80% dos casos de violência sexual são dentro da família

Denúncias de abusos demoram anos por omissão de familiares

No fim do mês de junho deste ano, a polícia prendeu um homem suspeito de estuprar a própria filha de oito anos na frente da mulher. O caso, que deixou os moradores do Distrito Federal chocados, chega a ser comum nas denúncias que chegam até a DPCA (Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente). De acordo com a delegada-chefe da DPCA, Valéria Raquel Martirena, 80% dos casos de violência sexual contra criança acontecem dentro de casa, entre familiares.

Os abusos começam normalmente cedo e duram muitos anos, explica a delegada. Podem ocorrer entre pai e filhos, padrasto, irmãos e mesmo tios e outros parentes que não morem na residência.

— A grande maioria dos casos é dentro da própria família da vítima, o que dificulta uma denúncia. A mãe, que normalmente é omissa, não denuncia e acaba acobertando o agressor.

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A especialista em violência sexual infantil, psicóloga e mestre pela UnB (Universidade de Brasília) Sônia Prado diz que a mãe e outros familiares normalmente são coniventes por não tentar enfrentar a violência.

— Dentro da família, normalmente, há um complô do silêncio. E isso ocorre em casos de violência do pai, padrasto, irmão, primo, tio, seja quem for. Os familiares não falam nada porque não estão vendo ou simplesmente porque não querem ver aquilo que é tão doloroso de enfrentar. E a criança, vítima daquela agressão, acaba sempre achando que “deu mole” ou criou aquela situação sem perceber.

Em casos de violência dentro de casa, a vítima acaba pedindo socorro a alguém de confiança fora da família. São mais comuns os casos em que a criança ou adolescente procura alguém na escola, uma vizinha ou uma madrinha, por exemplo.

Essas pessoas, segundo a delegada, não devem procurar a família para conversar sobre o assunto. Devem, sim, recorrer aos conselhos tutelares, delegacias de proteção à criança ou mesmo instituições que possam ajudá-la a fazer a denúncia.

Problema social
Além de ser um crime comum dentro da família, a violência sexual contra crianças e adolescentes é mais denunciada em bairros de periferia. A Polícia Civil informa que investiga mais casos em famílias mais pobres.

A maioria dos casos do DF não ocorre no Plano Piloto, na área central de Brasília, mas nas outras cidades do Distrito Federal. Ceilândia, por exemplo, é recordista em número de denúncias — 48 só este ano, uma média de oito por mês e o dobro das denúncias no mesmo período do ano passado.

A delegada Valéria Martirena explica que casos de violência sexual seguem os índices de violência por região.

— Cidades que são mais violentas têm mais casos. No entanto, as maiores denúncias são sim nas regiões mais pobres. Não que a classe média e alta não tenha casos de violência, mas por uma questão social, de preservar a imagem da família mesmo, elas preferem procurar outro tipo de ajuda, como de psicólogos e médicos, por exemplo, antes de recorrer à polícia.

Mas, mesmo nos bairros mais nobres, as denúncias têm crescido, de acordo com os dados da polícia. Entre janeiro e maio de 2011, por exemplo, Brasília teve duas denúncias de violência sexual contra crianças. Este ano, no mesmo período, foram 25 denúncias.

Fonte: R7

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