Tumulto na Caxemira e estupro de jovem mantêm Índia em sobressaltos

A Índia tem vivido dias de sobressalto após confrontos em sua fronteira com os paquistaneses e a morte de uma estudante após um violento estupro. O governo do país emitiu duras críticas ao Paquistão, nesta quarta-feira, devido ao confronto armado entre soldados de ambos os países na disputada região da Caxemira, em que dois militares indianos foram mortos. O incidente, porém, não deverá se transformar em uma crise diplomática plena. A Índia convocou o embaixador paquistanês em Nova Délhi para apresentar um protesto pelo confronto de terça-feira, e acusou os soldados do país vizinho de adotarem um comportamento “bárbaro e desumano”. Autoridades indianas disseram que os paquistaneses cruzaram a militarizada Linha de Controle da Caxemira e dispararam contra uma patrulha da Índia.

O corpo de um dos soldados foi achado mutilado em uma mata no lado controlado pela Índia, segundo Rajesh K. Kalia, porta-voz do Comando Norte do Exército indiano. Mas ele negou relatos da imprensa indiana de que um dos corpos teria sido decapitado, e que outro teria tido a garganta cortada.

“Dois soldados indianos foram mortos no ataque, e seus corpos foram submetidos a mutilações bárbaras e desumanas”, disse a chancelaria indiana em nota, sem descer a detalhes sobre a violência cometida contra os militares.

O ministro indiano da Defesa descreveu o incidente como “altamente provocativo”, mas seu colega das Relações Exteriores buscou acalmar a situação, dizendo que o caso não deve prejudicar os atuais esforços de aproximação entre os dois rivais.

– Acho importante no longo prazo que o que aconteceu não seja ampliado. Não podemos e não devemos permitir a escalada de qualquer evento prejudicial como este. Precisamos ser cuidadosos para que as forças… que tentam descarrilar todo o bom trabalho que tem sido feito pela normalização (das relações) não tenham sucesso – disse Salman Khurshid em entrevista coletiva. Khurshid não explicou a quais forças se referia.

Índia e Paquistão já travaram três guerras desde sua independência, em 1947, sendo duas delas por causa da Caxemira. Ambos os países possuem armas nucleares. Disparos e pequenas escaramuças são comuns ao longo dos 740 quilômetros da Linha de Controle, apesar de um cessar-fogo e da gradual melhora nas relações. O Exército indiano diz que oito dos seus soldados foram mortos em 75 incidentes ocorridos em 2012. Mas incursões de qualquer das partes são raras, e uma reportagem da imprensa indiana disse que o incidente de terça-feira – a 600 metros da fronteira “de facto”- marcou “o primeiro grande ingresso” desde o cessar-fogo de 2003.

A Índia considera que toda a região da Caxemira, um cenário de montes nevados e vales férteis, com população majoritariamente muçulmana, pertence a seu território. Já o Paquistão cobra a implementação de uma resolução de 1948 da ONU que estabelece a realização de um plebiscito para que os caxemires decidam a qual país querem pertencer.

Estupro
Outro ponto de inquietação na Índia é a questão do estupro a uma jovem, por vários homens, dentro de um ônibus na periferia da capital Nova Délhi. Três dos homens acusados de participação no estupro e morte de uma estudante indiana em dezembro vão se declarar inocentes, disseram seus advogados nesta quarta-feira, citando lapsos na investigação policial. O caso da aluna de fisioterapia de 23 anos, que morreu duas semanas depois de ser atacada dentro de um ônibus em movimento e em seguida atirada na rua, causou protestos na Índia, abrindo um debate sobre a suposta incapacidade da polícia em coibir a violência contra as mulheres.

Cinco homens foram indiciados por acusações que incluem homicídio, estupro e sequestro. Um sexto envolvido está sendo investigado separadamente, para determinar se é de fato menor de 18 anos, como ele diz ser. Caso isso seja confirmado, ele deve ser submetido a um juizado de menores, e poderá ser internado em um reformatório por até três anos. O advogado Manohar Lal Sharma, que representa o motorista do ônibus, o irmão dele e outro homem, disse que está ansioso para que o processo siga para julgamento, de modo que as provas policiais possam ser contestadas.
– Nós vamos declarar a inocência. Queremos que isso vá a julgamento. Estamos só ouvindo o que a polícia está dizendo. Isso é indício manipulado. É tudo na base do ouvir dizer e da suposição – disse Sharma à agência inglesa de notícias Reuters.

Não está claro se os outros dois acusados adultos constituíram advogado. Sharma disse que a polícia acelerou a investigação contra os cinco homens, apesar da incerteza sobre a idade do sexto envolvido, que atraiu a vítima e um amigo dela para dentro do ônibus e que, segundo relatos vindos à tona, teria sido o mais brutal dos agressores.
– Quando você não estabeleceu nem a idade dessa pessoa, como você pode ir à corte imputando acusações contra os outros, e dizer que suas investigações estão completas. Todos nós sabemos como as investigações judiciais são realizadas na Índia – disse Sharma.

Durante vários dias depois da prisão, ocorrida logo depois do incidente, os cinco acusados comprovadamente adultos ficaram sem advogados, porque nenhum profissional se dispunha a defendê-los. A polícia interrogou prolongadamente os homens na ausência de advogados, e diz ter confissões gravadas. Juristas dizem que a falta de representação jurídica para os suspeitos pode dar margem a recursos caso eles sejam condenados.

Sharma e outro advogado, V. K. Anand, se ofereceram para defender os cinco réus quando eles compareceram à primeira audiência judicial em Nova Délhi, na segunda-feira.

 

 

Fonte: Correio do Brasil

+ sobre o tema

O racismo também mata mulheres

Hoje, 25 de novembro, Dia Internacional da Luta Pelo...

Mulheres que fazem seus países avançarem

São líderes defensoras dos direitos das mulheres e outros...

Como amar um corpo fora do padrão? Três mulheres toparam esse desafio conosco!

Gordura, maternidade, paralisia. Elas falam de suas inseguranças e...

para lembrar

Morte de Marielle desmascarou cultura racista

Em 14 de março, quando a vereadora Marielle Franco, do...

Zona leste de SP recebe curso de formação política para mulheres negras

Realizado no Espaço Adebanke, em Artur Alvim, as inscrições...

Restaurante exclui casal gay de promoção e é alvo de boicote em Araraquara

Post anunciava rodízio para casal, especificando ser para 'homem...

A voz das mulheres negras toma conta do Festival Latinidades

No próximo dia 25 celebra-se o Dia Internacional da...
spot_imgspot_img

Prêmio Faz Diferença 2024: os finalistas na categoria Diversidade

Liderança feminina, Ana Fontes é a Chair do W20 Brasil, grupo oficial de engajamento do G20 em favor das mulheres. Desde 2017, quando a Austrália sediou...

Dona Ivone Lara, senhora da canção, é celebrada na passagem dos seus 104 anos

No próximo dia 13 comemora-se o Dia Nacional da Mulher Sambista, data consagrada ao nascimento da assistente social, cantora e compositora Yvonne Lara da Costa, nome...

Mulheres recebem 20% a menos que homens no Brasil

As mulheres brasileiras receberam salários, em média, 20,9% menores do que os homens em 2024 em mais de 53 mil estabelecimentos pesquisados com 100...
-+=