‘Não criei filho para morrer de bala’, diz pai de universitário em enterro

Com um casaco do Palmeiras e uma bandeira do time, o universitário Julio Cesar Alves Espinoza, 24, foi enterrado nesta quinta-feira (30), às 10h, no cemitério da Vila Alpina, zona leste de São Paulo. O jovem foi morto com um tiro na cabeça após perseguição policial na última segunda (27) na Vila Prudente (zona leste). O carro dele foi atingido por 16 tiros. “Não criei meu filho para morrer de bala”, dizia o pai, Julio Ugarte Espinoza, 63, aos prantos.

Por Marina Estarque Do Bem Paraná

Durante o velório, o pai ficou ao lado do caixão fazendo carinho na cabeça do filho. “Tudo que você precisou eu estava ao seu lado, agora você vai me deixar, meu filho?”, disse. Já a mãe, a dona de casa Veraldina Espinoza, 64, pediu justiça. “Os bandidos são eles [a polícia]. Foi uma covardia, mas a justiça vai ser feita. Quero que o caso do meu filho não seja impune, para que outras mães não passem pelo que eu estou passando”, disse. Ao lado do caixão, Veraldina pediu que o filho perdoasse os policiais. “Abre seu coração, não leve mágoa de quem fez isso com você. Perdoa. Mamãe vai ficar orando por você”, falou ela, com as mãos no corpo do filho.

Os amigos e primos levaram uma camiseta de time de futebol, que foi colocada no caixão. Julio costumava jogar bola com os amigos em Brasilândia, na zona norte da cidade. Na camiseta estava escrito: “Sem maldade. Amizade. Humildade”. “Foi um presente que a gente trouxe para ele”, conta o primo, Wagner Ribeiro, 28, que jogava bola com Julio.

DOAÇÃO DE ÓRGÃOS Veraldina contou que a doação de órgãos era um desejo do filho.

“Ele queria que fizesse isso. Que se acontecesse algo com ele, que podia tirar tudo, que não importava, o que importava era salvar outras vidas. Meu filho era uma pessoa boa”, afirmou. Veraldina disse que a doação foi um alento para a família. “Não sou uma pessoa egoísta. Assim eu posso saber que o coração do meu filho está batendo no peito de outro”.

O velório do estudante começou na noite desta quarta (29) por volta das 22h30. O enterro foi silencioso e terminou com uma salva de palmas. MUDANÇA EM CENA DO CRIME Testemunhas afirmaram à Corregedoria da PM e à Polícia Civil que viram policiais militares colocando o revólver calibre 38 no carro usado pelo universitário Julio Cesar Alves Espinoza. Moradores da região disseram que após o jovem ser baleado na cabeça, dois policiais entraram no Gol prata que ele dirigia e forjaram um disparo no para-brisa com a arma, levada por agentes que chegaram depois à cena do crime.

A informação foi incluída no inquérito que apura o caso, e o revólver, com a numeração visível, ainda era rastreado pela Polícia Civil até a noite desta quarta (29). Os dez PMs e quatro guardas-civis de São Caetano do Sul (Grande SP) envolvidos no caso disseram que Espinoza atirou contra eles ao fugir em alta velocidade para escapar de abordagem. Familiares dizem que ele voltava de um bico como garçom e fugiu com medo de ter o carro apreendido por dever multas. No boletim de ocorrência, PMs dizem ter dado oito tiros em direção ao carro.

E os guardas-civis, sete. A perícia detectou 16 perfurações na lataria do veículo e pneus -há um disparo no para-brisa, segundo a perícia feito de dentro do Gol para fora. Quatro PMs que participaram do caso estão afastados. A Corregedoria detectou em avaliação inicial que o relato deles tem falhas, como a falta de precisão ao informar de fato quantos tiros supostamente foram dados por Espinoza durante a perseguição, quais os horários e os locais. Além disso, será apurada a conduta dos policiais, que informaram ao centro de operações da corporação sobre a troca de tiros somente dez minutos depois do início do suposto tiroteio, quando dois carros da polícia teriam se chocado. Nesse momento, o universitário teria fugido pela contramão na avenida do Estado, na zona leste, enquanto atirava.

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