A contribuição milionária do homem mais rico do país ao debate contra a desigualdade. Por Paulo Nogueira

O maior problema do Brasil é a desigualdade.

Por Paulo Nogueira Do DCM

Você leu isso várias vezes no DCM, um site apartidário que se bate tenazmente por um Brasil ‘escandinavo’.

Não existe nada mais corrupto e depravado que a desigualdade. A real corrupção é a iniquidade, “os extremos de opulência e miséria” para usar a grande expressão de Rousseau.

Para nós, igualitários, foi especialmente agradável ouvir a causa antidesigualdade ser defendida pelo homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann.

Num seminário internacional, Lemann disse que não haverá estabilidade no Brasil enquanto perdurar a desigualdade.

Escrevi algumas vezes que é um sintoma da miséria moral da imprensa brasileira nunca haver levantado tal bandeira. Isso expõe quanto os donos da mídia plutocrática nacional lucram com o quadro de iniquidade que marca desde sempre o país.

A fala de Lemann foi um marco no debate brasileiro. Nenhum empresário é tão admirado na comunidade de negócios do Brasil quanto ele, um homem discreto e frugal.

Em meus anos de jornalismo de negócios, Lemann foi de longe o personagem que mais me impressionou. Estive com ele e seus sócios repetidas vezes, sempre com proveito.

Quando Lemann diz alguma coisa, todos os executivos brasileiros param de falar e ouvem.

Ele mora na Suíça, de onde sua família é originária, e disse o óbvio: é uma sociedade muito mais feliz que a brasileira.

O Brasil só chegará ao grau de felicidade suíço, acrescentou ele, quando todos tiverem as mesmas oportunidades. Esta a verdadeira meritocracia.

Para tanto, assinalou Lemann, é imperioso que todos possam frequentar as mesmas escolas, as mesmas escolas e por aí vai.

É o modelo escandinavo.

Tal sistema é o oposto do thatcherismo que Temer pretende colocar em prática no Brasil se chegar ao poder e tiver força para fazer qualquer coisa.

O thatcherismo, amplamente adotado no mundo e inspiração clara da gestão FHC, levou a uma brutal concentração de renda contra a qual acabaria se erguendo, nos útimos anos, uma pujante onda igualitária internacional.

Temer e os que o apoiam – a mídia acima de tudo – vão na direção oposta. Querem um Brasil não escandinavo, mas vitoriano na disparidade de renda entre as classes.

Os programas sociais e os direitos trabalhistas têm que avançar para o Brasil ser menos desigual. Temer acena com o oposto.

Não poderia vir em melhor hora a manifestação igualitária de Lemann. Pela liderança que ele exerce entre os empresários e executivos brasileiros, a mensagem será ouvida, discutida e em larga medida aceita.

Ficará muito mais fácil defender, daqui por diante, um Brasil menos iníquo. Já não se poderá dizer que é coisa de comunista, esquerdista, socialista etc etc.

Lemann teve um momento de extrema lucidez ao clamar contra a desigualdade, e o Brasil como um todo só tem a agradecer.

+ sobre o tema

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação...

Presidente de Portugal diz que país tem que ‘pagar custos’ de escravidão e crimes coloniais

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na...

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na...

para lembrar

Podemos é um “grito de alerta no mundo contemporâneo”, diz Pepe Mujica

Em entrevista, o atual presidente do Uruguai “Pepe” Mujica afirma que...

“Pelas pessoas que vi sem dentes, sem ter o que comer…”

Por:  Fátima Oliveira Amanheceu chovendo no Paranã profundo, onde moro,...

A Convenção da OEA contra o Racismo

O reconhecimento de duas grandes injustiças históricas no continente...

Sucateiro, sucateiro… por Mãe Stella

Ilustração: Bruno Aziz Maria Stella de...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz um levantamento da cobertura vegetal na maior metrópole do Brasil e revela os contrastes entre...

Foi a mobilização intensa da sociedade que manteve Brazão na prisão

Poucos episódios escancararam tanto a política fluminense quanto a votação na Câmara dos Deputados que selou a permanência na prisão de Chiquinho Brazão por suspeita do...

MG lidera novamente a ‘lista suja’ do trabalho análogo à escravidão

Minas Gerais lidera o ranking de empregadores inseridos na “Lista Suja” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A relação, atualizada na última sexta-feira...
-+=