PMs do caso Claudia Silva Ferreira se livram de responder ação na Justiça comum

Rodrigo e Zaqueu serão submetidos à Auditoria da Justiça Militar no Rio.
Dupla não estava no carro que arrastou mulher após operação em favela

por Gabriel Barreira no G1

Os policiais militares Rodrigo Medeiros Boaventura e Zaqueu de Jesus Pereira Bruno, réus no processo da auxiliar de serviços gerais Cláudia Silva Ferreira, assassinada em março, serão julgados pela Auditoria da Justiça Militar, e não pela Justiça Comum, de acordo com informações do Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ). Claudia Silva Ferreira foi baleada em uma operação no Morro da Congonha, em março, e arrastada por um carro da Polícia Militar. Rodrigo e Zaqueu participaram da operação.

A decisão foi tomada em outubro após pedido do Ministério Público para retirar a acusação de homicídio doloso — e é semelhante à que livrou os outros quatro agentes militares envolvidos no caso.

Ainda em março, o Bom Dia Brasil mostrou que a única vara militar do Rio tem mais de mil processos contra PMs. A sentença leva, em média, um ano para ser concluída. A juíza, à época, negou que haja favorecimento aos policiais.  “Eu não tenho nada a ver com militar, eu sou uma juíza estadual. E aqui com competência específica para os crimes militares”, ressaltou a juíza.

A dupla, que trabalhava no 9ºBPM (Rocha Miranda), já foi transferida para outros batalhões e voltou a trabalhar em funções administrativas. Eles participaram da operação na comunidade de Madureira na ocasião da morte de Cláudia, mas não estavam no carro que arrastou a moradora. Eles responderiam por homicídio doloso, mas o Ministério Público desistiu desta acusação. Com a desclassificação, o processo foi remetido ao procurador-geral da Justiça, que concordou com o pedido.

Viúvo tem medo
Ao G1, o viúvo de Cláudia, Alexandre Fernandes da Silva disse, em abril, ter medo de vingança. “Se a gente já tinha medo de ficar andando por lá depois do que aconteceu, agora muito mais. Não sei o que esses caras podem fazer soltos. Só sei que para lá eu não volto”, falou Alexandre ao saber que os PMs haviam sido soltos. “É um sentimento de impunidade. Eles podem matar, fazer o que for, que não são punidos”, desabafou à época. Ele foi para outra comunidade, em local não revelado.

Policiais somam 16 homicídios
Dois dos três policiais militares que foram presos por terem Claudia, de 38 anos, possuem registros de homicídio decorrente de intervenção policial. A informação foi divulgada pela Polícia Civil. O subtenente Adir Serrano Machado consta como autor em 13 homicídios, já o subtenente Rodney Miguel Archanjo possui três registros de homicídio e o sargento Alex Sandro da Silva Alves não possui nenhum registro como autor.

Entenda o caso
A Polícia Militar realizou uma operação no Morro da Congonha no fim de março. Segundo a PM, na chegada dos policiais houve troca de tiros. Os moradores negam que tenha ocorrido confronto com supostos traficantes. Cláudia foi baleada por volta das 8h, quase três horas depois da chegada dos policiais na favela, enquanto andava para comprar pão.

Cláudia Ferreira foi colocada dentro do carro da PM na Rua Joana Resende, no alto do morro da Congonha. A viatura seguiu até o Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, num percurso de nove quilômetros, que podia ser feito, em média, em cerca de 13 minutos.
O vídeo de um cinegrafista amador mostrou o momento em que o carro da PM seguia pela Estrada Intendente Magalhães. A porta traseira estava aberta e Cláudia foi arrastada no asfalto por 350 metros. Os PM param e ela foi jogada de volta no porta-malas.

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