Quatro vereadoras e um vereador membros da Bancada Negra da Câmara Municipal de Porto Alegre foram ameaçados de morte no fim da tarde desta segunda (6). A mensagem foi enviada por email para os contatos institucionais dos parlamentares.
No texto, ao qual a Folha teve acesso, o autor da ameaça usa expressões racistas, homofóbicas e lesbofóbicas contra os parlamentares, cita armas e descreve a forma pela qual cumpriria a ameaça. O autor também diz morar no Rio de Janeiro e que viajaria para Porto Alegre com uma “passagem só de ida”.
Os membros da Bancada Negra registraram na manhã desta terça (7) um boletim de ocorrência na Delegacia de Repressão aos Crimes Informáticos da Polícia Civil de Porto Alegre.
A ameaça leva assinatura de um nome de iniciais RWA, porém, já se sabe que a assinatura é falsa e que a pessoa indicada já teve seu nome utilizado em ameaças a outros parlamentares.
Para a Bancada Negra de Porto Alegre, a autoria da ameaça é do grupo de ódio Dogolachan, criado em 2013, e responsável por uma série de ameaças feitas em 2020.
A assinatura falsa em nome de RWA* —que é vítima do grupo desde 2017— foi utilizada em pelo menos nove outras ameaças de morte, segundo reportagem do UOL publicada em dezembro de 2020.
Ao todo, quatro vereadoras e vereadores de Belo Horizonte, Curitiba e Joinville, Duda Salabert (PDT), Caroline Dartora (PT), Alisson Julio (Novo) e Ana Lúcia Martins (PT), respectivamente, duas deputadas federais, Taliria Petrone (PSOL) e Carla Zambelli (PSL), a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL), o ex-deputado Jean Wyllys e a prefeita de Bauru, Suéllen Rosim (Patriota) foram alvos do grupo de ódio.
A Bancada Negra de Porto Alegre é composta pelas vereadoras Daiana Santos, Karen Santos (PSOL), Bruna Rodrigues (PCdoB), Laura Sito (PT) e pelo vereador Matheus Gomes (PSOL). Dos cinco parlamentares, três estão entre os dez mais votados da cidade em 2020. Karen Santos foi a mais votada com 15.702 votos, Matheus Gomes ficou em quinto, com 9.869 votos e Laura Sito, em décimo, com 5.390 votos.
SEGUNDA AMEAÇA DE MORTE
Essa é a segunda vez em 2021 que o vereador Matheus Gomes recebe uma ameaça de morte. A primeira chegou ao seu email em janeiro, após um protesto realizado pela Bancada Negra durante a execução do hino do Rio Grande do Sul em 1º de janeiro, na cerimônia de posse dos novos vereadores.
Após a experiência, o vereador passou a adotar uma certa rotina em casos de agressões de cunho racial ou ameaças. “Nessas horas, a primeira coisa que faço é avisar a família para que minha mãe e meu pai não sejam pegos de surpresa com publicações de redes sociais ou da imprensa”, diz.
Para Gomes, as ameaças sofridas pela bancada negra devem ser tratadas como um ataque à democracia e não como mais um caso isolado.
“Saber que tem gente que deseja a minha morte por eu ser um jovem parlamentar negro, um questionador do racismo estrutural na capital mais segregada racialmente de todo o país, é angustiante, entristece e também revolta. Não desejo a ninguém ter que ler o que li.”