Xenofobia na Holanda – Tem problemas com gente da Europa Central ou de Leste?

Começo com uma citação. Preparem-se porque é preciso estômago: “Tem problemas com gente da Europa Central ou de Leste? Perdeu o emprego para um polaco, um búlgaro, um romeno ou qualquer outro europeu do Leste? Nós queremos saber…”

Esta pergunta tão marcada pelo instinto purificador e os direitos de raça lê-se num website colocado online pelo PVV, sigla holandesa para Partido da Liberdade que mascara o que, com pudor, é uma organização de “extrema direita” e, usando as palavras sem rodeios, é um bando neofascista.

Diz Geert Wilders, o fuhrer do partido, que o site é um êxito e já recebeu mais de 30 mil relatórios de concidadãos a delatarem que o senhor “x” oriundo da Polónia e a senhora “y”, que não pode precisar se chegou da Roménia, da Moldávia ou de Montenegro, tomaram o emprego que queriam, talvez varredor das ruas de Alkmaar, empregada doméstica de uma família de Haia, descarregador ocasional no porto de Roterdão.

A resposta de Wilders foi suscitada pelo comentário da comissária europeia da Justiça, a senhora Viviane Reding, única voz no âmbito das instituições europeias e holandesas a inquietar-se. Nem a Comissão Europeia de Durão Barroso nem o primeiro ministro holandês, o conservador Mark Rutte, disseram ainda qualquer coisa sobre este incitamento à delação e à xenofobia…

Barroso anda ocupado não com os tremendos problemas da Grécia mas sim com os misteriosos segredos da modernização da secagem do bacalhau que o obrigam a proibir os conhecimentos tradicionais aplicados no seu país para impor a metodologia vinda lá das civilizadas terras nórdicas. O sr. Rutte explica que não tem nada com o que fazem individualmente os partidos, provavelmente porque a continuidade do seu governo depende do apoio que há ano e meio recebe dos neofascistas.

Tenhamos a noção de que quando se fala do PVV não está em causa uma seita folclórica em que os membros gostam de se mirar ao espelho com fardas das SS ou se unem numa tertúlia nostálgica para celebrar o aniversário de Hitler. O PVV foi o terceiro partido mais votado nas últimas eleições, tem 24 deputados e, embora sem ministros, sustenta o actual governo holandês.

O assunto é muito sério. Desde o mal disfarçado partido do chefe do governo espanhol Rajoy às extremas direitas nórdicas, passando pela senhora Le Pen e uma tendência do partido de Sarkozy em França e pelo partido que governa a Hungria com maioria absoluta, para não ser exaustivo, o poder da extrema direita racista e xenófoba é uma realidade muito grave e que cresce na Europa ao mesmo ritmo da crise.

Como se vê pelo PVV, não estão em causa apenas os vários tipos de perseguição a africanos e muçulmanos mas também as expressões de conceitos nacionalistas restaurados dentro da Europa, assentes em pretensas superioridades civilizacionais e rácicas.

E quanto mais se mina o funcionamento democrático, como está a acontecer através consulado neoliberal da senhora Merkel, maior é o espaço de intervenção destes fenómenos.

 

Fonte: Jornal de Angola

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