Única transexual coordenadora de Diversidade Sexual na Baixada quer capacitar guardas para abordar público LGBT

O primeiro amor da adolescência, o primeiro beijo aos 11 anos, a primeira lingerie aos 15. Experiências comuns no universo feminino foram vividas por Paulinha, mas ela também teve que conhecer o preconceito e a violência. Aos 16, foi espancada por 14 homens. Tudo porque Paulinha, hoje com 50 anos, nasceu Paulo Roberto de Oliveira. Num corpo masculino, ela jamais conseguiu se reconhecer.

Por Cíntia Cruz, do Extra 

Há dois meses, ela comanda a Coordenadoria de Diversidade Sexual de Mesquita. É a única transexual num cargo público de coordenação na Baixada Fluminense.

— A imagem do homem em mim me incomodava. Lembro que meu pai me mandava sentar como homem. Eu vestia roupas das minhas irmãs escondido e não conseguia usar o banheiro masculino. Na escola, fui suspensa três vezes por usar o banheiro das mulheres — lembra Paulinha Única (nome social), que foi morar na cidade aos 10, quando os pais se divorciaram.

Apesar do autoritarismo paterno, foi na família que encontrou apoio. Concluiu um curso de cabeleireiro pago pelo pai e ganhou uma profissão. Chegou a cortar o cabelo do atual prefeito, Jorge Miranda, quando ele tinha 13 anos.

A militância também chegou cedo em sua vida. Ela fazia shows como transformista e promovia bingos, todos beneficentes, para arrecadar donativos para um orfanato. Também organizava concursos de beleza infantil.

Paulinha Única é a única cordenadora de Diversidade Sexual na Baixada Fluminense Foto: Cléber Júnior / Agência O Globo

— As crianças gostavam de mim e eu comecei a ganhar respeito pelas coisas que fazia. Participava de atos mesmo sem ser convidada — lembra.

Paralelamente, os convites para a política surgiram, mas só ano passado ela se candidatou a vereadora pelo PTdoB.

— Vim candidata, mas nunca fiz acordo. O prefeito reconheceu o que fiz no passado e me fez o convite.

Capacitação para combater o preconceito

Paulinha quer que o público LGBT de Mesquita tenha mais oportunidades e direitos. Uma das propostas é capacitar os guardas municipais na abordagem a eles:

— Já fui tratada com preconceito por um guarda porque sou transexual. Fui pedir uma informação e ele nem se virou para responder.

Ela quer divulgar prevenção às DSTs e Aids, fazer orientação nas escolas para combate ao preconceito, oferecer tratamento hormonal a transexuais e cursos profissionalizantes a LGBTs, acompanhamento social e de saúde a LGBTs da terceira idade.

 

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