A vida feita a lápis

Por: Fernanda Pompeu

Ter opiniões fortes é apreciável. Uma pessoa com ideias fracas se torna mais vulnerável, estilo barquinho de papel no bravo oceano. Na minha história, o maior exemplo de um ser com ideais inquebráveis foi meu pai. Ele viveu e morreu acreditando que o socialismo significava a redenção e a glória da humanidade.

Eu também tenho ideias fortes. Semeio e águo alguns princípios. Entre eles, o de que somos livres para levarmos a vida que quisermos, com o único limite de não puxar o tapete, ou prejudicar intencionalmente o outro. Se tivesse que escolher um slogan para carregar no coração, seria: Viva e deixe viver.

Durante meu itinerário tem aparecido várias placas de advertência. Nelas, estão escritas em letras garrafais: Firmeza não é surdez. Interpreto a advertência como um convite para considerar outros pontos de vista. Ouvir a opinião diferente, ou mesmo contrária a minha, sem fingimento. Escutar o outro para, se for o caso, alargar meu próprio ponto de vista.

O argentino Jorge Luís Borges (1899-1986) – um dos maiores contistas do mundo – disse, em algum lugar, que a beleza do diálogo não está na disputa de pontos-de-vista, mas exatamente na mudança de uma certeza. É de fato um prazer quando nosso interlocutor consegue nos fazer ver melhor, ou pensar mais adiante.

Afinal, mesmo que seja difícil confessar, nós adoramos aprender. Pois aprender é acrescentar mais uma frutinha no nosso pomar. Ou para os mais pragmáticos, aprender é pôr mais uma moedinha no cofrinho. Daí, mais útil do que soltar a língua do nosso blablablá, é limpar os ouvidos e qualificar a visão.

Tento fazer a lição de casa de seguir sendo uma mulher com ideias fortes, mas aberta a opiniões laterais. Defender meus princípios sem violência nem sectarismo. Estou convencida que, até o último suspiro, somos seres capazes de mudar. Não mudar por modismo, diletantismo, falta do que fazer. Transformar-se para ver e sentir melhor as coisas do mundo e as coisas de dentro.

Lápis e borracha são ótimas ferramentas para a gente se transformar com baixa taxa de sofrimento. Nada de escrever à tinta nossos princípios e achismos. Caneta serve para preencher cheque ou cartão da Zona Azul. Já o escrito a lápis, nos oferece a chance de aperfeiçoarmos nossos pensamentos.

Fonte: Yahoo

+ sobre o tema

Sakamoto: Depois de muito tempo, este blog desce do pedestal e responde a um leitor

por Leonardo Sakamoto Detesto fazer o que chamo...

TIRIRICA E SARNEY

Por: Luis Fernando Veríssimo Richard Nixon certa vez...

Fica MUF: Museu de Favela está perdendo seu espaço

A ONG Museu de Favela - MUF é uma...

para lembrar

Livrar-se de si mesmo

Por Fernanda Pompeu É mais fácil enxergar nos outros valores...

Como não zerar na redação do Enem

Levei um susto com a notícia de que, no...

Alegrar a tristeza

Minha mãe, dona Nete, mora no bairro do Sumaré. Quem...

Provar

Por Fernanda Pompeu A primeira vez que entrei em uma...

Fátima Oliveira dos 1000 Legados

Temos trabalho e prazer para muitas gerações Por Fernanda Pompeu em seu blog  Em 2005, tive a honra e o prazer de entrevistar a médica Fátima Oliveira (1953-2017)....

A vida é raçuda

Alvorada Acordar cedo é fonte de sofrimento para Celina Macunis. Toda vez que é obrigada a sair da cama antes das 10, vivencia a espantosa...

Luiza Bairros (1953-2016)

Morreu no 12 de julho 2016 a grande Luiza Bairros. Ela foi de tudo: ativista, professora, ministra. Gaúcha e baiana. O texto que segue...
-+=