UFMA: Racismo e preconceito sociorracial mesma Universidade novos casos

POR SAMANTHA FERNANDES

Estudantes denunciam caso de preconceito sociorracial na Ufma

Estudantes do primeiro período do curso de Direito da Universidade Federal do Maranhão (Ufma) denunciaram ontem ao Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neab) da universidade um caso de suposto preconceito sociorracial, que teria sido praticado na instituição. Os alunos afirmam que o professor Alonso Reis Siqueira Freire, que ministrou, no primeiro semestre, a disciplina Introdução ao Estudo do Direito, praticou segregação dos alunos com maior poder aquisitivo brancos dos mais carentes e negros. No início de julho, o aluno nigeriano Nuhu Ayuba, de 21 anos, denunciou por racismo o professor José Cloves Verde Saraiva, 57, do curso de Engenharia Química da Ufma. A denúncia foi publicada em primeira mão pelo Jornal Pequeno e repercutiu nacionalmente. O professor Cloves se retratou.

 

Preconceito

Um aluno do curso de Direito da Ufma – que preferiu não se identificar, com medo de represálias – afirmou à reportagem do JP que o professor Alonso Freire praticava preconceito na metodologia utilizada em sala de aula. Ele contou que 13 alunos do turno matutino ficaram reprovados na disciplina ministrada pelo professor acusado e 35 do turno da noite desistiram ou reprovaram.

“A disciplina Introdução ao Estudo do Direito é pré-requisito para outras matérias do segundo semestre. Todos os que ficaram reprovados ou são pobres ou são pobres e negros. Acreditamos que existe sim um preconceito mascarado nas atitudes do professor, uma vez que ele disse em sala de aula que a Ufma não sabe fazer a seleção dos alunos, e ele, enquanto professor, iria fazer a triagem dos melhores”, afirmou o estudante.

A reportagem do JP conversou com outros calouros do curso de Direito e eles afirmaram ter presenciado vários indícios de preconceito durante as aulas. Um deles contou que um colega de turma, que é negro, teve um grave problema de saúde e apresentou atestado médico pedindo prova de segunda chamada, mas o professor negou o pedido, sendo que concedeu prova de segunda chamada a outros alunos que viajaram a passeio para outros países.

“Então, como nós não possuímos poder aquisitivo para viajar para a Europa não temos o direito de fazer uma segunda prova? E o motivo do aluno era doença. Ele nos pressiona a desistir do curso nos reprovando, sabendo que é quase impossível continuar na universidade sem a conclusão da cadeira”, afirmou o estudante.

Os alunos afirmaram que o professor Freire protelou o fim da disciplina até o dia 2 deste mês, sendo que o período de matrícula encerrou no dia 31 do mês passado. Segundo os estudantes, o professor atrasou o fim da cadeira para que os alunos ficassem reprovados e não conseguissem se matricular para o próximo semestre.

Os calouros contaram ainda que o professor escolhia sempre alunos brancos para explicar questões levantadas durante as discussões em sala de aula valendo 2,5 pontos.

Segundo os estudantes, se um negro ou desfavorecido socialmente se manifestasse para responder, mesmo respondendo de forma correta a questão, não obtinha os 2,5 pontos.

Uma estudante contou que numa prova oral, com duas questões, cada uma valendo cinco pontos, ela respondeu corretamente às duas questões, mas ele fez outras perguntas até que ela errasse.

“Eu sou mais uma das que ele marcou desde o início do período. Além de ser pobre, não concordei com algumas teses defendidas por ele em sala; por isso, fui perseguida pelo professor”, contou a estudante.

Ideias nazistas

O professor Alonso Reis, também foi acusado pelos alunos de defender ideias associadas ao nazismo. “Em uma aula ele falou que infelizmente no nosso país, diferentemente de outros, não temos a liberdade de dizer que temos preconceito contra negro, judeu, homossexual. Ele disse que preconceito contra judeu até podemos ter, matar é que é o problema”, afirmou um dos estudantes.

Os estudantes informaram que havia em torno de 100 alunos matriculados na disciplina de Introdução ao Estudo do Direito. Destes, 47 reprovaram e 90 por cento dos reprovados eram estudantes negros.

Um dos alunos que ficou reprovado na disciplina afirmou que não vai desistir. “O curso de Direito sempre foi um sonho, e não é por causa de pessoas assim, como o professor Freire, que vou desistir. Pretendo cumprir meu papel social, agora enquanto estudante, e no futuro como bacharel em Direito”, disse o calouro.

Os alunos do primeiro período do curso de Direito da Ufma já entraram com uma ação anônima no Ministério Público Federal (MPF) contra o professor Alonso Reis. “Temos muito medo do que pode acontecer. Ainda vivemos num Maranhão oligárquico comandados por quem tem influência política. Sabemos que essa denúncia pode acabar com carreiras que ainda nem começamos a construir, principalmente porque o professor Freire é irmão do coordenador do curso de Direito da Ufma, Alexandre Reis Siqueira Freire, e parente do senador Mauro Fecury”, declarou um estudante.

Após a reunião realizada ontem pela manhã com os estudantes do curso de Direito, a coordenação do Neab informou que vai apurar e esclarecer as denúncias apresentadas pelos alunos.

Outro lado

O professor Alonso Reis foi procurado ontem pela manhã pela reportagem do JP na Coordenação do curso de Direito da Ufma, mas não foi encontrado.

Fonte: Jornal Pequeno

+ sobre o tema

Prisão de torcedores deveria servir de exemplo para o futebol brasileiro

A condenação de três torcedores racistas na Espanha demonstra...

Refletindo sobre a Cidadania em um Estado de Direitos Abusivos

Em um momento em que nos vemos confrontados com...

“Pedimos desculpas (…) Admitimos que a capa é racista!”

Noite de segunda-feira em São Paulo. O calor infernal...

para lembrar

Extermínio de jovens negros preocupa autoridades brasileiras

Brasília – A violência contra a juventude negra foi...

Longevidade para poucos

A expectativa de vida de brasileiras e brasileiros voltou...
spot_imgspot_img

Construção de um país mais justo exige reforma tributária progressiva

Tem sido crescente a minha preocupação com a concentração de riqueza e o combate às desigualdades no Brasil. Já me posicionei publicamente a favor da taxação progressiva dos chamados...

Juiz condena alunas do Vera Cruz por racismo contra filha de Samara Felippo

A Justiça de São Paulo decidiu, em primeira instância, pela condenação de duas alunas por ofensas racistas contra a filha da atriz Samara Felippo. O...

Shopping Higienópolis registrou ao menos 5 casos de racismo em 7 anos

O shopping denunciado por uma família após uma abordagem racista contra adolescentes já registrou ao menos outros quatro casos semelhantes nos últimos sete anos. O...
-+=