Veganismo antirracista: Conheça a estudante da periferia que milita pelo movimento

O veganismo, prática de se abster do uso de produtos de origem animal, não é um estilo de vida caro. É o que garante a estudante de direito Luciene Santos, de 25 anos, em conversa com CartaCapital. A moradora do Jaraguá, bairro na periferia de São Paulo, criou um perfil nas redes sociais para desmitificar a ideia de que só rico pode se tornar vegano.

Negra, periférica e LGBT, Luciene tornou-se vegana em 2018, quando assistiu a um documentário que mostrava a violência sofrida pelos animais em abatedouros.

Sete meses depois, criou o perfil “Sapa Vegana” com o objetivo de compartilhar com amigos próximos receitas acessíveis e nutritivas.

A estudante conta que o resultado inicial da experiência foi a percepção de que seus amigos não tinham informação sobre alimentação.

“Assim como eu no passado, as pessoas apenas compravam os ingredientes e faziam da maneira que foram ensinadas, acreditando que aqueles eram os únicos alimentos possíveis”, diz.

“Nunca achei que ia crescer tanto. Com o tempo, eu fui entendendo a importância de falar sobre o veganismo para além da alimentação, que precisa ser acessível e entender outras opressões”, conta a estudante, que hoje soma mais de 130 mil seguidores em suas redes.

O que é um veganismo antirracista?

O veganismo cresce no Brasil. Segundo uma pesquisa do Ibope, divulgada em 2018, houve um aumento de 14% dos adeptos do estilo de vida, mas ainda é uma prática adotada por pessoas com maior concentração de renda, de acordo com o levantamento.

Por isso, Luciene enxerga a necessidade de se fazer um veganismo antirracista. “Essa ideia que ser vegano é elitista não surge do nada. Muitas vezes o discurso fica limitado a determinados grupos de pessoas privilegiadas financeiramente. Precisamos de um movimento que entenda a realidade da população brasileira”, diz.

“Os ativismos precisam conversar para se fortalecer. O veganismo que eu defendo faz conexão com outras causas, outras lutas e não coloca a exploração animal como única questão a ser resolvida. Se a gente está falando de um movimento que quer se espalhar, que quer ganhar cada vez mais adeptos, precisamos entender que essa população que o veganismo precisa chegar tem demandas, e as demandas também precisam ser consideradas”, diz.

Luciene chama atenção para o fato de empresas terem encontrado nesse público um nicho de mercado.

“Se você for no mercado e encontrar produto com rótulo vegano, muito provavelmente vai ser mais caro que um produto semelhante, mas com origem animal. Aí cria-se essa ideia que o veganismo é caro e elitista. É importante entender que algumas empresas veem o veganismo como um nicho de mercado”, ressalta.

Luciene mora sozinha e se mantém com um salário de estagiária. Quando saiu de um emprego CLT para o estágio, ela conta que o veganismo foi essencial para manter uma boa saúde.

“Aprender a me alimentar de maneira acessível foi essencial para minha saúde física e financeira e é isso que tento passar para todo mundo”, diz a influencer.

+ sobre o tema

“Enquanto me beijava, ele tentava me atirar pela janela.”

A violência doméstica, crime silencioso e invisível, por muito...

Léa Garcia foi nome importante da arte contra o racismo

A arte brasileira perdeu um de seus maiores representantes...

Denúncia: Prostitutas que defendem o reconhecimento da profissão são assassinadas em Belém

A revelação é da coordenadora do Observatório da Prostituição...

Entrada de transexuais em universidades trará mudanças sociais, diz ativista

Quantas pessoas trans frequentam a sua casa?" Em um...

para lembrar

Nota de falecimento – Maria da Penha Santos Lopes Guimarães

É com profundo pesar que a Seção São Paulo...

‘Não fazia sentido esconder quem eu amo e respeito’, diz prefeito de Lins

Edgar de Souza assumiu homossexualidade na campanha de 2012. Ele...

Os monstros da minha casa

Desenhos de crianças retratando o abuso que sofreram Esses são...
spot_imgspot_img

Mulheres Negras se mobilizam para 2ª Marcha por Reparação e Bem Viver

No dia 25 de novembro de 2025, mulheres negras de todo o país estarão em Brasília para a 2ª Marcha das Mulheres Negras por...

Carolina Maria de Jesus: conheça a escritora que pode se tornar a nova heroína da Pátria

A Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que inscreve o nome da escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977) no Livro dos Heróis e...

ONG Criola lança iniciativa pioneira para combate ao racismo no atendimento às mulheres negras no sistema público de saúde 

Mulheres negras de dez municípios da Região Metropolitana do Rio de Janeiro ganham uma nova ferramenta de combate ao racismo no sistema público de...
-+=