5 mapas e 4 gráficos que ilustram segregação racial no Rio de Janeiro

Um estudante de Geografia da USP tem chamado a atenção de internautas, jornalistas estrangeiros e professores de universidades brasileiras pelos mapas que criou mostrando a distribuição racial da população de capitais brasileiras – e que, no caso do Rio de Janeiro, por exemplo, ilustram o quadro de segregação social da cidade.

Por Camilla Costa Do BBC

Os pontos coloridos no mapa acima representam a quantidade de brancos (pontos azuis), negros (pontos vermelhos) e pardos (pontos verdes) que habitam todo o Rio de Janeiro, segundo dados do Censo de 2010, realizado pelo IBGE.

O trabalho detalhado foi feito pelo estudante de geografia Hugo Nicolau Barbosa de Gusmão, de 29 anos, morador da zona Leste de São Paulo. Mas a ideia não surgiu durante pesquisas sobre o Brasil, e, sim, sobre os Estados Unidos, para um trabalho da USP.

“Meu grupo estava fazendo um trabalho sobre guetos e desigualdade racial e eu fiquei de pesquisar sobre a realidade americana. Encontrei um mapa como esse sobre Chicago, que dá uma boa ideia da distribuição espacial das pessoas. Vim pesquisar para ver se tinha alguma coisa do tipo no Brasil, mas não tinha, então resolvi fazer”, disse à BBC Brasil.

Suas primeiras experiências foram com os distritos do Morumbi e de Vila Andrade, em São Paulo, mas a iniciativa do governo do Estado do Rio de Janeiro –que, após arrastões na capital em setembro, decidiu fazer bloqueios a ônibus para evitar que “jovens suspeitos” chegassem às praias da zona Sul – fez com que sua atenção se voltasse para a cidade.

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“Minha ideia inicial era fazer de São Paulo inteira, mas vendo as notícias no Rio dos bloqueios da polícia para revistar jovens, quis ver a composição racial da zona Sul. Em Copacabana e Ipanema quase só tem brancos e aí tem os morros no meio”, afirma.

“Quando esses mapas foram feitos nos Estados Unidos, houve um debate grande. Aqui não tivemos segregação institucional legal, mas a social existe. Minha ideia é mostrar que os negros têm menos acesso às partes mais ricas da cidade. Em um país em que 50% da população é negra ver bairros com 80% a 90% de brancos é uma prova de como a segregação econômica e social existe.”

Em quatro gráficos, ele também transformou as porcentagens de pretos, pardos e brancos na cidade do Rio, na zona Sul, no bairro da Lagoa e no Morro do Cantagalo, em grupos de 100 bonequinhos, para ajudar a visualizar melhor os números (veja abaixo).

Gusmão já era tecnólogo formado em redes de computadores, e diz que a experiência o ajudou a enfrentar o desafio de realizar os mapas. “Eu trabalhava com tecnologia, mas queria mesmo mudar de área. Quando vi esses mapas, me encontrei”, diz.

“Os softwares para elaborar mapa são muito usados na geografia, mas minha ideia é usá-los para denunciar a desigualdade, como se fosse uma cartografia com fundo social.”

Mas como é possível que os mapas mostrem onde está cada pessoa na cidade?

Gusmão diz usar como base os dados de setores censitários – as menores unidades territoriais estabelecidas pelo IBGE para coletar o Censo. O programa utilizado pelo estudante permite distribuir, em cada um destes setores dentro dos bairros, o número de pessoas que se autodeclararam brancos, pretos e pardos.

Capitais, polícia e universidade

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Gusmão publica seus mapas no blogDesigualdades Espaciais, e foi ali que eles começaram a chamar a atenção de internautas, jornalistas estrangeiros e professores de universidades brasileiras, que o convidavam para colaborações – até agora, nenhuma delas se concretizou.

“As pessoas começaram a comentar que seria legal ver do Rio inteiro e aí resolvi fazer. A ideia do blog era fazer de todas as capitais brasileiras e mostrar que isso não é só algo do Rio, levantar esse debate. O próximo que vou lançar é o de Recife, que já está pronto. E o de São Paulo virá logo em seguida. E já pensei em Salvador.”

Além dos dados sobre a distribuição racial nas capitais, ele planeja visualizações de dados sobre a violência policial em São Paulo e sobre estatísticas de prisão por tráfico e por uso de drogas.

Para o estudante, o surpreendente foi a falta de interesse de pesquisadores da própria USP em seu projeto.

“Nenhum professor de lá entrou em contato, foram todos de fora. Talvez não interesse à USP mapas desse tipo. Mas quero fazer um sobre a própria universidade, pegar as estatísticas da Fuvest e saber quantos brancos entraram. Acho que o mapa será impactante”, promete.

 

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