13 de maio: comemorar o quê?

FONTEGeledés Instituto da Mulher Negra

Quase três décadas após o reconhecimento oficial da existência do racismo no Brasil por um presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, e duas décadas de intensificação de Políticas de Promoção da Igualdade Racial pelo governo Lula, vivemos um momento de retrocessos em que, mesmo com dados recentes apontando o aprofundamento das desigualdades raciais, autoridades do país elaboram um discurso público de negação dos efeitos do racismo na sociedade brasileira.

A campanha “13 de Maio: Comemorar o quê?” é uma iniciativa de colaboração entre US Network for Democracy in Brazil, Geledés Instituto da Mulher Negra e Afro-Brazilian Alliance (ABA) e tem como objetivo reafirmar a data da abolição da escravatura no Brasil como Dia Nacional de Luta contra o Racismo, como demarcado pelo movimento negro, já que a Lei Áurea não garantiu o pleno acesso aos direitos e à igualdade para a população negra – a qual vem enfrentando profundas desigualdades desde então.

Ao reconhecer a natureza generalizada do racismo cotidiano contra os cidadãos negros brasileiros, presente ao caminhar em público, fazer compras em mercearias, ir aos bancos e mesmo em suas residências, pesquisadoras e pesquisadores negros dos EUA resolveram compartilhar suas experiências racializadas no Brasil contemporâneo. O primeiro marco legal brasileiro que prevê punição para o crime de racismo, a Lei Afonso Arinos, surge a partir da experiência de Katherine Dunham, uma mulher negra estadunidense que experimentou o racismo à brasileira ao ser impedida de se hospedar em um hotel em São Paulo, no ano de 1950. Embora a lei Afonso Arinos tenha sido promulgada um ano depois, algumas elites brasileiras a usaram como uma oportunidade para alegar que o racismo não existia contra os negros brasileiros, mas que era o resultado de interpretações dos estrangeiros sobre as relações sociais no Brasil. O fato é que ativistas negros brasileiros já vinham se manifestando contra o racismo décadas antes desse incidente.

Neste sentido, este grupo de colaboradoras e colaboradores internacionais compartilham situações vivenciadas no Brasil para somar vozes às denúncias da população negra brasileira e, ao mesmo tempo, reafirmar que o racismo não é um fenômeno estrangeiro e que não deixaram de ser sujeitos racializados ao viver nesse país. O grupo escolheu compartilhar suas experiências pessoais não para ganhar centralidade no debate público brasileiro, mas sim para reafirmar as histórias de racismo que a população negra brasileira vem denunciando há mais de cem anos. Essas histórias permitem que os brasileiros vejam como pesquisadores negros americanos vivenciam esta nação, mesmo quando autoridades públicas afirmam que “todos têm a mesma cor” ou que “não há racismo aqui”.

Ao longo dos proximos dias de maio serão compartilhados 08 depoimentos de cidadãos estrangeiros em nossas páginas, as quais demonstram que a vida neste país não os distanciaram de práticas racistas e que no Brasil não há igualdade de tratamento entre os diferentes grupos.

 

Leia os depoimentos 

 

 

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