alexandra (Mya Taylor), descobre que seu namorado Chester (James Ransone) não tem sido fiel e saiu com uma garota cisgênera, o que rende um diálogo hilário entre as duas e vai fazer você querer assistir a essa epopeia. Veja o trailer:
Elas então saem em busca de confirmar o rumor e acabam se aventurando em diversas subculturas de Los Angeles, como uma família armênia que está lidando com as próprias consequências de infidelidade. O clima é de humor, mas também há sensibilidade e drama ao retratar a psique das protagonistas e os problemas fruto de sua condição, que é praticamente uma amálgama de minorias oprimidas: mulheres, transgêneras, pobres, profissionais do sexo, uma negra e outra latina.
O verdadeiro brilho e relevância de Tangerine residem no fato de que são atrizes trans interpretando personagens trans. Temos inúmeros exemplos de filmes e séries que retratam o assunto, comoTransamérica (2005, Duncan Tucker), M. Butterfly (1993, David Cronenberg), a série Transparent(criada por Jill Soloway), Má Educação (2004) e Tudo Sobre Minha Mãe (1999), ambos de Pedro Almodóvar. O que todos esses têm em comum? Todas as personagens transexuais são interpretadas por atores e atrizes cisgêneros, o que em si apaga a visibilidade da minoria T. A única exceção atual talvez seja Laverne Cox em Orange Is the New Black.