FLÁVIA FOREQUE
Das 63 universidades federais no país, 37 (58,7%) reservam metade das vagas para alunos que vêm da rede pública, de acordo com levantamento feito pela Folha.
A situação atual foi motivada pela lei federal de cotas, que definiu o ano de 2016 como prazo para aplicar o percentual de 50%.
Em um ano, o número de alunos que recebem assistência estudantil na Universidade Federal de Alfenas (MG) cresceu 56%. Na federal de Roraima, foi criado um projeto-piloto de monitoria para cálculo, disciplina da graduação de matemática de maior evasão na instituição.
A implantação maciça da ação afirmativa gerou novas demandas no espaço universitário e impactou o orçamento das federais, segundo relato das instituições.
“As demandas decorrentes dessa transformação são muitas, contudo os recursos orçamentários e humanos não têm acompanhado tais necessidades”, critica a Unifesp (SP).
Hoje, a universidade reserva 25% das vagas a cotistas.
Na Univasf (federal do Vale do São Francisco, PE), 40% da demanda por assistência não é atendida.
A Pró-Reitora de Assistência Estudantil da federal, Isabel Angelim, reconhece que houve aumento de recursos nos últimos anos, mas ainda assim insuficiente, afirma.
Ela conta que, no ano passado, a Univasf recebeu R$ 2,5 milhões para benefícios –o que inclui auxílios para alimentação, transporte e moradia, por exemplo.
Neste ano, a verba chegou a R$ 4,5 milhões, mas a pró-reitora afirma ser necessário R$ 7 milhões.
Em 2014, o Pnaes (Plano Nacional de Assistência Estudantil), programa do Ministério da Educação, tem orçamento de R$ 742,7 milhões para as federais, o que representa aumento de 23% em relação ao ano anterior. Apesar do incremento, há reclamações.
PEDIDOS
As federais reivindicam, também, recursos extras para programas de tutoria voltada aos cotistas. O Ministério da Educação afirma que os recursos repassados atualmente são suficientes para atender a demanda das federais
Um programa nacional de apoio pedagógico a alunos com desempenho abaixo da média chegou a ser prometido pelo então ministro Aloizio Mercadante, em 2012, após a aprovação da lei, mas não saiu do papel.
Diversas instituições, no entanto, já adotaram a iniciativa por conta própria.
“Muitas vezes a gente acha que ação afirmativa é só reserva de vagas, mas não é”, diz Marcelo Tragtenberg, presidente da comissão de acompanhamento da política de ações afirmativas da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
Ele defende ações para introduzir estudantes “historicamente excluídos” dos “códigos acadêmicos”.
“Muitos [alunos que ingressam nas instituições] vêm sem cultura universitária: não sabem tirar um livro da biblioteca porque não tinha uma na escola”, afirma Tragtenberg.
Fonte: Folha de São Paulo