Zona Leste de SP suja, infestada de ratos

Caiaque vira transporte em ‘Veneza’ suja, infestada de ratos na Zona Leste de SP

Ruas da Vila Itaim seguem alagadas depois de 48 horas de fim das chuvas.
Moradores têm de conviver com ratos, baratas e enxames de mosquitos

 

Os moradores de um bairro no extremo da Zona Leste de São Paulo desfrutam da desagradável sensação de viver em uma espécie de “Veneza” brasileira.

 

A “Veneza” da Vila Itaim, no Itaim Paulista, tem ruas alagadas, água suja, ratos, baratas, mosquistos e pessoas usando caiaques para saírem de suas casas.

 

A situação caótica na bairro da Zona Leste é consequencia das fortes chuvas que caíram na capital desde segunda-feira (7) à noite. Mais de 48 horas depois da chuva ter cessado, o nível das águas no Itaim ainda não diminuiu. E as águas não dão sinais de que vão escoar tão cedo. Bueiros e bocas de lobo entupidos ajudam a represá-la.

 

Por isso, a maioria já abandonou as suas casas, mesmo, em muitos casos, não tendo para onde ir. Caminhar com água pelo tornozelo, para poder retirar das residências os poucos pertences que restaram intactos, virou rotina. Em alguns pontos, como na Rua Agostinho Alves Marinho, a água chega até a cintura. Sacos plásticos amarrados às pernas servem de galochas. Os objetos se equilibram na cabeça. Calças e saias precisam ser arregaçados e calçados, levados à mão.

No caminho, é preciso desviar dos ratos que aparecem nadando repentinamente. Aliás, a reclamação mais ouvida pelo G1 nesta quarta-feira (9) foi em relação aos “ratos, muitos ratos”. A água parada virou criadouro de mosquitos e pernilongos. Enxames deles infestam os tetos das casas no final da tarde. E baratas saem por ralos e pias. Nestas condições, trabalho e escola, obviamente, são deixados de lado. Neste triste cenário, um caiaque se transforma em um meio de transporte valioso.

É um dos poucos pertences que tem serventia para o ajudante de confecção Cícero André Mourão Teixeira, de 35 anos, morador da Rua Abacatuaja. “Só de caiaque para chegar lá mesmo”, disse.

 

Há cerca de 10 anos, ele trabalhava em uma fábrica que construía este tipo de barco. “Fiquei com esse por causa de enchente. Fazia uns sete anos que não tinha uso”, contou. Agora a utilidade é dupla: quando não é utilizado para auxiliar os vizinhos, o caiaque faz a diversão da garotada, que se reveza para ‘navegar’ por mares nunca dantes navegados.

 

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O ambulante Manoel de Jesus, com ‘galochas’ improvisadas, consegue retirar o pouco que sobrou da casa alagada: DVDs piratas (Foto: Marcelo Mora/G1)


Os momentos de recreação não são suficientes para afastar o drama que estão vivendo. “Moro com quatro filhos, um de 15, de 14, de 12 e de 9 anos. A água subiu muito rápido. Só deu tempo de levantar o sofá. Perdi tudo”, disse Cícero. “Vou trabalhar como nesta situação?”, questionou.

O ambulante Manoel de Jesus, de 42 anos, apenas na quarta-feira (9) conseguiu retirar de sua casa, na Rua Aramaçã, uma caixa com DVDs piratas que costuma vender em Guaianazes, também no extremo da Zona Leste de São Paulo.

 

Enquanto a água não baixa, ele levou a mulher e os dois filhos para morarem na casa da irmã, na Cidade Nova São Miguel, em São Miguel Paulista. “Perdemos tudo. Estava sem vender todos estes dias. Consegui salvar estes daqui. Preciso ganhar a vida”, afirmou, tentando esboçar ânimo depois de quase perder as sandálias de dedo ao tentar vencer a enchente.

 

Junto com água, a revolta dos moradores segue represada. Eles alegam que agentes da Defesa Civil e da Subprefeitura do Itaim Paulista só apareceram no local na segunda-feira (7), quando as águas subiram. E depois não teriam retornado. “Disseram que viriam trazer cesta básica, colchão e cobertores amanhã (quinta-feira, 10). Estamos esperando”, relatou uma moradora que passa em direção à rua alagada, tentando, na pressa, manifestar a sua indignação.

Procurado pelo G1 para comentar o assunto, o do coronel Jair Paca de Lima, coordenador da Defesa Civil municipal, informou nesta quinta-feira (10) que há agentes no Itaim Paulista.

 

Indignação que só faz crescer quando se recordam que no início de todo ano recebem o carnê do Imposto Predial Territorial Urbano, o IPTU, que tanta polêmica tem gerado nos últimos dias, por conta do anúncio de um aumento de até 30% para as residências em 2010.

“Não foi o prefeito [Gilberto] Kassab [DEM] que disse que não iria cobrar IPTU de áreas onde tinha enchente? Quero só ver se não vão cobrar mesmo. Pode fotografar a rua. Eu moro na casa de número 26, aquela de portão verde”, disse o segurança Leonardo Souza Ferreira, de 24 anos, ao indicar a Rua Manoel Martins de Melo. 

“Neste ano eu paguei no total R$ 1.600. Tive de parcelar, porque estava com vários impostos em atraso. Mas, por ano, o valor cobrado é quase R$ 350, por aí. Estou com os carnês lá em casa. Isto é, se não estragaram com essa água toda”, lembrou, desconsolado.

Fonte: G1

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