O veganismo, prática de se abster do uso de produtos de origem animal, não é um estilo de vida caro. É o que garante a estudante de direito Luciene Santos, de 25 anos, em conversa com CartaCapital. A moradora do Jaraguá, bairro na periferia de São Paulo, criou um perfil nas redes sociais para desmitificar a ideia de que só rico pode se tornar vegano.
Negra, periférica e LGBT, Luciene tornou-se vegana em 2018, quando assistiu a um documentário que mostrava a violência sofrida pelos animais em abatedouros.
Sete meses depois, criou o perfil “Sapa Vegana” com o objetivo de compartilhar com amigos próximos receitas acessíveis e nutritivas.
A estudante conta que o resultado inicial da experiência foi a percepção de que seus amigos não tinham informação sobre alimentação.
“Assim como eu no passado, as pessoas apenas compravam os ingredientes e faziam da maneira que foram ensinadas, acreditando que aqueles eram os únicos alimentos possíveis”, diz.
Dia de feira!
Hoje comprei tomate, melancia, manga, mamão, brócolis, couve flor, manjericão, alecrim, coentro, maçã, limão, banana e pimentão.
Tudo deu R$ 36,00 pic.twitter.com/Zkw9xPV2Wb
— Luciene Santos (@sapavegana) September 19, 2020
“Nunca achei que ia crescer tanto. Com o tempo, eu fui entendendo a importância de falar sobre o veganismo para além da alimentação, que precisa ser acessível e entender outras opressões”, conta a estudante, que hoje soma mais de 130 mil seguidores em suas redes.
O que é um veganismo antirracista?
O veganismo cresce no Brasil. Segundo uma pesquisa do Ibope, divulgada em 2018, houve um aumento de 14% dos adeptos do estilo de vida, mas ainda é uma prática adotada por pessoas com maior concentração de renda, de acordo com o levantamento.
Por isso, Luciene enxerga a necessidade de se fazer um veganismo antirracista. “Essa ideia que ser vegano é elitista não surge do nada. Muitas vezes o discurso fica limitado a determinados grupos de pessoas privilegiadas financeiramente. Precisamos de um movimento que entenda a realidade da população brasileira”, diz.
E é por isso também que não tem como falar de veganismo sem falar de classe e raça
Se o vegano que você acompanha fala que todos os seres humanos são privilegiados, ruins, e apenas os animais merecem nossa preocupação e cuidado, fique esperto e procure discursos mais coerentes https://t.co/lncaO902aL
— Luciene Santos (@sapavegana) September 8, 2020
“Os ativismos precisam conversar para se fortalecer. O veganismo que eu defendo faz conexão com outras causas, outras lutas e não coloca a exploração animal como única questão a ser resolvida. Se a gente está falando de um movimento que quer se espalhar, que quer ganhar cada vez mais adeptos, precisamos entender que essa população que o veganismo precisa chegar tem demandas, e as demandas também precisam ser consideradas”, diz.
Luciene chama atenção para o fato de empresas terem encontrado nesse público um nicho de mercado.
“Se você for no mercado e encontrar produto com rótulo vegano, muito provavelmente vai ser mais caro que um produto semelhante, mas com origem animal. Aí cria-se essa ideia que o veganismo é caro e elitista. É importante entender que algumas empresas veem o veganismo como um nicho de mercado”, ressalta.
Para todas as pessoas q já falaram “quero ver comida vegana chegar em pessoas pobres”
veja
milho cozido, arroz, feijão, tofu, laranja e salada de couve manteiga, acelga, repolho roxo, alho poró, cebola e tomate, temperada com suco de limão, sal e azeite, e semente de girassol. pic.twitter.com/iH2B53jnaJ
— Luciene Santos (@sapavegana) September 6, 2020
Luciene mora sozinha e se mantém com um salário de estagiária. Quando saiu de um emprego CLT para o estágio, ela conta que o veganismo foi essencial para manter uma boa saúde.
“Aprender a me alimentar de maneira acessível foi essencial para minha saúde física e financeira e é isso que tento passar para todo mundo”, diz a influencer.