XENOFOBIA e racismo: lugar-comum na cabeça da classe média brasileira

 

Voltando à questão da exploração do gás boliviano, recentemente tomei conhecimento de um texto que foi divulgado no Blog do Nassif, escrito por um certo André Araújo. Antes mesmo do pronunciamento da professora Maristela Basso, o texto é representante do pensamento racista e xenofóbico que habita a cabeça da classe média brasileira e influencia muitos trabalhadores que, por não terem acesso a outra fonte de informação, buscam suas fontes, majoritariamente, nos telejornais, onde a tal mentalidade racista e xenofóbica é um lugar-comum.

Antes de comentar o texto do Sr. Araújo, gostaria que vocês tivessem a oportunidade de lê-lo para que formem sua opinião antecipadamente, e somente depois vou tecer alguns poucos comentários.

Tomei a liberdade de deixar em negrito algumas passagens do texto, representantes do tal pensamento racista e xenofóbico do qual estava falando anteriormente (e aproveitei para colocar uma foto bastante interessante do presidente Evo Morales).

O JOGO DO GÁS BOLIVIANO
por André AraújO JOGO RUIM DO GÁS BOLIVIANO – A Bolívia viveu no Seculo XX do estanho, metal cuja produção atingiu seu pico antes da Segunda Guerra e caiu muito após 1960. A Bolívia salvou-se com o gás, descoberto na província de Tajira por brasileiros, no começo o Grupo Soares Sampaio (União Brasil Bolívia de Petróleo S.A.) que desenvolveu a exploração com as economias de 10.000 brasileiros que compraram suas ações.

A UBBP foi comprada pela Petrobras, que herdou os campos de San Antonio e San Alberto e construiu um gasoduto de 3.500 quilômetros para trazer o gás para São Paulo, no conjunto um investimento de US$8 bilhões. Todos os governos bolivianos de 1960 até 2003 respeitaram os Acordos de Roboré que davam ao Brasil preferencia e garantia de fornecimento de gás.

XENOFOBIA e racismo: lugar-comum na cabeça da classe média brasileira

 

Chega ao poder Evo Morales,um populista demagogo que foi eleito pela população aymará do Altiplano e contra o poder politico da região pós andina, a chamada Meia Lua, cinco províncias mais prosperas, desenvolvidas e exatamente onde estava o gás. Morales rompeu todos os acordos do gás, estatizou sem indenização os campos e investimentos da Petrobras,  simplesmente rasgou os tratados e triplicou os preços para o gás despachado ao Brasil.

Antes de Morales, a Petrobrás fez uma longa e cara campanha junto à indústria paulista para encontrar clientes para o gás boliviano que ela produzia. Ao fim dessa longa campanha, cerca de 1.500 industrias paulistas, especialmente de vidro, metais, cimento e cerâmica converteram suas caldeiras para gá, estava criado o mercado. MAS ESSE MERCADO DEPENDE DO PREÇO.

Os índios do altiplano tem merecida fama de teimosos. inconfiáveis e traiçoeiros. Morales, eleito com amplo apoio de seus companheiro ideológicos anti-americanos do Brasil, é hoje o maior inimigo do Brasil. Vai mandar uma delegação para ver se consegue arrancar mais preço do gás vendido ao Brasil. Os industriais de São Paulo tem reconvertido suas caldeiras para óleo combustível, o gás que era barato ficou muito caro e já não compensa.

Mas os preços do gás ESTÃO CAINDO no mundo inteiro pela entrada de Dubai como grande exportador e pela extração de gás de xisto nos EUA.

O Brasil já está pagando à Bolívia MAIS do que a Alemanha paga à Russia pelo gás. Morales não quer saber, com o risco de perder o mercado brasileiro, quer extorquis mais, afinal quanto mais o Brasil o alisa, mais ele despreza o Brasil.

Acaba de assinar um contrato com a GASPROM russa para explorar um novo campo perto dos brasileiros. Nem se dignou a oferece-lo à Petrobras, para que? Pode fazer o que quiser que o Governo do Brasil badala ele, não importa o que faça, afinal ele é companheiro.

O pior é que o Brasil hoje depende mais do gás do quem em 2003, por causa das usinas térmicas que estão operando 24 horas por dia por causa da estiagem nos reservatórios. A Bolívia despacha 29 milhões de BTU, poderia dobrar ou triplicar o despacho se fosse amiga do Brasil e o preço fosse razoável.

O preço do gás NÃO TEM A LOGICA do petróleo, este se venda na porta a quem der mais, o gás depende de um cano que o leve ao destino, Morales NÃO TEM A QUEM VENDER o gás que manda ao Brasil, o Brasil é o unico mercado a mão. Porque pagar mais, ele quer um novo aumento de 20%, já estamos pagando HOJE muito mais que os preços internacionais.

O Presidente Geisel foi premonitório quando no seu período presidencial parou investimentos na Bolívia, dizia que não confiava nos bolivianos, tinha suas razões.

O Brasil aparentemente prefere brigar com a Inglaterra por causa do Davi Miranda do que encarar Morales, é o retrato de nosso politica externa “”independente”.

Antes de mais nada, muito me surpreendeu ver tal post publicado no Blog do Nassif sem uma nota ou comentário sequer do dono do blogueiro. As ideias veiculadas no post são, aparentemente, incompatíveis (e até mesmo opostas) com as do autor do blog e, ao divulgar tal ideário, não é difícil que muita gente desavisada passe a associar as ideias racistas e xenofóbicas do post com as do próprio Nassif. Especialmente porque, ao que parece, o tal André Araújo é leitor assíduo do blog e, vez ou outra, tem alguns de seus textos publicados por ali.

Quanto ao texto propriamente dito, além do racismo explícito, percebe-se que o autor sai em uma clara defesa de grupos de industriais e empresários que, para Araújo, descobriram o gás na Bolívia e foram responsáveis pelos investimentos de infraestrutura que permitiram começar a exploração. A Petrobrás, ao ter comprado a UBPP, herdou a exploração nos campos que pertenciam àquele antigo grupo e investiu na construção daquele gasoduto de 3.500 km que destacamos, ao trazer o mapa da região para localizá-lo. Após esses investimentos, portanto, Araújo considera que as medidas de Evo Morales, ao nacionalizar os campos em questão e rever os preços dos contratos firmados anteriormente para valores de acordo com os interesses nacionais da Bolívia, trata-se de uma verdadeira traição ao Brasil. Um tapa na cara, ou pior, uma cusparada desse representante dos indígenas do altiplano boliviano na cara de todos os brasileiros.

Ora, nada de novo na argumentação de Araújo. Muito pelo contrário, ele faz uso da mesma lógica que orientava os portugueses em suas pretensões de manter o monopólio da navegação no Atlântico, fechando a exploração do Novo Mundo à franceses, ingleses e holandeses ainda no século XVI (Mare Clausum). Segundo essa lógica, os descobridores, independente dos interesses de todos os demais na região, tem direito ao monopólio de exploração da região e faz de sua descoberta o que bem entender, não importando os outros interesses em jogo (muito menos o dos locais que, no caso em questão, frequentemente eram eliminados).

Como se sabe, os acordos que tiveram como base essa argumentação, dificilmente conseguiram se sustentar, uma vez que os outros interesses acabaram derrubando os monopolistas que, por sua vez, tentavam explorar o máximo que puderem enquanto detinham os recursos sob seu poder. Os exemplos no decorrer da história são inúmeros e aqui posso citar o dos próprios portugueses que perderam seu monopólio de navegação no Atlântico com oMare Liberum; os bandeirantes (paulistas) que perderam o controle de “suas minas de ouro” para os portugueses através da Guerra dos Emboabas e novamente os portugueses, ao terem que aceitar a independência do Brasil, perdendo o controle de sua colônia num um momento de crise, no qual Portugal pretendia que o Brasil retornasse à sua condição de colônia antes da vinda da família real para o Rio de Janeiro.

Parentese histórico fechado e entrando mais especificamente no caso do gás boliviano, para os senhores como o tal André Araújo, que alegam “defender os interesses do Brasil” (entenda-se por Brasil os industriais paulistas que “descobriram” o gás boliviano e investiram na construção da infraestrutura de exploração do recurso na Bolívia), é inaceitável que, “depois de tudo o que fizemos”, a Bolívia (especialmente os índios do altiplano) tenha seus próprios interesses na exploração do recurso natural que, por acaso, encontra-se no subsolo de seu país. Para estes senhores, não importa sequer que a exploração do gás boliviano já tenha dado lucros exorbitantes, por mais de 30 anos, aos investidores que o exploraram nesse período. Do mesmo modo como os portugueses viam o Brasil antes de 1822, senhores com a mesma mentalidade desse André Araújo, acreditam que o Brasil precisa basear parte de seu crescimento e desenvolvimento na exploração predatória dos recursos bolivianos como se aquele país devesse, pelo fato de termos “descoberto” SUAS JAZIDAS de gás e montado a infraestrutura de exploração, fosse nossa colônia e tivesse que priorizar os interesses brasileiros em detrimento dos seus próprios.

Em suma, nada de novo debaixo do sol, apenas mais do mesmo que vem orientando os “exploradores” do século XVI, os facínoras do século XVII e os colonialistas e neocolonialistas do século XVIII e XIX. Com direito a uma saudade de Salazar que usava o mesmo argumento para defender porque Angola jamais poderia tornar-se independente de Portugal na década de 1960.

 

Fonte: Um Historiador

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