Wikileaks: Consulado em SP usou PowerPoint sobre Obama para melhorar imagem dos EUA

 

Em 2009, funcionários do Consulado dos Estados Unidos em São Paulo comentaram em documentos vazados pelo Wikileaks a respeito do “sucesso” que o uso da imagem do presidente norte-americano, Barack Obama, estaria tendo entre os brasileiros, após anos de anti-americanismo alimentado pelo governo de George W. Bush. O fato de ser negro e a biografia de Obama seriam os dois principais fatores para a simpatia do povo brasileiro com o novo presidente dos EUA.

Em despacho de 22 de maio daquele ano, o cônsul Thomas White se mostra positivamente surpreso pela longevidade da campanha de divulgação de Obama. Uma apresentação de PowerPoint com informações sobre sua história pessoal foi usada em palestras em escolas, centros comunitários e universidades. Ele ainda comenta que intelectuais frequentemente críticos aos EUA são atraídos pela biografia de Obama. Segundo dados do despacho, essa apresentação teria sido feita para mais de 4 mil pessoas em 11 eventos públicos pelo Brasil.

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“O presidente Obama é popular em muitos países, mas a reação brasileira tem sido particularmente forte nesta sociedade multi-racial”, descreve o cônsul. White ainda comenta que nas eleições municipais de 2008, quatro candidatos mudaram seus nomes para Obama. Ele completa afirmando que os afrodescendentes brasileiros sentem um misto de inveja e admiração pelo presidente e que sua eleição causou um alvoroço na consciência coletiva deste grupo no país. “O Brasil se orgulha de ser uma democracia racial, mas na realidade, os afro-brasileiros continuam marginalizados e sub-representados nos altos escalões da política e da sociedade”, escreve o despacho.

O cônsul alertou para o fato de que, mesmo tecendo elogios ao novo presidente, eles (norte-americanos) têm sido cada vez mais questionados sobre a crise financeira. “Normalmente essas perguntas giram em torno da ideia de que os EUA estão sendo hipócritas em suas políticas e fazendo coisas (como aumentar o dinheiro em circulação e investindo dinheiro público em bancos e montadoras) que já criticaram em relação a outros países”.

No final do despacho, White mostra preocupação que, em breve, o sucesso do presidente pode não ser suficiente para manter a boa imagem dos EUA e diz que o desafio é atrelar esse sucesso à própria experiência norte-americana.

Comunidade muçulmana

O chefe de Economia e Política do Consulado dos EUA em São Paulo, William Popp, escreveu dois documentos siplomáticos no dia 16 de julho descrevendo e comentando a reação da comunidade muçulmana no Brasil e da imprensa em relação ao discurso que Obama proferiu no Cairo sobre o Islã.

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No dia 4 de junho, Obama disse no Egito que os EUA não estão e nunca estarão em guerra com os muçulmanos. Ele reafirmou, porém, o combate a extremistas. O primeiro despacho trata da reação dos muçulmanos sunitas moderados que vivem no Brasil e que “estão ansiosos para trabalhar com os EUA”. Também diz que especialistas em política externa não-muçulmanos reagiram favoravelmente ao discurso.

“São Paulo abriga a maior comunidade muçulmana do Brasil. A grande maioria é sunita, de ascendência libanesa. Politicamente, eles variam de amigáveis aos EUA para altamente crítico de ambos, os EUA e Israel. Geralmente o Sheik mais interessado em se encntrar com nós (norte-americanos) têm menos influência na comunidade muçulmana”, descreveu Popp, que consultou vários Sheiks em São Paulo para a elaboração do documento.

Alguns “indicaram que o discurso do presidente tinha dado mais espaço para cooperar com os EUA”. O louvor veio com avisos, no entanto. “Sheik Saleh advertiu que os EUA tinham que acompanhar com ações os comentários do presidente. Haverá sempre os radicais que são impossíveis de conquistar, advertiu, e eles vão tomar a iniciativa, se não houver resultados”.

O Sheik Ali Saifi, chefe do Centro de Divulgação do Islã para a América Latina, questionou a descrição de Obama sobre a aliança EUA-Israel como “inquebrável” e afirmou que o presidente tinha omitido pontos-chave, como “o sofrimento dos palestinos, do massacre de inocentes o uso por Israel de munições norte-americanas proibidas, e novos assentamentos de Israel”. Saifi também criticou Obama por não pedir desculpas pelo “massacre de inocentes no Iraque, Afeganistão e Paquistão”.

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Sobre a imprensa, Popp comentou um artigo de Demétrio Magnoli no Estado de S. Paulo, onde o analista elogiou Obama, dizendo que o discurso maquineísta foi abandonado e que a fala do presidente traria de volta a credibilidade para os EUA.

No segundo despacho, Popp fala de possíveis atitudes e ações que os diplomatas norte-americanos podem ter com a comunidade muçulmana no Brasil para melhorar as relações. Um delas é fazer um “open house” no consulado para mostrar como é o processo de candidatura para obtenção de visto, um dos problemas seria que a negação de um visto é entendido como um problema político.

Popp também sugeriu um painel de “Espiritualidade Americana” ou “Diversidade Fé dos EUA” que falaria sobre a grande variedade de religiões representadas nos EUA e seu impacto no desenvolvimento do país. O envio também de algumas lideranças muçulmanas aos EUA para encontrar tanto muçulmanos e não-muçulmanos e na volta realizassem palestras sobre o assunto foi sugerido.

 

 

Fonte: Opera Mundi

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